“Quanto mais especialistas ESG tivermos, melhor será a tomada de decisão do CEO”

ESG Insights

“Quanto mais especialistas ESG tivermos, melhor será a tomada de decisão do CEO”

A taxa ESG não está em subida somente nas redes sociais e no debate público, está também dentro dos escritórios dos CEOs. Por mais que o termo tenha se popularizado um pouco antes da pandemia e ganhado força durante a emergência sanitária e climática, a discussão não é novidade e, muito menos, passageira.

Grandes empresas, imersas na lógica do capitalismo hiperacelerado, têm recalculado suas rotas e sido obrigadas a adotar práticas e políticas mais sustentáveis para impedir o colapso ambiental iminente.

Um estudo global realizado pela Ernst & Young (EY) em 2023 mostrou que 83% dos mais de 1.200 CEOs avaliados consideram que os riscos ESG e de sustentabilidade vão impactar o desempenho dos seus negócios nos próximos 12 meses de forma moderada, significativa ou muito significativa. No Brasil, mais da metade dos CEOs (52%) prioriza o investimento em iniciativas ESG, segundo levantamento
da EY.

Em entrevista exclusiva ao ESG Insights, Daniela Garcia, CEO do Instituto Capitalismo Consciente no Brasil, instituição que congrega pessoas e empresas para conectar negócios e impacto social, fala sobre porquê a agenda ambiental, social e de governança é vista pelas lideranças empresariais no Brasil. Garcia comenta em que o estágio o país se encontra e traz os principais desafios em implementar uma política ESG efetiva nas empresas. Leia a entrevista.

ESG Insights – Porquê você enxerga o envolvimento dos CEOs com a agenda ESG hoje no país? Você considera que ela recebe a devida valia?

Daniela Garcia –
A taxa ESG é uma taxa que chegou, mas não se encerrará. Não é uma vaga. É um objecto a ser tratado com muita urgência e muita habilidade pelas empresas. As emergências climáticas e seus efeitos estão aí para nos justificar de que todas as externalidades acabam sendo grandes problemas de todas as empresas. Obviamente, não só das empresas, mas de todos nós que estamos atuando de alguma forma.

“Trata-se de uma taxa atual, contemporânea, emergencial, e que deveria ser tratada porquê prioridade”

Acho que o Rio Grande do Sul é um exemplo de porquê a gente consegue entender mudanças climáticas e externalidades, o que isso tem a ver com o mundo dos negócios e o mundo da economia.
Trata-se de uma taxa atual, contemporânea, emergencial, e que deveria ser tratada porquê prioridade.

Temos regras e leis na secção ambiental e social, mas precisamos falar agora sobre o quanto esse caráter regulatório está no núcleo das atenções das empresas e o quanto essas empresas estão turbinando, melhorando, se adaptando, modelando, se autorregulando, para melhorar essas entregas dentro das letras da {sigla} ESG.

Sabemos que isso vem sendo cada vez mais introduzido na gestão, as lideranças brasileiras estão focadas nisso, mas penso que o tema precisa de diferentes formas de atenção. Para as grandes empresas, os reports
são obrigatórios e estão intrinsecamente ligados aos negócios e à gestão. São exemplos para as empresas de médio porte, que não têm essa obrigatoriedade, mas têm a demanda de se tornarem cada vez mais educadas, certificadas e organizadas para melhor mitigarem seus impactos negativos e entenderem a externalidade que podem gerar.

“As pessoas confundem abraçar qualquer tipo de taxa ESG com ações de sustentabilidade que parecem ser tendência, mas não são”

Os pequenos também precisam ser colocados nessa taxa porque são, de alguma forma, fornecedores dos médios e dos grandes, e precisam tratar desse objecto. A taxa, a cada dia que passa, entra mais na gestão das empresas e, logicamente, vamos vendo uma economia se moldar para isso, mas temos muito a caminhar ainda. As pessoas confundem abraçar qualquer tipo de taxa ESG com ações de sustentabilidade que parecem ser tendência, mas não são, e precisam olhar para isso com uma atenção cada vez mais plena.

ESG Insights – Quais são as principais dificuldades enfrentadas na adoção das metas e dos critérios ESG? O que falta para que eles sejam plenamente incorporados nas empresas?

Daniela Garcia –
Secção dessas lideranças precisa entender sobre o impacto, precisa ter a consciência de que as suas ações e seus negócios geram impacto. Isso vem antes de toda e qualquer tomada de decisão para a jornada de sustentabilidade ESG. Enquanto você, líder, não tiver consciência do impacto que você está gerando nas suas ações e na sua forma de gestão, você não vai mudar ou abraçar qualquer outra ação que tenha a ver com sustentabilidade.

Outra barreira que eu vejo é a questão do letramento sobre assuntos diversos. Se você vai abraçar a taxa de multiplicidade e inclusão – que é bastante relevante, principalmente no Brasil –, é importante entender mais sobre o tema, se letrar a saudação disso.

“É melhor fazer e ir introduzindo as diferenças com o orçamento que você tem, mas não largar o paquete”

Também existe o tropeço do orçamento. É uma taxa que leva tempo, tem custos, e tudo isso precisa ser adoptado pela gestão. Evidente, se você quiser abraçar todas as temáticas ao mesmo tempo, você vai onerar sua gestão e seu orçamento. O objetivo não é esse. Precisamos trabalhar com o que temos, atendendo às demandas de forma mais conceitual e orientada, para que consigamos tirar o melhor resultado provável das ações que estamos implementando. As pessoas falam “custa muito dispendioso, portanto não vamos fazer”. Não. É melhor fazer e ir introduzindo as diferenças com o orçamento que você tem, mas não largar o paquete.

“Quando as relações só são baseadas no lucro de curtíssimo prazo […], isso se torna uma grande barreira”

O último tropeço é essa corrida pelos resultados de curtíssimo prazo e no [resultado do] trimestre. Se você tem uma economia que ainda exige muito resultado em um limitado espaço de tempo, é óbvio que as relações com os stakeholders sofrerão. Você tem que remunerar com muita intervalo um fornecedor e reservar o moeda para sua operação. Isso já é uma relação que não deve ser construída. Você está ganhando às custas e à dor de um stakeholder.

Você tem que ampliar valores em um resultado para gerar mais possibilidade de venda a prazo para um cliente, mas você está o lesando em detrimento daquilo que você está ganhando, ou seja, quando as relações são só baseadas no lucro de curtíssimo prazo, você também tem o repto de combinar para as novas relações que devem ser construídas. Isso se torna uma grande barreira para a implementação de medidas que estão olhando para a sustentabilidade a longo prazo.

ESG Insights – Você acha que, de certa forma, as empresas carecem de consultores ou de especialistas na extensão, que possam guiar essa gestão para a mudança, facilitar o trabalho do CEO e contribuir para a construção de uma cultura da empresa, que seja mais voltada para a agenda ESG?

Daniela Garcia –
As empresas precisam ter conselheiros e mentores que tenham mais conhecimento sobre essas matérias, porque são eles que estão ao lado do CEO auxiliando na tomada de decisão. Quanto mais especialistas em sustentabilidade/ESG tivermos, melhor será a tomada de decisão do CEO.

Mas precisamos ter atenção aos superespecialistas. Existem pessoas que têm um saber bastante aprofundado, são experts em determinadas áreas, mas a gente não pode considerar que todo mundo sabe absolutamente tudo. É uma construção, uma material muito orgânica e maleável que vai se desenvolvendo ao longo do tempo.

Esses profissionais podem facilitar as empresas na questão do letramento, por exemplo. Não só na extensão do CEO, mas para dentro da empresa, criando núcleos ou coordenando comitês que vão gerar letramento e conhecimento para todas as pessoas internas. Assim, você tem toda a circulação da taxa dentro da empresa. ESG é cultura.

ESG Insights – Em que patamar você considera que o Brasil se encontra na taxa ESG, comparando com as experiências em outros países?

Daniela Garcia –
É difícil falar, porque não existe exatamente uma métrica mundial que avalia quem está mais avante ou não. O que existem são iniciativas em cada um dos continentes que podem nos orientar e nos fazer entender quais países estão mais avançados do que o outros.

“Estamos avançando e pretendemos ser mais conscientes, um país que saia na frente para discutir isso de forma integral”

Se olharmos para os reports
internacionais, a Europa está mais avançada, porque já construiu taxonomia, uma forma de report
que gera uma identidade, uma unicidade de dados das empresas europeias. Os Estados Unidos avançam, mas também têm um movimento anti-ESG por secção do mercado financeiro.

O Brasil se encaminha para uma discussão mais aprofundada sobre sustentabilidade, mas também temos uma particularidade muito dissemelhante dos demais: a taxa verdejante. Temos a floresta amazônica, por exemplo, que é taxa mundial. Somos um país com uma das maiores matrizes energéticas renováveis do mundo. Temos uma fluidez para falar sobre sustentabilidade em alguns aspectos que nos deixa ser, ou, pelo menos, parecer ser protagonista em algumas pautas. Estamos avançando e pretendemos ser mais conscientes, um país que saia na frente para discutir isso de forma integral.

ESG Insights – Se você pudesse dar um para um CEO que deseja ser mais consciente, estar mais de concordância com a agenda ESG, o que você diria?

Daniela Garcia –
Eu paladar muito de uma autora chamada Minouche Shafik, que também é diretora da London School of Economics and Political Science. No livro Cuidar uns dos outros
, ela fala que todas as empresas têm um novo contrato social e ele passa por entender que a sociedade é ou deveria ser o foco das empresas. Porque só uma sociedade saudável e apta, inclusive a consumir, é uma sociedade que manterá as empresas de pé.

“Alô, CEO, não se trata de abraçar só uma taxa ESG, se trata de abraçar o que está do lado extrínseco dos muros da empresa”

O que eu diria para um CEO que já se deu conta de que ele gera impacto é: além dos muros da sua empresa, quais são as desigualdades ou as externalidades que você pode trazer para dentro e emendar a rota? O que mais você está fazendo pela inovação e pela circularidade para gerar menos lixo? Quais portas você está abrindo para gerar mais oportunidades?

É da sociedade que vem o cliente, o funcionário, o fornecedor e todos estão intrinsecamente ligados. Alô, CEO, não se trata de abraçar só uma taxa ESG, se trata de abraçar o que está do lado extrínseco dos muros da empresa. O lado extrínseco deveria ser sua grande preocupação hoje.

Foto: Divulgação

Daniela Garcia, CEO do Instituto Capitalismo Consciente no Brasil

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