Filme de terror realista e substancial

Fui ao cinema observar ao filme de terror “ A substância ”, onde o tema terrificante era a procura pela sublimidade. Parece estranho né? Mas acredito que tenha sido realmente uma ótima escolha para um filme, o horror que principalmente as mulheres sofrem diariamente somente por existirem .

Pode parecer excesso ou dramático, mas viver por tanto tempo em uma sociedade onde as mulheres são punidas – e até se punem – por serem quem são, por seguirem o curso originário da vida, sem receber a devida corroboração social, é realmente terrificante.

Demi Moore representa todas nós ao envelhecer e ter que mourejar com a perpetuidade de sua existência num mundo em que esperam que você tenha 23 anos pra sempre, o corpo, o colágeno, as formas…

Quando isso passa, você simplesmente é descartada , as cortinas se fecham e você não é digna de conquistas profissionais, pessoais. Ultrapassada: esse é o termo que usam para te definir a partir desse momento, a idade chega para as mulheres porquê uma morte antecipada e a corrida para mostrar valor e pelo pertencimento nunca cessa.

Levaram a objetificação feminina às telas com um horror corporal tão distópico que, aos meus olhos naquela sala, só ilustrava o que o feed mostra diariamente.

Uma ironia visual feita pra germinar, provocar um desconforto definitivo que é real não mora na ilusão da produção cinematográfica, mora no subconsciente social, nos hospitais lotados de projetos de melhor versão, cestas de farmácias lotadas de tratamento visual para satisfazer o telespectador real.

A dismorfia corporal ocupando 90% dos cérebros femininos em procura da tão sonhada sublimidade que para além de impossível, não se é provável descrever de tão surreal.

O que vemos na tela de “A substância” é o desespero feminino para SER o que esperam de nós e que acreditamos que também devemos querer a qualquer dispêndio, a vida banalizada e resumida ao falso glamour do manequim 38 e a pele lisinha, mesmo que nos custe morrer em vida ou literalmente perder a vida .

Para mim, um filme de horror corporal que poderia ter o título de fundamentado em fatos reais dadas as proporções que a sublimidade e a distorção de melhor versão tomaram espaço nas nossas vidas.

Um relato real do quanto nos sujeitamos a máxima da dor e toxicidade para depreender o “paixão” , o “ libido” a “validação externa” , uma corrida incessante pela perpetuação do EU plástico .