Saiba como ter mais prazer no trabalho

É verosímil renovar o exalo pelo trabalho, unindo propósito, sota e um toque de leveza (Imagem: eamesBot | Shutterstock)

Saiba porquê ter mais prazer no trabalho

Hirayama, um varão solitário de meia-idade, desperta pela manhã com o som da vizinha varrendo a passeio. Ele recolhe o futon e a coberta do tatame, escova os dentes, faz a barba, rega as vegetação e segue para mais um dia porquê limpador de banheiros públicos em Tóquio. Para alguns, sua ocupação pode ser vista porquê desgastante e até subalterno. Mas o funcionário parece satisfeito.

Entre uma limpeza e outra, ele deixa evadir um sorriso, mormente quando observa o jogo de luz e sombra produzido pelo balanço das árvores ao vento. Traduzido pelo termo nipónico komorebi , a coreografia encenada pelas folhas sob o sol é única, já que não se repete exatamente da mesma maneira.

No próprio treino de limpar, Hirayama está sisudo e presente, diferentemente de seu colega, mais jovem, que rola o feed das redes sociais com uma das mãos enquanto usa a outra para esfregar a privada. Um dos segredos da felicidade que dele emana no trabalho parece ser justamente esse: sua presença no cá e agora.

Por meio do seu protagonista, o filme Dias Perfeitos (2023), de Wim Wenders , nos convida a revisitar a nossa rotina laboral, porquê também nossa postura e escolhas frente a ela. “É o mais próximo que já cheguei de fazer uma enunciação sobre a tranquilidade”, resumiu o diretor teutónico, em entrevista à Slant Magazine .

Um preço zero razoável

O ideal é que possamos dar o nosso melhor no campo profissional sem negligenciar outras áreas da vida, porquê família, saúde, lazer e práticas altruístas, orienta a filósofa Lúcia Helena Galvão, palestrante e voluntária na Organização Internacional Novidade Acrópole.

“Concentrar de forma excessiva as nossas energias em qualquer desses setores vai gerar desequilíbrio, que é sinônimo de doença, quer no projecto físico ou psíquico”, diz. Mesmo assim, somos tentados a nos ultrapassar. “Aceitamos pressões abusivas por conta de querermos destaque, promoção, reconhecimento , e pagamos por essas coisas um preço zero razoável”, ela alerta.

Resgatando o bem-estar no trabalho

Uma pesquisa feita com 20 milénio profissionais mostrou que o nível de bem-estar dos brasileiros no trabalho está aquém do considerado mínimo. O Brasil ocupa o segundo lugar em número de casos diagnosticados de burnout , doença ocupacional reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2022. Ou por outra, o país é líder mundial em prevalência de transtornos de impaciência e vencedor em depressão na América Latina.

Diante desse cenário desastroso, será verosímil resgatar o bem-estar em nossos ofícios e o prazer em exercê-los? Podemos, porquê Wenders , fincar uma bandeira branca e fazer frente a esses tempos em que nos confrontamos com a ditadura de prazos e as cobranças por rendimento que nos exigem para além das nossas forças? A professora Lúcia Helena ilumina a questão ao conectá-la com a procura por propósito e autodesenvolvimento: “o sabor de fazer o que fazemos é um desdobramento do sabor por sermos o que somos e o que estamos trabalhando para chegar a ser”.

No entender da filósofa, a saída é encontrarmos a motivação correta. “Isso cria um espírito uniforme de aperfeiçoamento em tudo o que fazemos. Assim não somos unicamente motivados por uma corrida competitiva em procura de maior destaque, o que acaba se tornando esgotante e desmotivante, porquê se vivêssemos numa guerra permanente por uma desculpa não muito justa ou valiosa.”

Nosso papel na revolução

Nosso histórico de autoritarismo, legado colonial e escravocrata estabelece um padrão de liderança hostil e vertical, aponta o psicólogo Alexandre Coimbra Amaral, responsável de A Exaustão no Topo da Serra: Uma jornada de reconexão com outros ritmos da vida e com o que é forçoso (Paidós), entre outros títulos. Ao assumir cargos altos, a tendência é que os profissionais reproduzam esse padrão, causando sofrimento a eles mesmos e aos outros. Resultado: o prazer se torna cada vez mais distante.

Precisamos fazer o esforço individual de nos reconhecer porquê vítimas disso e entender porquê a vida poderia ter sido melhor com ensino e liderança mais amorosas. A partir daí, é preciso acionar nosso protagonismo para incentivar uma revolução na cultura das organizações.

Desenvolver um envolvente de trabalho colaborativo, generoso e onde o poder tenha uma distribuição mais equânime são algumas das recomendações dos especialistas. Esse espaço em transformação também precisa reconhecer a preço da variação e da felicidade para a inovação e o lucro.

“Temos, em 2024, uma discussão sobre se a Lucidez Sintético vai roubar empregos, mas não podemos discutir trabalho remoto e semana de quatro dias. Essa conta não fecha e os recordes de burnout e depressão são prova disso”, diz Maíra Blasi, empreendedora e perito em porvir do trabalho. “Essas conversas difíceis precisam ocorrer entre governantes, empresas e sociedade social organizada para que mais pessoas possam repousar e gostar daquilo que elas fazem.”

“O adoecimento não está chegando só ao soalho da fábrica, mas a todas as esferas de uma empresa”, lembra Alexandre, que orienta: organize-se com as pessoas do seu setor, levante pontos para um trabalho mais humano e os ligeiro à chefia, mormente às mais sensíveis e que já tenham tido episódios que afetaram sua saúde mental.

Mudanças no mercado

São vários os sinais de resistência ao sofrimento no trabalho. A recusa das novas gerações a postos de chefia é um deles. “Isso obrigará, a médio prazo, uma revisão do que se exige de um trabalhador nesses cargos”, aposta Lúcia Helena Galvão. Outro caso é o quiet quitting , ou destituição silenciosa, quando as pessoas fazem estritamente as funções para as quais foram contratadas, sem maiores ambições de propagação.

“Ver o trabalho porquê uma forma de sustento, de uma maneira muito pragmática, também é um jeito de ser generoso e clemente com a gente”, observa Maíra Blasi. Para ela, “o sentido da nossa vida pode estar em outros lugares.”

Na equação por distinção laboral, o esforço individual é importante, mas não basta. Em um contexto profundamente desigual, o prazer no envolvente profissional, no Brasil, muitas vezes tem raça, classe, gênero, origem geográfica e orientação sexual definidos. As organizações privadas e estruturas públicas de poder têm um papel crucial para mudar essa história, mormente no que se refere a alterações nas estruturas sociais.

Investir no bem-estar de quem trabalha

As empresas podem, por exemplo, adotar metas mais sustentáveis, reduzir a jornada de trabalho, reconhecer o trabalho de desvelo e ampliar a licença à paternidade, orientam os especialistas. “É forçoso que as companhias invistam em programas de qualidade de vida, ofereçam suporte psicológico e promovam um envolvente de trabalho positivo”, afirma a médica Simone Promanação Souza, perito em saúde mental e bem-estar nas organizações.

Investir no bem-estar de quem trabalha, por sinal, está diretamente relacionado a resultados financeiros positivos, apontam estudos. Funcionários felizes são até 12% mais produtivos, descobriu a Universidade de Warwick, no Reino Uno. Eles também sofrem 50% menos acidentes de trabalho e são mais inovadores e leais, aumentando o lucro das empresas. Já a falta de engajamento de equipes custa 9% do propagação econômico mundial.

ilustração de planejamento de carreira
Além de trenar a originalidade, ser reconhecido e ter liberdade para satisfazer tarefas são fontes de satisfação (Imagem: eamesBot | Shutterstock)

Em procura de satisfação

Para se reconectar com o prazer no trabalho, Alexandre Coimbra nos convida a identificar as atividades que executamos com mais fluidez. Aquelas que fazemos sem ver o tempo passar, sabe? É o chamado estado de flow . “Assim as pessoas não unicamente realizam suas tarefas de maneira mais eficiente, mas também encontram maior satisfação e significado no que estão fazendo. A atividade em si se torna intrinsecamente prazerosa, a despeito do resultado”, esclarece Simone.

Podemos direcionar nossa curso a essas tarefas ou, pelo menos, aumentar a frequência com que as executamos. Aliás, mudanças dentro de uma mesma dimensão, muito porquê buscar novas habilidades e conhecimentos, também são formas de renovar o interesse pelo trabalho, acrescenta Márcia Miyamoto, coach e professora na The School of Life .

Providências simples também são valiosas, porquê se lembrar de respirar fundo e olhar para o firmamento. Isso pode desanuviar o peito em meio a atividades áridas e invocar a felicidade mais para perto. Técnicas de respiração, reflexão e pausas conscientes ao longo do dia são recomendadas para gerenciar o estresse e mourejar com a pressão.

“Para ter sabor pelo trabalho, faz-se necessário um envolvente com relações interpessoais saudáveis e possibilidades de o sujeito que trabalha poder colocar a sua marca, a sua identidade no fazer cotidiano”, agrega Lêda Gonçalves de Freitas, doutora em psicologia organizacional e do trabalho.

Além de trenar a originalidade, ser reconhecido e ter liberdade para satisfazer tarefas são fontes de satisfação. “Quando essas dimensões de prazer se apresentam, o enfrentamento das dificuldades acontece de forma mais tranquila”, completa Lêda.

Resfolgar é preciso

Na cultura judaico cristã, o sacrifício é a estrada indicada para a evolução enquanto o prazer se veste de vício. Coautora da Enunciação dos Direitos Descansistas , Maíra Blasi ressalta que, na sociedade brasileira, a teoria de “sacro-ofício” é intensificada. Palco de uma lei contra a vadiagem, em 1941, o país tende a ver com maus olhos sota e diversão.

“Mas só existe trabalho se existe sota. O sota está na legislação, é um recta imprescindível universal”, lembra, apoiada em diversas pesquisas que relacionam a pausa ao bem-estar, à felicidade e ao aumento da produtividade.

Apesar das evidências científicas e das legislações, continua sendo necessário lutar pelo recta de repousar em meio à pregação incessante por sermos produtivos. É preciso reservar espaço na agenda para isso, saber delegar tarefas, além de estabelecer e expedir limites, dizendo não quando necessário e desistindo da teoria de aprazer e atender a todos.

Também faz secção festejar as pequenas conquistas e milagres cotidianos, valorizando nossa rede de escora. “A gente também descansa um no outro. Se eu não posso encarregar em ninguém, estou sempre tensa e insegura”, aponta Maíra. “Com uma rede, consigo relaxar na crédito de que, se me cansar, vou ter alguém do meu lado para me estribar.”

Trabalhe porquê quem brinca

Outro ponto importante, mas subestimado, é o trebelhar. Em sua pesquisa “Trabalhe porquê quem festeja”, Maíra investiga o que podemos aprender com quem vive de festejar, porquê os trabalhadores do Carnaval, das festas de São João e de Parintins.

“O adulto para de trebelhar porquê se a vida virasse uma coisa muito séria”, observa. Resgatar a gracejo garante mais alegria no trabalho, proporcionando saúde e força para lutar por dias melhores. “Pessoas cansadas e tristes não têm robustez para fazer a revolução de que a gente precisa.”

Ao encontrar um papel com um “jogo da velha” deixado detrás de um vaso sanitário em um dos banheiros de que cuida, Hirayama aceita o invitação para a gracejo. Ele rabisca a sua jogada e volta a esconder o papel, à espera do lance do outro jogador, de quem recebe um “muito obrigado” escrito quando a partida chega ao término.

Felizmente, assim porquê a diversão, a formosura coexiste com os conflitos e dilemas da vida de todos nós. Inclusive, ela alimenta Hirayama no mais corriqueiro do seu cotidiano. Colecionador de fitas cassete, ele se inspira com música norte-americana dos anos 60 e 70 a caminho do serviço. Também gosta de ler antes de dormir. Aos finais de semana, pedala e relaxa em uma vivenda de banho.

“A formosura é o tipo de suspiro que a nossa psique precisa cada vez mais ter nesse mundo depressa e predisposto ao colapso”, defende Alexandre. “Tudo que te for belo, que te fizer suspirar, fizer a sua psique trovar, fizer você sorrir, ainda que por minutos, é uma experiência de formosura”, ele atesta.

Ufa! Sentiu o peito se alargar? Portanto, vamos reaprender juntos a sonhar e a gerar outros modos de viver e de trabalhar, porquê o protagonista de Dias Perfeitos em sua silenciosa revolução diária.

Por Martina Medina – revista Vida Simples

Jornalista. De volta ao presencial, se emociona vendo a trova saltar das conversas com os colegas, dos textos e dos dias.

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