Há 50 anos, o Vasco era campeão brasileiro pela primeira vez; Gaúcho e Luiz Carlos ‘Tatu’ lembram a campanha histórica de 1974

Leonardo Young

Há 50 anos, o Vasco era vencedor brasílio pela primeira vez

Quinta-feira, 1 de agosto de 1974. Há exatos 50 anos, o Vasco da Gama conquistava seu primeiro título brasílio. Em um Maracanã lotado, com mais de 110 milénio pessoas, o Gigante da Colina superou o Cruzeiro por 2 a 1. O justador tinha craques uma vez que Piazza, Palhinha, Nelinho, Perfumo e Dirceu Lopes. No quadrangular final do torneio, que ainda contava com o Santos de Pelé e o Internacional, de Falcão e Figueroa, o Vasco era visto uma vez que ‘azarão’. 

Subestimada, a equipe dirigida por Mário Travaglini terminou com a mesma pontuação da Raposa: quatro pontos para cada lado. Depois da vitória sobre o Santos, em moradia, o Cruzmaltino empatou com os mineiros e com os gaúchos. Contra o Colorado, poderiam ter levantado a taça, mas deixaram o rival igualar no término, mesmo com dois gols de vantagem. Com o resultado, um jogo extra foi marcado para definir o vencedor. A partida deveria ser disputada em Belo Horizonte, por conta da melhor campanha universal do Cruzeiro. 

O mando foi virado, no entanto, devido a um deslize do logo vice-presidente do clube. Em 24 de julho daquele ano, os times se enfrentaram no Mineirão, com o placar terminando em 1 a 1. Furioso, o dirigente Carmine Furletti invadiu o campo para agredir o avaliador Sebastião Rufino, contestando um pênalti não marcado em Palhinha no último lance. A atitude foi apontada uma vez que violação do regulamento. Por consequência, o jogo desempate foi transferido para o Maracanã.

Apesar do nepotismo cruzeirense, os donos da moradia contavam com um grupo unificado e que, além de jogar em moradia, também tinha bons valores no plantel. Entraram em campo: Andrada; Fidélis, Miguel, Moisés e Alfinete; Alcir Portella, Zanata e Ademir; Jorginho Carvoeiro, Roberto Dinamite e Luiz Carlos ‘Tatu’. Os comandados de Travaglini fizeram uma partida segura na resguardo e conseguiram transfixar o placar logo aos 14 minutos, com Ademir. 

O responsável do gol entrou no lugar do meia Fernando Peres, que saiu lesionado do primeiro embate no Mineirão. Pai Santana, massagista do Vasco, ex-lutador de boxe e pai de santo, havia enterrado dois ovos no gramado para trazer sorte. Por acidente, Peres escorregou neles e se lesionou. No lugar do português, entrou Ademir, que fez valer o trabalho de Santana ao estufar as redes na decisão. 

Na segunda lanço, a Raposa igualou o placar aos 19, com um chutaço de Nelinho. Com o título ameaçado, o Cruzmaltino foi para cima e conseguiu marcar o segundo. Aos 31 minutos, Jorginho Carvoeiro recebeu lançamento de Alcir e estufou as redes do goleiro Vítor. 2 a 1, para o delírio da torcida no Maracanã. Os visitantes ainda tiveram um polêmico gol anulado, aos 43. Depois de muita reclamação, o avaliador Armando Marques invalidou o lance por impedimento. Dois minutos depois, ergueu o braço e encerrou a partida. Era o primeiro troféu pátrio conquistado pelo Gigante da Colina.  

Ao lembrar do elenco histórico, Luiz Carlos, 76 anos, hoje legista emérito, destaca a sintonia entre os companheiros: 

— Essa união que existia era muito poderoso. Dentro do nosso campo, a gente nem pensava em perder. Tinha que lucrar de qualquer forma. Era um time muito coeso, unificado, que conseguiu umas proezas que nem acreditávamos. No término de alguns jogos, a gente se olhava e dizia: ‘Caramba, a gente ganhou mesmo.’ Tanto os reservas quanto os titulares pensavam da mesma forma, sempre focados na conquista do título. — afirma o ex-ponta. 

O sobrenome foi cunhado pelo histórico locutor esportivo Waldir Amaral, que, certa vez, bradou: “Luiz Carlos parece até um tatu, cavando cada buraco em campo”. Revelado na Gávea, ele foi comprado a peso de ouro pelo rival da Colina durante o carnaval de 1969. Torcedor dito do Vasco, passou a maior secção da curso em São Januário, onde levantou as taças do Carioca (1970) e do Brasílico (1974). 

Na chegada, ele se machucou logo na estreia e ficou fora por seis meses. Lesão no quinto metatarso. Para voltar a jogar, precisou tirar secção do osso do fêmur e fazer um enxerto no pé, realizado pelo Dr. Arnaldo Santiago. Passou por dificuldades, mas conseguiu se readaptar. Em 72, deixou o clube por empréstimo. Voltou no ano seguinte a tempo de integrar o plantel que seria vencedor pátrio. 

— Quando o Tostão veio para o Vasco, queriam me incluir na troca com o Cruzeiro. Eu disse que não queria ser vendido para lá e morar em Belo Horizonte, logo fui por empréstimo de oito meses. Quando o Vasco foi jogar lá (em BH), o Travaglini me disse que precisava de um ponta-esquerda para formar o time em 73. Eu falei para ele que era também um tremendo goleiro, que eu podia jogar em qualquer posição, se ele quisesse. — recorda.  

Ausente do futebol desde que pendurou as chuteiras, em 1981, ‘Tatu’ cursou Recta, abriu escritório e trabalhou uma vez que legista da SUDERJ por quase vinte anos. Na campanha do título de 74, foi importantíssimo e contribuiu com quatro gols, inclusive um diante do Santos, na primeira partida do quadrangular final. Ele conta que não via os companheiros de time há anos. Mas, depois de um telefonema recente, decidiu comparecer ao encontro dos campeões. 

— Dessa última vez,  Gaúcho me ligou para convocar para a confraternização e eu fui. Quando peguei o retrato para olhar o time, percebi que seis tinham falecido. Senti que precisava comparecer enquanto ainda tinha tempo. Foi uma reunião muito boa, foi ótimo rever os amigos. Até brinquei com o Galdino; ele estava sentado e falei para ele levantar, porque sempre foi meu suplente naquele time. ‘Essa cadeira é minha’, brinquei com ele. Galdino jogava muito, era um grande ponta-esquerda, logo eu tentava sempre mostrar serviço. Aconteceu um tanto assim comigo, quando o Garrincha foi para o Flamengo e me falou: ‘Arruma outra posição que a direita é minha!’. Depois disso, passei a jogar pelo lado esquerdo. — completa. 

Outro personagem da conquista, Carlos Roberto Orrigo da Cunha, o Gaúcho, ex-jogador e treinador, era um dos mais jovens daquele elenco. Décimo segundo jogador do time, sempre entrava no percurso das partidas, principalmente para imaginar o meio-campo ou para substituir o capitão Alcir Portella. Procedente de Porto Satisfeito, ele deu os primeiros passos no clube de seu bairro, o Madureira, antes de ir para o juvenil do Grêmio. 

— Joguei lá até os dezesseis anos, quando o Tesourinha, um dos grandes da história do Vasco e melhor jogador brasílio de 1948, me chamou para trespassar do Rio Grande do Sul. Ele jogou com o meu pai no Internacional (Louzada, ex-volante) e, quando me viu em campo, falou que iria me tirar de lá. 

Primeiro, Tesourinha levou o jovem talento para um estágio no Inter, onde ele atuou ao lado de Falcão nos juniores. De lá, ofereceu duas oportunidades: ir para o Santos ou para o Vasco. Com o sonho de jogar no Maracanã, Gaúcho escolheu o Cruzmaltino. Chegou em 1970 e fez secção de uma geração vencedora na base, ao lado de Pastoril, Mazarópi, Fumanchú e Roberto Dinamite, um dos seus grandes amigos no futebol. 

— Nós subimos juntos para o profissional. A gente tinha uma amizade muito poderoso, uma maneira de jogar com seriedade também. Era uma coisa de irmão. Nós temos o mesmo nome, Carlos Roberto. Por conta disso, começamos a dividir o quarto na concentração. A gente ficou dez anos jogando e viajando juntos. Quando eu tinha término de semana livre, descia com ele na Avenida Brasil para pegar um ônibus para Duque de Caxias. Depois pegávamos outra transporte para chegar na moradia dele no São Bento e ficávamos lá, jogando esfera no campinho do bairro. — lembra o ex-volante. 

Bombeiro do Brasílico de 74 com 16 gols, Dinamite, com unicamente 20 anos, foi um dos grandes nomes da conquista. O atacante viria a se tornar o maior ídolo e goleador do clube (e da história do Brasileirão, com 190 bolas na rede). Ao lado de Gaúcho, ele era um dos ‘protegidos’ pelos atletas mais experientes. 

— Luiz Carlos, Renê, Moisés, Alcir, Alfinete, Zanata eram os mais experientes. Eu e Roberto éramos os moleques. A gente teve uma ajuda, uma proteção muito importante desses caras. Eu fui tomar uma cerveja com 26, 27 anos de idade, porque eles não deixavam a gente tomar nos encontros. Eles falavam que a gente tinha que percorrer e dar a vida no campo por eles (risos). Foi uma parceria junto com uma formação de responsabilidade. Foi um dos maiores grupos em que eu joguei. Era um time de muito trabalho, a definição do que é o Vasco. Ninguém tinha limite de entrega. — destaca. 

Hoje longínquo do futebol, Gaúcho já treinou equipes uma vez que Vasco, Atlético Mineiro, Americano, Madureira, America (RJ), além de trabalhar na Argélia e na Arábia Saudita. Atualmente, ele acompanha a curso dos filhos Thiago Cunha e Diego Brandão. O primeiro, facilitar de Rogério Micale na seleção sub-23 do Egito, e o mais novo, técnico do São Cristóvão (RJ). Com diversas passagens pela equipe do coração, ele sempre foi ponto de referência para alguns ex-jogadores que se distanciaram do ofício. 

— Eu segui curso de treinador, fiquei um pouco longe, mas sempre voltava ao Rio. Sempre fui um funcionário ligado ao Vasco. Trabalhei na base, saí do país, voltei. Mas, eu era um faceta concentrado, mais fácil de descobrir. Era uma referência no sentido de aproximar o elenco. Logo, mantive o contato com todos eles e nos reunimos recentemente. Vamos tentar nos encontrar todo ano para relembrar essa data. Alguns mudaram de cidade, de profissão. Às vezes você perde o contato. Também foi muito triste quando alguns faleceram, pessoas com saúde, que estavam ali ao seu lado.

 Dentre eles, está um dos heróis do título, o ponta-direita Jorginho Carvoeiro. Em 1975, menos de um ano depois do fatídico gol na final, ele descobriu um cancro em estágio avançado. A equipe estava na Colômbia, na concentração para enfrentar o Atlético Vernáculo pela Despensa Libertadores, quando sintomas mais graves surgiram. O jogador, no entanto, se recusou a operar e conviveu com a doença por mais alguns meses, longínquo dos gramados. Em 1977, com unicamente 23 anos, Jorginho faleceu no Rio de Janeiro. 

Outros nomes importantes, uma vez que Andrada, Alcir, Moisés, Fidélis e Roberto também se foram, mas permanecem eternos na memória da torcida. O elenco está na galeria dos times icônicos da história do clube, e alguns deles estão entre os maiores ídolos vascaínos de todos os tempos. 1974 foi o início de uma geração vitoriosa, que contaria ainda com muitos craques e levantaria mais troféus. 

Ao recordar o campeonato, Gaúcho considera o título de 74 uma vez que um feito único em sua curso. Ele atuou no Gigante da Colina por mais de uma dezena, marcando seu nome na história do clube. Apesar de ser vencedor por outros cantos, uma vez que desportista e treinador, a conquista que hoje celebra 50 anos continua sendo a mais privativo para ele. 

— Ali eu entendi o que era o Vasco. Quando eu cheguei, Tesourinha disse que se eu conseguisse vestir aquela camisa de verdade, eu nunca mais iria olvidar o clube. Quando ganhamos o título, eu entendi a dimensão daquilo. A torcida foi toda correndo do Maracanã até São Januário para festejar. Foi uma coisa de louco, inexplicável. Milhares de pessoas comemorando por dois, três dias direto. Foi uma coisa muito formosa. — afirma o ex-volante. 

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