Psicanalista lembra o amigo Ayrton Senna: ‘É um herói autêntico’

Reprodução/redes sociais

Dr. Jacob Pinho Goldberg era companheiro pessoal de Ayrton Senna

Os 30 anos da morte de Ayrton Senna
, completados nesta quarta-feira (1º), desperta curiosidade a saudação da mito do automobilismo brasílio. Os três títulos na Fórmula 1
, as fantásticas exibições nas pistas e seus relacionamentos com personalidades da mídia são de conhecimento público. Mas e quanto às individualidades de um dos maiores ídolos do esporte mundial? Para entender melhor quem foi Ayrton Senna da Silva e seu impacto a nível pátrio, o Portal iG
conversou com o doutor Jacob Pinho Goldberg
, psicanalista e companheiro do piloto por longos anos. 

Para o Dr. Jacob Goldberg, a munificência era uma das principais características de Ayrton Senna. “Eu me lembro de uma entrevista que o Ayrton deu para a prensa internacional, tinha jornalistas do mundo inteiro. Eu mal tinha começado a trabalhar com ele e estava no fundo do salão assistindo à entrevista, e um jornalista nipónico fez uma pergunta para o Ayrton”, iniciou o psicanalista de 91 anos.

“O Ayrton olhou para o fundo do salão e pediu para que eu fosse até a mesa para responder. Ele disse: ‘Quem vai responder é o professor Goldberg’. Eu gostaria de deixar simples que leste tipo de compartilhamento da munificência desta popularidade dele era o elemento transformador que caracteriza a diferença entre um ídolo falso e o herói real
. Na minha opinião, de longe, é o caso do Ayrton Senna”, continuou. 

Emocionado com a data emblemática, o psicanalista acredita que esse traço foi fundamental para edificar a idolatria que os brasileiros têm com Ayrton Senna. “Do lado dele, você se sentia importante. Não era ele que queria transmitir a imagem de importante. Ele emprestava a valimento dele para as outras pessoas. Ao mesmo tempo, ele conseguia transferir leste significado de grandeza para o patriotismo”, declarou o também psicólogo, legisperito, assistente social e jornalista brasílio. 

Identidade pátrio

O Dr. Jacob Goldberg auxiliou Senna na elaboração do projeto Senninha, revista em quadrinhos lançada justamente em 1994 e que contou com 28 HQs. Segundo o psicólogo, a teoria surgiu com um objetivo do tricampeão mundial: deixar seu legado para os seus futuros filhos. 

“O Senna queria passar um legado biográfico e histórico para os filhos que ele pretendia ter. Logo, começamos a discutir sobre essa teoria. Eu me lembro, nitidamente, depois de algumas horas de conversa, dele saindo pela porta e dizendo: ‘Eu quero imaginar que seja uma historinha para as crianças’. O melhor formato, em uma epílogo que pensamos, seria a geração de uma revista de quadrinhos. Posteriormente, uma equipe competente coordenou o projeto”, declarou. 

Apesar de não ter conseguido ter filhos, Senna deixou um legado para uma pátria. Levante, ao menos, é entendimento do psicanalista. “A figura do Ayrton Senna, no Brasil, fica com a noção que os norte-americanos têm de país fundador de uma identidade pátrio. São as grandes figuras icônicas com as quais o povo se identifica. Nós, no Brasil, temos muito poucas. Eu trabalho com leste material do inconsciente coletivo do brasílio nos últimos anos… Eu acho que temos poucas figuras, muitas delas, na minha opinião, polêmicas”, pontuou.

“Poucas têm o consenso, praticamente unânime, da opinião pública, que é fundamental. É o que caracteriza a legado cultural e emocional da carismática do Ayrton Senna. É turbinar as emoções da sociedade por inteiro, independente de qualquer condição”, acrescentou. 

Sem terror da morte

Uma das cenas icônicas antes da morte de Senna, no GP de Ímola de 1994, na Itália, mostra a mito das pistas com um olhar distante, alguma coisa que não era habitual para o focado esportista. “Para mim, é um olhar para o horizonte, que deveria se transformar em um dos símbolos nacionais. Ele estava olhando o porvir”, resumiu Goldberg. 

Segundo o psicanalista, o olhar não demonstrava terror de morrer em um termo de semana já marcado por tragédias — além de um grave acidente envolvendo Rubens Barrichello, o GP de Ímola também marcou a morte do austríaco Roland Ratzenberger. 

“Uma vez, Senna me disse: ‘Quando você está a 300km/h, você transcende o terror da morte’. É um terror generalizado na nossa sociedade. São poucas as pessoas que encaram a morte com naturalidade. Um sujeito, para encarar a morte com naturalidade, na minha opinião, tem que ter consciência do ser humano que merece a vida eterna. Era o que acontecia com Ayrton Senna”, continuou. 

Senna era direita ou esquerda?

Ayrton Senna levantando uma bandeira do Brasil
JEROME DELAY / AFP

Ayrton Senna levantando uma bandeira do Brasil

Ao usar o cimeira com as cores do Brasil e usar a bandeira pátrio para comemorar suas vitórias, Ayrton Senna era indiciado de concordar a direita. Recentemente, com a polarização política no país, uma polêmica ressurgiu nas redes sociais. No entendimento de alguns internautas, caso estivesse vivo, o tricampeão seria apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), assim uma vez que Nelson Piquet, por exemplo. 

Segundo o companheiro pessoal de Senna, o piloto não representava nenhum lado político. “Ele não era de esquerda, direita ou de núcleo. Para mim, ele era o que eu denomino uma vez que humanista. Isso é ao contrário desta demagogia que muita gente que acha que o mistagogo, que é o demagogo com o místico, é popular. O mistagogo é o sujeito que explora a pobreza social, a miséria, para tentar se transformar em um enviado de Deus. O Senna é exatamente o oposto disso”, afirmou. 

Para Goldberg, a polêmica “é uma tentativa de apequenar” Senna. “O Brasil não pode ser iconoclasta, e existe, infelizmente, uma tendência política muito grande de iconoclastia, que é tragar seus próprios ídolos. Um povo não pode fazer isso. Se você devora seus ídolos, você fica órfão de valores reais. E, ao invés de valores reais, entra a presença absoluta do ódio. Ele era um sujeito contente, de pulsão produtiva. Ele amava a vida e amava fazer com que as pessoas se encantassem com a paixão que ele tinha”, complementou. 

Apesar de recusar rotular Senna uma vez que de direita ou de esquerda, o companheiro afirmou que um presidente se aproximou da figura da mito do esporte pátrio: Juscelino Kubitschel

“Porquê acompanhei de perto quase todos os presidentes da República, tem um presidente que o Brasil teve que, se você me perguntar, politicamente, quem é que eu aproximo o Ayrton, seria o Juscelino Kubitschek. Essa aproximação da imagem dos dois… É porque são figuras fundamentais para edificar uma psicologia do brasílio. Eu não tenho dúvidas. No enterro do JK também havia uma música relacionada a esta teoria de vida e alegria. É isso! É o que Ayrton transmitia enquanto se embrulhava na bandeira”, finalizou.

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