Pobreza dispara e atinge metade da população da Argentina

LUIS ROBAYO

Morador de rua dorme na Plaza de Mayo, em frente à Vivenda Rosada, em Buenos Aires, em 24 de setembro de 2024

LUIS ROBAYO

A pobreza na Argentina atingiu 52,9% da população no primeiro semestre do governo de Javier Milei, uma zero que reflete o drama de muitos, porquê Viviana Quevedo, demitida em dezembro e gradualmente mergulhada na miséria.

Aos 57 anos, essa mãe solteira, que trabalhou até dezembro porquê funcionária da limpeza, já não consegue remunerar por uma moradia e está prestes a permanecer sem teto. Ela e sua filha de 13 anos fazem segmento da estatística de pobreza divulgada nesta quinta-feira (26) pelo instituto de estatísticas Indec.

O índice, 11,2 pontos percentuais maior que o do segundo semestre de 2023, reflete o impacto de uma política de ajuste fiscal promovida pelo governo de Milei, centrada na redução de gastos e inflação, o que aprofundou a recessão econômica.

“É necessário encontrar uma equação que compatibilize desenvolvimento com distribuição. Só assim poderemos virar essa tendência de aumento da pobreza”, disse à AFP Santiago Coy, sociólogo e pesquisador da Universidade de Buenos Aires.

O Indec calcula a pobreza comparando os rendimentos com o dispêndio de uma cesta básica totalidade, que inclui provisões, bens e serviços, estimada em murado de 240 dólares (R$ 1.305 na cotação atual).

– “Sem pundonor” –

Até dezembro, Viviana limpava casas de famílias, mas a recessão e o ajuste forçaram a classe média a trinchar gastos, empurrando-a para uma situação que inicialmente considerava temporária. Agora, já são nove meses sem conseguir se reerguer.

“Estou em uma situação delicada, muito vulnerável. Não consigo trabalho e vou permanecer na rua no dia 30 de setembro” devido às dívidas com o hotel onde paga o equivalente a respeito de 25 dólares (R$ 135) por noite.

No segundo trimestre, o desemprego ficou em 7,6%, em um contexto de recessão, com queda de 1,7% no PIB em relação ao primeiro trimestre. A inflação, embora em desaceleração, continua entre as mais altas do mundo, atingindo 236% nos últimos 12 meses até agosto.

Sentada na passeio de uma avenida mercantil no opulento Bairro Setentrião, a presença limpa e organizada de Viviana, com um punhado de cópias de seu currículo em mãos, longe de suscitar desconforto, desperta empatia.

“Distribuo meu currículo para as pessoas, mas minha idade joga contra mim. Mesmo assim, não perco a esperança de encontrar um pouco que me devolva a pundonor que perdi, porque me sinto uma mulher sem pundonor”, confessa, usando uma máscara que esconde a perda de vários dentes.

À tarde, ela se mistura com outras mães na porta da escola pública onde sua filha estuda. À noite, recorre a refeitórios populares organizados por grupos solidários.

Do governo, ela recebe um auxílio de murado de 85 dólares (R$ 460) por mês para sua filha, um paliativo que aumentou 308% em relação a dezembro, mas ainda distante dos 108 dólares (R$ 587) mensais necessários para que uma pessoa não seja considerada indigente.

– Uma “veras crua” sem natalício –

“Em um país onde a pobreza é medida pela renda, nos empobreceram a todos”, disse nesta quinta-feira o porta-voz presidencial Manuel Adorni, antes da divulgação dos números que, segundo ele, “refletem a veras crua” que a sociedade enfrenta devido a governos anteriores.

Com o estabilidade fiscal porquê meta meão, o presidente ultraliberal aplica com rigor um ajuste inédito. Desde dezembro, ele interrompeu obras públicas, demitiu milhares de servidores, eliminou subsídios às tarifas de vontade, congelou o orçamento educacional, liberou os preços dos medicamentos e vetou uma lei para reconstituir as aposentadorias.

“A inflação é empobrecimento e mais pobreza para os mais pobres, por isso a melhor maneira de combater a pobreza é combater a inflação”, afirmou Adorni.

Todavia, trata-se de uma política que “deixa muitos excluídos”, alertou a economista Marina Dal Poggetto ao veículo Cenital. “E isso gera uma sociedade cada vez mais partida”.

Enquanto isso, Viviana Quevedo ainda se ressente por não ter conseguido comemorar o natalício de sua filha, Pamela, no início de setembro, porquê fez em 2023.

“Não consegui nem comprar um pouco para que ela dividisse com os colegas na escola”, lamenta.

Ela sente falta de consumir verduras, de comprar pão para consumir com geleia e leite no moca da manhã. “A míngua traz pavor, terror. Nunca vivi uma situação assim na minha vida”, reflete essa mulher, para quem “permanecer doente está fora de questão”.

“Sinto que há uma grande agressão contra aqueles que não conseguem trespassar dessa situação de míngua tão terrível, de não conseguir nem alugar um quarto”, desabafa Viviana, que, apesar de tudo, está decidida a “não desistir”.

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