A mente inquieta de Phil Moretzsohn

Redação GPS

A mente inquieta de Phil Moretzsohn

“Elzinha cá está se sentindo uma rainha”. Foi mal a cantora Elza Soares se descreveu por meio de um post no Instagram em 22 de fevereiro de 2019. Na ocasião, ela usava um enfeite de cabeça dourado minuciosamente bordado pelo brasiliense Phil Moretzsohn.

Nascido na capital federalista, viveu a puerícia no Rio de Janeiro, a puberdade em Brasília e, aos 16, voltou à Cidade Maravilhosa para estudar na escola de Belas-Artes da Universidade Federalista do Rio de Janeiro (UFRJ). A trajetória profissional de Phil é porquê um quebra-cabeça, o audiovisual foi a primeira peça. “Mostrei meu trabalho para uma renomada figurinista, ela se impressionou, me reconheceu porquê estilista e me indicou para a primeira peça de teatro”.

No entanto, a relação com a voga teve início ainda na puerícia. A avó paterna costurava, e bastava ela se ausentar para o curioso Phil se aventurar na máquina de costura, que hoje se tornou a leal escudeira de trabalho. Apesar da postura inicialmente relutante em passar o ofício para o único neto varão, a avó foi uma mentora importante.

“Meu primeiro figurino foi para uma peça que falava sobre a extinção dos escravos, em que eles eram retratados porquê monumentos de pedra que ganhavam vida. Fiz todo à mão em

moulage

[técnica que consiste em construir a roupa no corpo do modelo] e utilizei um tecido plástico prateado”. A diretora e bailarina Regina Miranda não acreditou quando soube da utilização da técnica. “Eu não sabia que eu estava fazendo uma coisa tão grandiosa, eu fiz no corpo porque era mais fácil”, reconhece.

Esse trabalho trouxe um grande reconhecimento e diferenciou Phil no mercado porquê profissional que não somente desenha, mas executa as próprias criações, mesmo sem uma graduação formal em voga. “Me tornei um fundador megalomaníaco que faz coisas diferentes”, destaca. A partir disso, o currículo passou a amontoar trabalhos e nomes de peso, porquê Paulo Gustavo, Elza Soares
, Xuxa, Iza, Clarice Falcão, Glória Groove, Fernanda Souza, Fabiana Karla e algumas das Angels da Victoria’s Secret no Carnaval do Rio de Janeiro.

Apesar da vocação, a mãe dizia que ele passaria lazeira. “Enquanto artista, porquê vou eu saber que fui promovido no trabalho? Quando associo meu nome às pessoas que admiro”, comemora. Aos poucos ele conquistou o reverência e reconhecimento da família. E hoje, aos 35 anos, transborda ao ouvir a mãe falar que tem um fruto artista.

“Sou muito lúdrico, muito criativo. Tenho déficit de atenção e sou muito doido, sou artista literal mesmo, aquele maluco. O que é genial para quem trabalha com geração. Ter essa loucura é incrível e me diferencia no meio”, observa.

Botticelli, Michelangelo, Alexander McQueen, John Galliano, Thierry Mugler e Tim Burton ocupam postos notáveis dentro da sua cabeça acelerada. “Eles criam coisas que tornam difícil inovar. Eu os uso porquê referência e me repto sempre a fabricar coisas completamente inéditas para também me colocar nesse lugar, mas é impossível”, constata.

Ele se reconhece porquê um artista surrealista, mas o mercado acaba limitando as concepções loucas que saem da sua cabeça. “Tenho uma origem de chapeleiro maluco. Sinto que vou atingir o vértice da minha curso quando atingir o vértice da minha loucura”, reflete.

Surreal de lindo

“Quem entra no ateliê fala: Phil, é porquê entrar na sua cabeça. É uma confusão que dá manifesto, mas é uma confusão”. Entre idas e vindas, Brasília continua sendo o seu porto seguro, onde está o seu refúgio criativo. O espaço é repleto de bonecos esculpidos à mão, telas, figurinos e Barbies com

looks

de Subida-Costura, que retratam a venustidade do caos criativo que ocupa a mente inquieta de Moretzsohn.

Dentre a lista de clientes que prestigiam o trabalho do conterrâneo estão Adriana Samartini, Duda Portella Amorim, Adriana Chaves e Paula Santana. “Ele é artista de todas as formas. O que eu mais admiro é a dificuldade do trabalho dele”, enaltece Adriana Chaves. “Expliquei o que eu queria e em dois dias ele me entregou exatamente o que pedi. Ele tem uma sensibilidade única”, afirma Adriana Samartini, sobre a cabeça dourada para sua estreia no Carnaval de Salvador 2024.

Phil se declara completamente enamorado pelo que faz, e garante que não saberia viver de outra coisa que não seja a arte. “Não fabricar me enferruja, me deixa triste e é por isso que eu costuro, esculpo, pinto, trabalho com visagismo, com cenografia, com direção de arte e estou sempre criando. Posso não ser um bom marketeiro, um bom financeiro para a minha empresa, mas na geração eu sou supimpa”. E finaliza: “não quero me tornar popular, quero ser objeto de libido. Quero a minha arte reconhecida, mas não faço questão de ser divulgado”.

@philmoretzsohn

*Material escrita por Marina Adorno para a revista GPS 39

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