Vídeo engana ao dizer que Boulos é líder do MST e reponsável por queimar fazendas

Teor investigado: Publicação com trecho de sessão plenária da Câmara Legislativa do Província Federalista do dia 11 de setembro de 2024, em que a deputada Paula Belmonte (Cidadania) diz que o candidato do PSOL “não foi réprobo porque não foi encontrado”.

Onde foi publicado: TikTok.

Epílogo do Comprova: Vídeo engana ao expressar que o deputado federalista e candidato a prefeito de São Paulo Guilherme Boulos (PSOL) seria líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terreno (MST) e só não foi réprobo judicialmente porque não teria sido localizado durante os seis anos em que o processo contra ele tramitava. O Comprova checou novamente o curso dos cinco processos em que o candidato foi réu e identificou que não houve pena em nenhum deles.

A publicação usa um trecho de um exposição do deputado distrital Pastor Daniel de Castro (PP), no qual o parlamentar afirma que Boulos seria líder do MST e responsável por invasões a propriedades, queima de fazendas e morte de rebanho.

A fala foi proferida no momento em que o pastor fazia um exposição crítico sobre as prisões de suspeitos de praticarem queimadas no Brasil, uma vez que mostra o vídeo com a íntegra da sessão plenária.

O exposição foi rebatido pelo deputado Fábio Felix (PSOL). Ele disse que Boulos não tem nenhuma pena criminal e afirmou que o movimento que o correligionário liderava não era o MST, mas sim o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), cujas manifestações ocorrem no envolvente urbano.

Depois a fala de Felix, a deputada Paula Belmonte (Cidadania) afirmou que Boulos só não foi réprobo porque não foi encontrado há seis anos, e fez uma referência ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), dizendo que há um “ex-condenado a três instâncias na Presidência da República”.

Uma vez que mostrou a Folha de S.Paulo, o processo ao qual se referiu a deputada seria o do incidente sabido uma vez que a desocupação do Pinheirinho, em que Boulos foi recluso em flagrante suspeito de atirar contra uma viatura da Guarda Municipal de São José dos Campos (SP). À estação, Boulos prestou prova negando a querela, e foi solto mediante pagamento de fiança.

No documento em que reconhece a extinção do processo, que prescreveu, o promotor João Carlos de Camargo Maia, do Ministério Público de São Paulo, afirma que “o criminoso conseguiu fugir por manobra jurídica”.

Em resposta, conforme relatou a Folha, o jurisconsulto de resguardo de Boulos, Alexandre Pacheco Martins, afirmou que foi o Ministério Público que errou, procurando por Boulos em endereços “sem sentido”, além de não ter procurado pelos advogados, que tinham os contatos anexados ao processo.

“Só procuraram o Boulos em endereços sem sentido. Ele trabalhava na Faculdade Mauá e foram no Instituto Mauá. O interrogatório ficou jogado por anos. Não teve tentativa nenhuma de evadir, o Boulos nem sabia do processo nesses seis anos. Foi o Ministério Público que abusou do recta de errar”, disse o jurisconsulto.

Ao Comprova, a assessoria de Boulos disse que a asserção feita pela parlamentar é falsa, e que o candidato não fugiu da Justiça ou foi réprobo em qualquer processo criminal.

“Todos os casos em que ele foi estagnado e levado à delegacia estão diretamente ligados à legítima resguardo dos direitos da população que luta por moradia digna. O caso em questão trata do incidente de Pinheirinho, de 2012, e foi arquivado”, disse em nota.

Ainda segundo a assessoria, Boulos deixou a coordenação do MTST para assumir o procuração de deputado federalista no início de 2023.

O responsável pela publicação foi procurado, mas não retornou aos contatos feitos pela reportagem.

Enganoso, para o Comprova, é o teor retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma tradução dissemelhante da intenção de seu responsável; teor que confunde, com ou sem a intenção deliberada de provocar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 25 setembro, a publicação alcançou mais de 1.284 visualizações, 126 curtidas, 66 compartilhamentos e 6 comentários.

Fontes que consultamos: Procuramos por outras verificações feitas pelo Comprova, assistimos à íntegra da fala dos deputados, analisamos as certidões de candidatura de Boulos disponíveis no Divulgacand, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), checamos novamente o curso dos processos em que ele é réu, matérias sobre o caso, e entramos em contato com a assessoria do candidato.

Boulos é réu em cinco processos e não houve pena

O Comprova voltou a checar o curso dos cinco processos em que o candidato do PSOL foi réu em pesquisa no site Jusbrasil. Foi verosímil verificar que não houve pena criminal em nenhum deles, assim uma vez que havia sido identificado em agosto, quando a seção “Contextualizando” do projeto analisou as certidões de candidatura de Boulos disponíveis no Divulgacand, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Conforme outros documentos de Boulos disponíveis no mesmo site de candidaturas da Justiça Eleitoral, o psolista foi recluso duas vezes quando era líder pátrio do MTST. As prisões ocorreram durante processos de reintegração de posse. Apesar disso, não houve nenhuma pena criminal.

Em janeiro de 2012, Boulos estava na Ocupação Pinheirinho, em São José dos Campos, no interno paulista, quando foi recluso em flagrante por “dano qualificado”. Ele foi solto em seguida prestar prova e remunerar fiança no valor de R$ 700. Posteriormente, o processo foi anulado.

Já a segunda prisão ocorreu em janeiro de 2017. Ele foi estagnado por “incitação à violência e indisciplina” durante reintegração de posse na Ocupação Colonial, em São Mateus, bairro da zona leste de São Paulo. Na ocasião, ele ficou estagnado por 10 horas e foi liberado em seguida ter assinado um termo circunstanciado.

Uma vez que noticiou o Estadão, o próprio Boulos disse, em entrevista para a Dependência Pública, que foi recluso também entre 2003 e 2004, em uma ocupação em Osasco. Não constam no site do TSE, porém, documentos a reverência deste incidente.

Aliás, o indumento de a Justiça Eleitoral ter confirmado a candidatura de Boulos significa, necessariamente, que o político não foi enquadrado pela Lei da Ficha Limpa. Ou seja, ele não tem nenhuma pena judicial em segunda instância (quando a pena é feita por um órgão colegiado).

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Boulos e o MST são alvos frequentes de desinformação nas redes sociais. O Comprova já mostrou que Boulos não prometeu deixar o país depois da guia nas eleições, que não há evidências de que o movimento tenha ameaçado “incendiar o agro” antes das queimadas recentes e que um varão que afirmava ser petista e corrupto não era líder do movimento e sim ex-candidato do PRTB.

Investigado por: UOL, Correio do Estado e A Jornal.

Verificado por: Metrópoles, O Povo, NSC, CNN, Portal Setentrião, Folha e Nexo.

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