
Uganda se despede da atleta Rebecca Cheptegei, vítima de feminicídio
Familiares e amigos de Rebecca Cheptegei se reúnem em homenagem à desportista na véspera de seu funeral em Eldoret (Quênia)
Brian ONGORO
O funeral da desportista ugandesa Rebecca Cheptegei, que morreu depois de ter o corpo incendiado por seu parceiro, aconteceu neste sábado (14), em Bukwo (Uganda), na presença de centenas de pessoas.
Familiares e ativistas dos direitos das mulheres homenagearam Rebecca na sexta-feira no Quênia, onde a desportista vivia e foi assassinada, na cidade de Eldoret, no Vale do Rift.
Na passagem por Eldoret, ponto de partida até Uganda, dezenas de pessoas acompanharam o cortejo.
– Terceira desportista assassinada –
Rebecca é a terceira desportista a morrer no Quênia vítima de feminicídio desde 2021, depois de Agnes Tirop e Damaris Mutua.
O pregão de seu falecimento, no dia 5 de setembro, gerou grande comoção e indignação.
A desportista de 33 anos ficou internada por quatro dias e não resistiu aos ferimentos que sofreu no ataque de seu atacador, Dickson Ndiema Marangach, de 32 anos.
Marangach, identificado pela polícia uma vez que namorado de Rebecca, morreu na última segunda-feira em um hospital no Quênia, vítima de suas próprias queimaduras.
Neste sábado, familiares da desportista, vizinhos de Bukwo e dirigentes do mundo do atletismo participaram da última homenagem, a 380 quilômetros da capital, Kampala.
A cerimônia em sua memória começou às 10h00 (horário lugar, 4h00 em Brasília) na prefeitura da cidade.
Rebecca era “uma heroína”, declarou à AFP Bessie Modest Ajilong, representante lugar da presidência de Uganda.
O caixão, tapado com a bandeira ugandesa, foi portanto transportado para um estádio onde os residentes de Bukwo se despediram antes do enterro.
“Estamos muito tristes”, afirmou na sexta-feira Simon Ayeko, ex-marido de Rebecca, com quem tinha duas filhas.
“Porquê pai, tem sido muito difícil”, acrescentou Ayeko, que disse que ainda não deu a notícia às crianças. “Diremos a verdade pouco a pouco”.
Vários atletas, entre eles os quenianos Daniel Komen e Mary Keitany, foram a Bukwo para despedir de Rebecca Cheptegei, que terminou a maratona dos Jogos Olímpicos de Paris, disputada no dia 11 de agosto, na 44ª, posição.
– Epidemia de feminicídios –
“Ela ajudou muito a promover o atletismo até seus últimos dias”, disse Alex Malinga, que foi treinador de Rebecca quando ela era jovem.
Segundo um relatório da polícia consultado pela AFP, Dickson Ndiema Marangach entrou na propriedade da desportista enquanto ela estava na igreja com as filhas.
A maratonista vivia com a mana e as duas filhas nesta lar que havia construído em Endebess, localidade onde treinava, a 25 quilômetros da fronteira com Uganda, disse seu pai, Joseph Cheptegei.
Quando voltaram da igreja, Marangach ateou queimada na mulher na frente das filhas, de nove e 11 anos, segundo o jornal The Standard.
O relatório policial descreve Rebecca e Marangach uma vez que “um parelha que tinha discussões familiares constantes”.
Seu falecimento fez com que diversas organizações que lutam pelos direitos das mulheres no Quênia pedissem às autoridades que atuem contra a violência de gênero no país.
Um relatório do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Transgressão (UNODC) registrou 725 mulheres assassinadas em crimes relacionados com seu gênero em 2022, o número mais basta dos dados da filial, que se remontam a 2015.
No início do ano, milhares de mulheres se manifestaram na capital queniana, Nairóbi, e as organizações pediram ao governo para tratar o problema uma vez que “uma catástrofe pátrio”.