
entre a força da correnteza e as dúvidas sobre a água
Atletas nadam no rio Sena ao lado de barcos atracados durante a final feminina da maratona aquática nos Jogos Olímpicos de Paris
Franck FIFE
A húngara Bettina Fabian quer confiar que as “coisas marrons” que viu no Sena eram vegetalidade podres. Mas o que realmente tirou seu fôlego na tão esperada prova feminina da maratona aquática desta quinta-feira (8) nos Jogos Olímpicos foi a possante correnteza do icônico rio parisiense.
“Vi algumas, não sei, coisas marrons. Espero que não seja o que eu estou pensando. Engoli muita chuva, mas vamos fertilizar minha goela com um pouco de álcool e ficaremos felizes com isso”, disse Fabian com humor ao terminar na quinta colocação
“Pensei que estaria mais sujo, mas você sabe… Precisamos de alguns dias para sentir os sintomas do rio, mas espero o melhor”, acrescentou a húngara, que disse ter visto bolsas plásticas flutuando ao longo do trajeto.
Fabian, de 19 anos, foi uma das 24 nadadoras que competiram nesta quinta-feira no rodeio de 10 quilômetros no rio Sena, meio das atenções durante os últimos meses devido à má qualidade de suas águas.
Apesar de investimentos milionários para descontaminar o rio, dias antes da prova ainda foram detectadas bactérias fecais nas águas, o que obrigou o cancelamento de treinos e o dilação em um dia da prova de triatlo masculino, também disputada no Sena.
“A gente ficava com essa instabilidade de ajustar hoje e falar: ‘será que a prova vai trespassar mesmo? Ou será que ela vai retardar? Será que ela vai ser cancelada?'”, afirmou a brasileira Viviane Jungblut, que terminou a maratona aquática na 11ª posição.
– “Para mim, a chuva estava boa” –
Dezenas de pessoas lotaram as margens do Sena para ver a holandesa Sharon Van Rouwendaal invadir seu segundo ouro olímpico, depois de vencer no Rio de Janeiro em 2016, em pouco mais de duas horas de competição. Ela foi seguida pela australiana Moesha Johnson (prata) e pela italiana Ginevra Taddeucci (bronze).
Partindo da Ponte Alexandre III, sob o olhar prudente e taciturno da Torre Eiffel, a maratona aquática feminina proporcionou belas imagens sob a luz da manhã de clima sossegado em Paris.
Talvez esse também fosse um dos objetivos da organização, questionada por alguns atletas e ONGs pela insistência em realizar as provas a natação em águas abertas e o triatlo no rio Sena, apesar dos potenciais riscos para a saúde dos atletas.
A ONG Surfrider Foundation pediu nesta quinta-feira à organização dos Jogos que “mostre totalidade transparência” com as medições e defendeu investigações independentes sobre a qualidade da chuva visando o próximo verão, quando se espera que os parisienses possam tomar banho em alguns trechos do rio.
“Não tem muito mais o que falar, acho que teve gente aí que não se sentiu tão muito. Eu não vi zero, eu não senti cheiro. Para mim, a chuva estava boa”, disse a brasileira Ana Marcela Cunha, campeã olímpica em Tóquio em 2021, que terminou a prova de Paris na quarta posição.
Ana Marcela, campeã mundial nos 25 km, deu o que falar quando questionou a realização da prova olímpica no Sena em uma entrevista à AFP no início do ano. Mas no final da disputa a brasileira disse responsabilizar na organização.
– Correnteza “muito possante” –
“A chuva, muito, sem nenhum problema, simplesmente acho que a correnteza foi o que mais afetou”, disse a peruana María Alejandra Bramont-Arias (21ª).
Embora à intervalo a correnteza parecesse fraca, as nadadoras foram as responsáveis por desmascarar sua natureza tortuosa. A maioria deles relatou uma vez que era difícil dar braçadas contra a fluente em alguns trechos do rodeio, o que reduziu sua velocidade.
“Estávamos muito lentas, dava para sentir, mas estávamos nadando muito possante para prosseguir cada metro que podíamos. Foi difícil”, afirmou a húngara Fabian.
Medalhista de prata, a australiana Moesha Johnson, disse que os pilares que sustentavam a ponte mudavam a intensidade da fluente, que por si só era “muito, muito possante”, e por isso foi necessário ser muito “tática” e “estratégica”.
Johnson, de 26 anos, liderou a maior secção da prova, mas foi ultrapassada na reta final por Van Rouwendaal, atual campeã mundial.
“Estamos sempre em locais diferentes e nascente [Paris] é realmente único”, disse a australiana. “Espero ansiosamente pelo próximo duelo e, quem não quiser ter condições uma vez que essas, pode muito muito fazer uma prova de 10 km em uma piscina”, concluiu.