Presidente Arce enfrenta crise após tentativa de golpe em meio a problemas econômicos

AIZAR RALDES

O presidente boliviano Luis Arce com a bandeira do país no palácio presidencial, em La Tranquilidade, em 26 de junho e 2024

AIZAR RALDES

O presidente da Bolívia, Luis Arce, enfrenta sua pior crise depois a tentativa fracassada de golpe de Estado que aumentou ainda mais a tensão no país, aluído pela falta de dólares e combustível.

Arce, de 60 anos e no poder desde 2020, foi encurralado na quarta-feira por militares com tanques que tentaram invadir o palácio presidencial, onde ele estava no momento da rebelião.

Um dos tanques, inclusive, tentou derrubar a porta do palácio, por onde alguns minutos depois o general Juan José Zúñiga, líder do movimento fracassado, entrou caminhando.

As tropas rebeldes se posicionaram diante da sede do governo, no núcleo de La Tranquilidade, antes da retirada.

Zúñiga também deixou o sítio e foi suspenso. O general foi levado para uma delegacia de polícia, ao lado do comandante universal da Marinha da Bolívia, o vice-almirante Juan Arnez Salvador.

Os dois foram acusados pelo Ministério Público por crimes de terrorismo e insurreição armada.

Depois de várias horas, o cenário acalmou com o retorno dos soldados aos seus quartéis e a detenção dos dois comandantes militares.

Nas últimas horas, o Palácio de Governo divulgou o áudio de uma conversa entre Arce e Zúñiga na ingressão do palácio presidencial, ambos cercados por militares.

Arce repreende o general: “Eu sou seu capitão (general), volte detrás em suas ordens e ligeiro toda a polícia militar para seus quartéis (…) retire todas estas forças neste momento, general. É uma ordem universal, não vai me ouvir?”. Em seguida, Zúñiga respondeu exclusivamente com um “não” taxativo.

Arce divulgou uma mensagem na rede social X durante a noite: “Vamos tutorar a democracia e a vontade do povo boliviano, custe o que custar”.

Ele agradeceu aos países que “condenaram de maneira enérgica e se pronunciaram em prol da democracia boliviana, diante da tentativa de golpe de Estado contra o nosso governo”.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva condenou “qualquer forma de golpe de Estado” na Bolívia na rede social X.

O presidente venezuelano Nicolás Maduro também criticou a tentativa de golpe.

O governo dos Estados Unidos pediu “calma” e afirmou que “está acompanhando de perto a situação”. A Rússia também condenou a tentativa de golpe e expressou “escora totalidade” ao presidente Arce.

– Crise econômica e disputas políticas –

A rebelião dos militares aconteceu em um cenário de turbulências na economia, devido à escassez de dólares, que afeta as importações, e de combustíveis, o que irrita os sindicatos de transporte de trouxa.

“Nós, bolivianos, precisamos trabalhar para levar o país adiante, e não de revoltas que prejudicam a imagem da democracia boliviana internacionalmente e geram incertezas desnecessárias”, escreveu Arce nas redes sociais.

Uma vez que tecido de fundo também está a disputa entre Arce e o seu mentor político, o ex-presidente Evo Morales (2006-2019), pela candidatura para as próximas eleições gerais de 2025, que definirão um novo procuração presidencial de cinco anos.

Zúñiga entrou na disputa política, depois de expressar na segunda-feira sua veemente oposição ao eventual retorno ao poder de Morales, que disputa com Arce a liderança do partido governista MAS (Movimento ao Socialismo)a.

Em uma entrevista na segunda-feira a um meio de televisão, ele afirmou que Morales seria suspenso se insistisse em apresentar a candidatura à presidência no próximo ano.

– “Uma farsa” –

Porém, dúvidas sobre a seriedade do movimento militar começaram a surgir depois a detenção do general Zúñiga.

O militar declarou pouco antes de ser levado para uma delegacia que o movimento teria sido combinado com o presidente Arce no último domingo, porque – disse – ele propôs “preparar um tanto para aumentar a sua popularidade”, em meio a uma situação ruim no país, sem revelar detalhes.

“É absolutamente falso e são coisas que considero inconcebíveis”, respondeu horas depois a ministra da Presidência, María Nela Prada, braço recta de Arce.

O ex-presidente centrista Carlos Mesa (2003-2005) afirmou na rede social X que a mobilização militar “parece uma farsa”.

Ele recordou a querela de Zúñiga de um pré-acordo com Arce e exigiu uma investigação para esclarecer tudo o que aconteceu na quarta-feira.

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