
G20 se compromete a ‘cooperar’ para taxar grandes fortunas
O ministro da Quinta, Fernando Haddad, e a secretária do Tesouro americana, Janet Yellen, durante reunião do G20 no Rio de Janeiro
Pablo PORCIUNCULA
O G20 se comprometeu a “cooperar” para taxar as grandes fortunas, embora sem chegar a um entendimento sobre a geração de um imposto global, indica a enunciação final do encontro do grupo, divulgada nesta sexta-feira (26) no Rio de Janeiro.
“Respeitando plenamente a soberania fiscal, vamos nos esforçar para cooperar a termo de prometer que as pessoas super-ricas sejam efetivamente tributadas”, diz o texto, assinado em seguida dois dias de reuniões.
O Brasil havia disposto a geração de um imposto coordenado sobre as grandes fortunas porquê uma de suas prioridades na liderança do conjunto, mas as maiores economias do mundo mais a União Europeia e União Africana não concordaram com esse objetivo. França, África do Sul, Espanha e União Africana, além do Brasil, apoiaram a teoria do imposto.
Os Estados Unidos rejeitaram a teoria de negociações internacionais sobre o tema, embora tenham defendido que cada país tenha um sistema tributário “justo e progressivo”. Antes da reunião, a Alemanha expressou que considerava a iniciativa “pouco pertinente”.
“Somente o vestimenta de ela constar em uma enunciação do G20 é uma coisa que eu garanto que poucos cá nesta sala imaginavam verosímil”, disse o ministro da Quinta, Fernando Haddad. “Do ponto de vista moral, é muita coisa as 20 nações mais ricas considerarem que temos um problema, que é a tributação ser progressiva sobre os pobres, e não sobre os ricos”, acrescentou, em seguida a reunião.
A enunciação final afirma que “as desigualdades de riqueza e renda prejudicam o desenvolvimento econômico e a coesão social e agravam as vulnerabilidades sociais”. Também destaca a relevância de “promover políticas fiscais eficazes, justas e progressivas”.
O texto cita o intercâmbio de boas práticas e a geração de mecanismos para combater a evasão fiscal porquê possíveis formas de colocar em prática a cooperação internacional, que deve ser discutida no Rio de Janeiro em novembro, durante a reunião de cúpula dos chefes de Estado e governo do G20.
– Elogios –
A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, elogiou a posição do G20: “A visão compartilhada dos ministros do grupo sobre a tributação progressiva é oportuna e bem-vinda, pois a premência de reconstruir reservas fiscais e, ao mesmo tempo, atender às necessidades sociais e de desenvolvimento envolve decisões difíceis em muitos países. Promover a justiça fiscal ajuda a prometer a ratificação social dessas decisões.”
O economista gaulês Gabriel Zucman, entusiasta da iniciativa e responsável de um relatório sobre o tema a pedido do Brasil, comemorou que, “pela primeira vez na História, os países do G20 concordam em expressar que a forma porquê tributamos os bilionários precisa ser modificada”.
As desigualdades continuaram aumentando nos últimos anos, segundo estudo da ONG Oxfam: o 1% mais rico do mundo viu seu patrimônio crescer mais de 40 trilhões de dólares (226 trilhões de reais), mas sua tributação é “historicamente baixa”.
A enunciação representa “um progresso global importante. Os bilionários finalmente estão ouvindo que não podem manipular o sistema tributário ou evitar remunerar a sua segmento”, ressaltou Susana Ruiz, director de política fiscal da ONG. “Na reunião de novembro, os líderes precisam ir mais longe.”
O americano Joseph Stiglitz, vencedor do Nobel de Economia, saudou hoje que se discuta “seriamente o sistema de privilégios de um punhado de bilionários”, e afirmou que “é o momento de ir além”, pedindo que os chefes de Estado e governo avancem em normas mínimas coordenadas até novembro.
O Greenpeace também elogiou o que chamou de “escora histórico” do G20 à iniciativa. “É um marco importante para o grupo reconhecer pela primeira vez a premência de tributar os super-ricos e combater a injustiça e a desigualdade. É um sinal possante de mudança”, afirmou sua estrategista de campanhas, Marilia Monteiro Silva.
O Brasil, que sediará a COP30 do clima no próximo ano, e os Estados Unidos anunciaram hoje, paralelamente às reuniões do G20, a assinatura de um novo compromisso de cooperação em material climática.
– Três documentos –
As divisões internacionais causadas pelas guerras na Ucrânia e Fita de Gaza haviam impedido nos últimos encontros do conjunto declarações finais conjuntas. Desta vez, três textos foram divulgados em seguida a reunião: uma “enunciação” específica sobre a cooperação internacional em material fiscal, um enviado final sobre todos os temas discutidos e um enviado que evoca separadamente as crises geopolíticas, assinado somente pela presidência brasileira do conjunto.
A divulgação de declarações conjuntas do G20 representa “uma vitória do Brasil e da comunidade internacional”, ressaltou Haddad. “A cooperação internacional é o contraveneno contra a escalada de conflitos.”
No enviado universal, os ministros saudaram o consenso entre os membros do G20 para a geração da Associação Global contra a Rafa e a Pobreza, um mecanismo promovido pelo Brasil e que será lançado oficialmente na reunião de novembro. Também ressaltaram que é crucial enfrentar a crise climática e realizar “ações ambiciosas e eficazes” para combater esse duelo planetário.