Debate em SP é marcado por bate-boca entre Boulos e Marçal e falta de propostas concretas

Com muro de duas horas e meia, o segundo encontro entre candidatos à prefeitura de São Paulo nas eleições de 2024, realizado na manhã desta quarta-feira, 14, pelo jornal O Estado de S. Paulo, em parceria com o Portal Terreno e a Instalação Armando Alvares Penteado (FAAP), foi novamente marcado por ataques pessoais, provocações e deboches.

O formato de duelo, que, dissemelhante do primeiro encontro promovido pela Band na semana passada, favoreceu a discussão de propostas, serviu aos candidatos para mostrar o que pensam sobre os problemas da cidade. No entanto, entre os planos e promessas feitos, faltaram medidas práticas sobre uma vez que colocá-las em ação ou um aprofundamento dos diagnósticos, e sobraram trocas de acusações.

Ao termo do programa, a deputada federalista Tabata Amaral (PSB) e o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) saíram com avaliações positivas, enquanto o deputado federalista Guilherme Boulos (PSOL), apesar da desenvoltura, perdeu espaço para as provocações do influenciador Pablo Marçal (PRTB), que novamente ocupou o papel de franco-atirador. Os candidatos Marina Helena (NOVO) e José Luiz Datena (PSDB) ocuparam papéis secundários.

No primeiro conjunto, o tema foi instrução, com perguntas das jornalistas do Estadão Renata Cafardo e do Terreno Luciana Pioto. Primeiro a falar no debate, o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) abordou a superfície, destacando a entrega de tablets aos estudantes da rede municipal e defendendo o uso da tecnologia no ensino público. Em seguida, a candidata Marina Helena (NOVO), dupla de Nunes no primeiro confronto, afirmou ser em prol da proibição de celulares na sala de lição, considerados por ela um “risco”.

No tempo livre do embate, porém, a candidata do NOVO mudou o tema para questionar o prefeito sobre o programa da Secretaria Municipal da Saúde, o Saúde para Todes, citando que a medida seria “ideologia de gênero”. “A prefeitura atual está enxurro de loucuras da esquerda”, disse ela. O candidato à reeleição lamentou o tom do debate e não deu nenhuma enunciação sobre o ponto.

A segunda dupla a debater o tema da instrução, formada por Pablo Marçal (PRTB) e Tabata Amaral (PSB), começou com o influenciador ignorando a discussão para questionar a candidata sobre a escolha de vice-prefeito. Marçal quis sobresair que era o único candidato com uma vice mulher e negra, Antonia de Jesus.

Tabata, que tem uma vez que vice a professora Lúcia França (PSB), ressaltou sua escolha, rebatendo que o enfrentamento ao racismo não se limita a uma escolha individual de vice, e pediu “perceptibilidade emocional” do candidato, ironizando-o por ter ignorado o tema e se perdido com as manifestações da plateia. O conjunto também foi marcado por Marçal afirmando que era “o professor mais muito pago do país”, provocando a plateia do Teatro FAAP, onde foi realizado o debate.

Bate-boca entre Boulos e Marçal

O momento mais tenso do debate foi protagonizado no segundo conjunto por Marçal e o deputado federalista Guilherme Boulos (PSOL), que foi o principal claro do influenciador ao longo do debate. O bate-boca começou quando o candidato do PRTB apresentava suas propostas para implementação de teleféricos e de construção do “maior prédio do mundo” na capital paulista.

Ao perfurar seu tempo, na sequência, Boulos relembrou a provocação feita no embate da semana passada, sobre a pena criminal de Marçal, autuado a 18 anos por rapina qualificado por participação em golpes cibernéticos, e que acabou prescrita. “Marçal, você não deveria nem estar cá porque no último debate você disse que deixaria sua candidatura se eu mostrasse a sua pena uma vez que ladrão de banco, mas você mais uma vez mostrou que não tem termo”, afirmou o psolista.

O influenciador contestou, alegando que o deputado já havia sido recluso três vezes. Boulos foi suspenso em 2017 durante uma reintegração de posse de uma ocupação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), onde atuou uma vez que coordenador. Ele foi liberado no mesmo dia. O candidato do PRTB também criticou os aliados do contendedor, uma vez que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“Você está me confundindo com o quadrilheiro chamado Luiz Inácio Lula da Silva, José Genoino, Zé Dirceu. Você que é o PT Kids cá de São Paulo. O PSOL é uma grande merda nessa eleição. Não tenho pena, eu trabalhei para um rosto, consertando computadores. A grande verdade é: por que você não pediu a sua música no Fantástico, já que foi recluso três vezes?”, provocou.

Na réplica, o candidato do PSOL chamou Marçal de “mentiroso compulsivo”. “Você é o Padre Kelmon desta eleição”, acrescentou. O influenciador tirou uma carteira de trabalho e a apontou para Boulos. “Eu sou o Padre Kelmon, eu vou exorcizar o demônio com a carteira de trabalho. Você nunca vai ser prefeito de São Paulo enquanto houver homens nesta cidade”, disparou o candidato do PRTB.

Os dois continuaram na troca de ofensas, que chegaram a “aspirador de pó”, “mentiroso compulsivo”, “pessoa rebaixada”, “psicopata” e “mau caráter”. Mesmo em seguida o termo do tempo, quando ambos tiveram que deixar o palco e voltar aos seus assentos, o embate seguiu. Vídeos que circulam nas redes sociais mostram que Marçal continuou apontando o documento para o psolista, que, em oferecido momento, já sentado, tentou tirar a carteira que o político exibia. A produção do programa precisou intervir para impedir a perpetuidade do embate.

Planejamento urbano e transporte

O debate seguiu com o tema do planejamento urbano, que trouxe à tona a visão dos candidatos sobre o transporte público, habitação e a preparação da cidade para as mudanças climáticas, principalmente a contenção de desastres uma vez que o ocorrido no final de abril no Rio Grande do Sul.

A primeira dupla, Marina Helena e Boulos, focou na discussão de propostas diante da ocorrência de eventos extremos, e houve divergência. Para a candidata do NOVO, é preciso um programa de habitação para retirar as pessoas de áreas de risco, enquanto o candidato do PSOL defendeu a adoção de projetos de “cidades esponja”, usados para prevenir tragédias, uma vez que a gaúcha, ao tornar o solo menos impermeável e dar eficiência ao escoamento de chuva.

Durante o debate, o apresentador José Luiz Datena voltou a guiar suas críticas ao atual prefeito. Por exemplo, no momento em que fez dupla com Marçal e que teve uma vez que tema o transporte público. Questionado, Datena declarou não ser contra a tarifa zero nos ônibus aos domingos, mas acusou a atual gestão de promover uma gratuidade “mentirosa”, que depende de subsídios bilionários.

A queixa não foi comentada pelo candidato do PRTB, que usou o tema para voltar à sua proposta de teleféricos pela capital paulista. No mesmo conjunto do planejamento urbano, houve outro momento tenso, quando Tabata acusou Nunes de “roubar e não fazer”, sugerindo ao prefeito que adotasse a frase uma vez que slogan. A sátira, segundo a candidata do PSB, é que a atual gestão não cumpriu várias metas do procuração.

Assim uma vez que no debate da Band, a deputada também voltou a reportar investigações das quais o governo é claro e acusou a prefeitura de ter ampliado o número de obras sem licitação na cidade. “O que o senhor acha de usar agora o seguinte slogan? ‘Rouba e não faz’”, disparou Tabata.

Sem tempo para responder em seguida, o candidato à reeleição pediu recta de resposta e foi atendido pela produção do debate. No tempo extra, já no quarto conjunto, Nunes disse ser prática da candidata do PSB “mentir”. “Tanto que a senhora foi a um programa e mentiu que votou em prol do aumento de pena para criminosos. A senhora fala de segurança e a senhora mentiu. Estava na Câmara e não votou em prol do aumento de penas”, disse o emedebista.

Já fora do palco, Tabata reagiu, afirmando ser “peta” as afirmações do prefeito. “Você precisa ter honestidade e humildade para reconhecer o trabalho das pessoas”, prosseguiu Nunes.

Economia e segurança pública

A gestão do atual prefeito também foi claro de críticas nas áreas da economia e segurança pública. O candidato do PSDB declarou no embate contra Nunes que São Paulo tem hoje uma “prefeitura rica com um povo pobre”.

“Se a economia tivesse trilhado tão muito nas suas mãos, a gente não teria três milénio garotos morando nas ruas. A gente não teria tanta gente desassistida na periferia da cidade se o senhor tivesse feito seu trabalho com sua equipe”, contestou Datena. O apresentador seguiu nas críticas, afirmando que a política econômica do governo Nunes é “completamente furada, que tem privilégio para gente rica e que massacra o cidadão de baixa renda. Parece que o senhor quer exterminar o cidadão de baixa renda e privilegiar o rico”, acrescentou.

Ao que Nunes respondeu, dizendo-se permanecer “triste e preocupado quando as pessoas, para querer chegar a um objetivo, só falam mal da cidade”, respondeu o prefeito.

O governo municipal também foi claro de contestações no campo da segurança pública. Tabata e Boulos mencionaram a investigação do Ministério Público de São Paulo sobre a participação de agentes políticos em esquema suspeito de vincular empresas de ônibus com a organização criminosa PCC.

O candidato do PSOL prometeu “passar a limpo” os atuais contratos de concessionárias de transporte. Já Tabata, dupla com o deputado no último conjunto do debate, disparou diretamente contra o prefeito. “O que não farei é o que Nunes fez: gravar um vídeo de gabo à empresa em seguida as denúncias. Prefeito que comete delito não combate delito”, acusou a parlamentar.

O que diz o agregador EXAME/IDEIA sobre a disputa em SP

De consonância com o agregador de intenções de voto EXAME/IDEIA, Ricardo Nunes tem 23% das intenções de voto na capital, e Guilherme Boulos (PSOL), 22%. Na sequência, José Luiz Datena (PSDB) aparece com 15% na terceira posição, seguido por Pablo Marçal com 14% e Tabata Amaral com 6%. Marina Helena tem 4%.

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