
Candidatura saudita à Copa do Mundo de 2034 reativa temor por condições de imigrantes
Foto de registro mostra trabalhadores estrangeiros em uma construção em Riade, capital da Arábia Saudita, em 16 de junho de 2022
Fayez Nureldine
A candidatura única da Arábia Saudita para sediar a Despensa do Mundo de 2034 reacendeu os temores sobre as condições dos trabalhadores imigrantes no país do Oriente Médio, com denúncias semelhantes às que ocorreram com o vizinho Espiolhar na preparação para a edição de 2022.
Fosir Mia deixou Bangladesh com a promessa de uma vida melhor porquê eletricista na Arábia Saudita, mas acabou em um trabalho para carregar material de construção, pelo qual recebia um salário miserável.
Posteriormente jornadas de 13 horas em uma obra nos periferia de Riade (capital do país), Fosir voltava para um quarto que compartilhava com outros 11 imigrantes.
Depois de retornar a Bangladesh, esse varão de 35 anos denuncia que sete dos 17 meses em que trabalhou no país do Golfo nunca foram pagos.
“Há muitas oportunidades, mas também um cimo risco de tolerar”, afirmou à AFP enquanto recordava porquê viu chefes de obra agredirem seus funcionários.
Salários não pagos, alojamentos insalubres, calor sufocante… as condições de trabalho dos imigrantes na Arábia Saudita são frequentemente denunciadas por defensores dos direitos humanos, que temem que, com a Despensa do Mundo, os casos de ataque no setor da construção se multipliquem.
A reino petrolífera, cuja candidatura deve ser oficialmente aceita em dezembro pela Federação Internacional de Futebol (Fifa), anunciou a construção de onze novos estádios, o que mobilizaria centenas de milhares de trabalhadores, segundo os sindicatos.
– “Escravidão ou trabalhos forçados –
A candidatura saudita representa uma “oportunidade” para realizar reformas sociais no país, de convénio com a ONG Equidem, com sede em Londres.
Se essas reformas não forem realizadas, “milhares de trabalhadores poderão morrer devido ao calor extremo ou às condições de trabalho perigosas” e “dezenas de milhares serão submetidos a condições de escravidão e trabalhos forçados”, alerta seu fundador, Mustafa Qadri. “Suas vidas serão literalmente destruídas”, acrescentou.
Porquê outros países do Golfo, a Arábia Saudita impõe aos estrangeiros um sistema de trabalho chamado ‘kafala’, que limita as possibilidades de mudar de ocupação ou ceder o país sem a permissão do empregador, apesar de algumas restrições terem sido flexibilizadas em 2021.
O vizinho Espiolhar, que foi escopo de críticas semelhantes durante a organização da Despensa de 2022, já se comprometeu a colaborar com a Organização Internacional do Trabalho (OIT) na reforma do ‘kafala’, além de introduzir salário mínimo e mais medidas em obséquio da saúde e segurança no trabalho.
Apesar dessas medidas, milhares de trabalhadores morreram no período anterior à realização do torneio, segundo a Anistia Internacional, embora fontes oficiais tenham reconhecido unicamente 37 mortes nas obras para a Despensa do Mundo.