Cenário atual não demanda alta de juros, diz economista à CNN

O momento da economia brasileira não justifica uma novidade subida na taxa básica de juros, a Selic, segundo a economista-chefe do Inter, Rafaela Vitória.

Em entrevista à CNN nesta segunda-feira (26), Vitória apontou que há uma discussão no mercado sobre a eficiência do atual patamar dos juros (hoje em 10,5% ao ano) no controle da inflação, mas que os dados mais recentes não refletem tal urgência.

“Não é um cenário que precise de uma novidade subida de juros. A gente não tem uma aceleração de inflação tão potente que precise de um novo choque de juros, e a política monetária ainda é restritiva o suficiente”, avalia a economista-chefe do Inter.

O mercado elevou pela 6ª vez seguida suas expectativas para a inflação, que devem permanecer em 4,25% ao final de 2024. Já em 2025, o mercado vê a subida dos preços em 3,93%.

Vitória explica que o nível dos juros, que já está restritivo, tende a permanecer mais duro caso a inflação realmente seja menor no ano que vem. “O lucro mesmo estável, significa aperto monetário maior.”

O resultado de uma subida mal colocada: o aperto maior da economia.

“Olhando para frente, existe uma preocupação com essa aceleração [dos juros], porque secção do incremento econômico [do começo deste ano] veio de um impulso fiscal que não deve se repetir no segundo semestre e em 2025”, avalia a economista.

“Com os juros mais altos na escassez de um impulso fiscal, a gente pode ter uma desaceleração econômica mais potente em 2025”, aponta Vitória.

Falta de perspicuidade do BC

Enquanto os fundamentos não apontam a urgência de subida nos juros, o sonido no mercado sim.

A discussão sobre a eficiência do patamar da Selic começou em maio, quando o Banco Médio (BC) optou por pisar no freio e desacelerar o ciclo de golpe dos juros. Desde agosto do ano pretérito, o ritmo de redução vinha em 0,5 ponto por reunião. Em maio, passou a ser de 0,25 ponto.

Com o termo dos cortes e as recentes manutenções, a discussão se intensificou. Até a última reunião, na qual o BC sinalizou que adotaria “maior vigilância” e que não hesitaria se fosse necessária novidade subida dos juros.

As autoridades que compõem o Comitê de Política Monetária (Copom) manifestaram essa possibilidade nas últimas semanas. Dentre eles, o diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, que é cotado para assumir a presidência da autonomia.

“O Banco Médio ficou numa situação desconfortável quando a gente olha a curva longa de juros, que está em subida. As falas deram margem para essa tradução, e hoje a situação é desconfortável. O Banco Médio deveria estar sinalizando melhor para o mercado os próximos passos, pelo menos no pequeno prazo”, comenta Vitória.

A economista-chefe do Inter aponta que um dos argumentos apontados por quem defende a subida neste momento é o de o BC manter seu compromisso com a queda da inflação em meio a transição de sua presidência.

“Muitos dos que acreditam na urgência de uma subida de juros falam nesse ponto que é a credibilidade. Mas a nossa tradução é que as falas do Galípolo vieram para substanciar a ata: ‘Se necessário, o Copom sobe os juros’. Não significa que o Copom vai necessariamente subir os juros”, diz Vitória.

“O Banco Médio pode subir os juros porque o mercado precificou, uma vez que não seguir o mercado pode ocasionar estresse. Ou pode seguir os fundamentos, que não indicam urgência de subida. Se muito comunicada, [a decisão] não deve ocasionar preocupação sobre a credibilidade da política monetária”, conclui.

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