
Apreensão de vinhos de luxo no Tuju escancara mercado ilegal no Brasil
O Tuju é um dos três restaurantes em São Paulo a ostentar duas estrelas Michelin. É um dos mais badalados e sempre presente nas listas dos melhores do país. Seu chef e sócio Ivan Ralston é uma notoriedade. Por isso chamou tanta atenção a ação deflagrada na tarde desta quarta-feira, 7, pela Receita Federalista.
A Operação Bordeaux foi deflagrada na zona sul de São Paulo, visando um grupo que importava ilegalmente vinhos de luxo para venda, segundo a Receita Federalista. Algumas garrafas eram vendidas por até 100 milénio reais.
A Receita estima que até 4 milénio garrafas de vinho foram apreendidas, totalizando um valor de mercado de até 6 milhões de reais. Com base nessa estimativa, calcula-se que os impostos federais sonegados das mercadorias apreendidas cheguem a R$ 3 milhões.
Ações recorrentes de apreensões de vinhos
Em nota, o Tuju diz que “as 352 garrafas de vinhos apreendidas pela Receita Federalista foram regularmente compradas por ele, mediante pagamentos devidamente registrados em sua contabilidade. “Os impostos de responsabilidade do TUJU são integral e pontualmente recolhidos. As garrafas foram adquiridas no Brasil, através de compra com a importadora Clarets.”
A Clarets é de propriedade de Guilherme Lemes, também um dos sócios do Tuju.
Apesar da visibilidade do Tuju, para o mercado de vinho a mortificação não foi surpresa. Em dezembro do ano pretérito, outra ação da Polícia Federalista aprendeu 8 milénio garrafas de vinho em cinco endereço comerciais e residenciais em Macaé, no setentrião fluminense, durante a Operação Estáfilo.
O vinho ilícito virou um negócio
“Infelizmente, o sumiço de vinho é muito mais geral do que gostaríamos”, diz um consultor com mais de 15 anos de mercado. “Muitos consumidores são atraídos por ofertas mirabolantes e não checam as fontes na hora de comprar. O vinho ilícito virou um negócio.”
Segundo esse consultor, muito vinho vem de contrabando da Argentina. A Polícia Federalista investiga até a participação de facções criminosas. “Os grandes importadores em universal não fazem, mas tem muito revendedor pequeno que compra e repassa, esse é o problema”, diz.
Dentro do mercado, segundo os especialistas, é fácil identificar onde há sonegação. Basta ver quem vende grandes rótulos de Bordeaux, Borgonha, super Toscanos e o espanhol Veja Sicilia, cujos rótulos podem atingir 10 milénio reais nas grandes importadoras, com descontos de até 40%.
Sommerliers que vendem por WhatsApp
As grandes importadoras, principais prejudicadas com a venda ilícito de vinho, estão organizadas para identificar irregularidades no mercado e encaminhar denúncias. Uma das mais ativas, segundo fontes ouvidas pela EXAME Casual, é a Mistral, justamente uma das maiores.
A Mistral vende muitos vinhos argentinos de grande apelo no Brasil, porquê os rótulos da Catena Zapata. No site da importadora, o Catena Zapata Malbec Prateado 2021 Double Magnum é vendido a 5.160 reais.
“Não são nem só as importadoras pequenas que trazem vinho sem remunerar imposto”, diz o executivo de uma grande marca. “Na pandemia, alguns sommeliers começaram a vender pelo WhatsApp vinhos de conhecidos, que tinham em morada ou traziam de viagens curtas. E essa prática ficou.”
Produtores checam a ficha dos clientes
A ingressão de vinhos ilegais no Brasil não se dá mais somente a conta-gotas, por pessoas que trazem garrafas enroladas nas roupas dentro da mala. Muitos compradores encomendam lotes grandes, na morada de milhares de unidades.
“Estamos cada vez mais de olho em quem são nossos clientes”, disse Sebastian Zuccardi, da família da premiada vinícola argentina, em passagem por São Paulo, na semana passada. “Quando alguém faz um pedido grande, levantamos sua ficha. Se não for espargido, não fazemos a venda.”
Produtores renomados não querem ver seu nome envolvido em casos escandalosos de mortificação. Mas nem todos têm a tranquilidade financeira para escolher seus clientes. “Muitos produtores boutique, que fazem vinho de qualidade, mas em pequena graduação, não costumam fazer essa relevo entre os clientes. Quem paga, leva”, diz o executivo
O potencial do mercado brasílio
Dentro do mercado global de vinho, o Brasil se apresenta porquê um porto relativamente seguro na tormenta, segundo relatório do serviço de perceptibilidade de mercado WineXT. Tem a quinta maior população adulta do mundo (170 milhões habitantes com mais de 18 anos), a nona economia (2,13 trilhões de dólares, mas somente a décima sexta posição no ranking global de consumo de vinho (3.6 milhões hectolitros).
Os dados ajudam a dimensionar o espaço para desenvolvimento da bebida por cá. Comparado aos grandes países emergentes, o Brasil teve expansão relativamente firme. Enquanto a China perdeu 4% de participação no consumo global de vinho nos últimos seis anos, enquanto o Brasil avançou 0,5% no mesmo período, entre 2016 e 2022, de conciliação com a OIV (Organização Internacional da Vinha e do Vinho).
Para os vizinhos, trata-se de um mercado importante. O Brasil encerrou o ano de 2023 porquê o principal mercado para as exportações chilenas, por exemplo, tanto em volume quanto em valor. Em questões tributárias, porém, algumas fronteiras precisam ser respeitadas.