Decisão de anular condenações de Dirceu compromete combate à corrupção no Brasil, afirma advogada
A advogada Ligia Maura Costa, professora titular na Escola de Gestão de Empresas de São Paulo da Instauração Getulio Vargas (FGV), expressou preocupação com a decisão do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federalista (STF), de anular as condenações do ex-ministro da Vivenda Social do governo Lula (PT), José Dirceu.
Em entrevista ao WW nesta terça-feira (29), a professora destacou o contraste entre a situação brasileira e eventos recentes no Peru, onde o ex-presidente Alejandro Toledo foi réprobo a mais de 20 anos de prisão devido à operação Lava Jato.
Toledo governou o Peru entre 2001 e 2006, e é denunciado de ter recebido US$ 35 milhões em subornos da empreiteira Odebrecht, atual Novonor, de harmonia com as autoridades, em troca de permitir que a empresa ganhasse a licença para a construção de secção de uma estrada que atualmente liga a costa sul do Peru a uma espaço amazônica do Brasil.
“Praticamente na mesma semana em que vemos o Peru condenando seu ex-presidente, nós vemos no Brasil uma posição da Suprema Namoro que utiliza estratégias e recursos jurídicos que unicamente quem tem condições financeiras de sustentar acaba tendo qualquer tipo de vantagem”, afirmou a advogada.
Impacto na segurança jurídica
A advogada, que é autora de um livro sobre a Lava Jato, alertou para as possíveis consequências da extensão dessa decisão a todos os casos relacionados à operação.
“Não unicamente vai ter uma liberação e uma impunidade generalizada que vai comprometer, inclusive, a própria democracia brasileira, uma vez que também vai ter uma grande prenúncio à segurança jurídica”, explicou.
Ela enfatizou que a segurança jurídica é a base de qualquer instituição e citou uma frase do filósofo Montesquieu: “Num estado onde poucos mandam, a Justiça tende a ser um privilégio dos poderosos”.
Costa argumentou que essa perspectiva deve ser considerada ao averiguar o impacto dessas decisões judiciais.
Desestímulo às boas práticas empresariais
Outro ponto levantado pela advogada foi o provável desestímulo às empresas que investem em boas práticas de governança. “As empresas que investiram e continuam investindo em boas práticas de governança acabam sendo desincentivadas a fazer o que é perceptível”, alertou.
Ela ressaltou que decisões uma vez que a do ministro Gilmar Mendes podem desencorajar investimentos em programas de compliance, contabilidade transparente e padrões ESG (Environmental, Social and Governance).
“No mínimo, ao final, se eu tiver bastante recurso financeiro, eu posso eventualmente, através de tecnicalidades e de grandes estratégias jurídicas, virar casos complexos de devassidão”, concluiu a perito, evidenciando a preocupação com a possibilidade de impunidade para aqueles com mais recursos financeiros.