
Entre carreira e família, mulheres querem tudo – mas há um preço, diz professora da Univ. de Chicago
“Há evidências crescentes, pelo menos nos países mais ricos, de que as mulheres estão se esforçando para ter tudo, ou seja, uma curso de sucesso e uma família”, afirma Marianne Bertrand, professora de economia da Universidade de Chicago.
Com doutorado em econômica pela Universidade de Harvard, Bertrand é conhecida por suas pesquisas com temas sobre discriminação e inclusão no mercado de trabalho. Em 2021, a americana fez o estudo “Curso, família e o bem-estar de mulheres com ensino superior”, que será debatida em São Paulo, nesta semana, durante o evento “Evidências sobre Políticas de Mercado de Trabalho e Implicações para o Brasil”.
O estudo mostra, por exemplo, que entre os graduados de MBAs de prestígio nos EUA, mulheres chegam a lucrar muro de 50% menos do que seus colegas homens. “A pesquisa mostra que a diferença está fortemente associada à maternidade e à premência de estabilidade entre curso e família”, diz Bertrand.
Ao examinar as correlações de bem-estar das mulheres que buscam “ter tudo” das que não buscam um salto profissional, a pesquisa mostra que as mulheres dedicam entre 2 e 3 vezes mais horas semanais do que os homens em atividades domésticas e de zelo familiar, o que pode contribuir para o aumento do estresse e impacto no bem-estar.
A pesquisa também mostra que essas mulheres sentem que, ao tentar “ter tudo”, estão sempre sacrificando um tanto, porque não conseguem focar 100% no trabalho ou 100% na família, afirma Bertrand.
“A incapacidade de focar na família impacta, sobretudo, na saúde mental dessas mulheres. É um cumeeira preço”.
A pesquisadora americana está no Brasil esta semana para palestrar no evento “Evidências sobre Políticas de Mercado de Trabalho e Implicações para o Brasil” que será realizado em São Paulo. Em entrevista exclusiva à Inspecção, Marianne Bertrand, professora da Universidade de Chicago, fala sobre as expectativas e os desafios das mulheres no mercado, principalmente em cargos de liderança – nas empresas e da própria vida.
Você notou diferenças em porquê mulheres de diferentes gerações, porquê Millennials e Baby Boomers, lidam com esses desafios de lastrar curso e família?
As normas de gênero estão mudando, mas é um processo lento, muitas vezes multigeracional. Em confrontação com o pretérito, certamente vimos mudanças positivas na maneira porquê as mulheres são percebidas em termos de sua perceptibilidade e até mesmo de sua capacidade de liderança.
Um estereótipo de gênero que tem sido mais lento para mudar está relacionado à teoria de que as mulheres são melhores cuidadoras, mais devotadas aos outros do que os homens e mais sensíveis do que os homens. Ainda há uma possante expectativa na sociedade de que as mulheres sejam as responsáveis pelo “zelo” (com os filhos, cônjuges, pais idosos, etc.).
Sua pesquisa mostra que as mulheres enfrentam dilemas que podem limitar suas trajetórias profissionais. Que tipo de limitações mais afetam suas carreiras e porquê podem ser enfrentadas?
Precisamos de duas coisas: regenerar o envolvente de trabalho e mudar as normas e estereótipos de gênero para que os homens também possam contribuir mais na produção doméstica e no zelo dos filhos. Alguns países, principalmente na Escandinávia, estão tentando usar políticas públicas para aligeirar o processo de mudança das normas de gênero. Uma política específica que tenho em mente são as “quotas de paternidade”, onde o governo incentiva financeiramente os novos pais a tirarem licença para cuidar dos recém-nascidos.
Há outros papéis importantes que o governo pode desempenhar. Por exemplo, sabemos que a oferta de opções de creches de qualidade está associada a níveis mais elevados de participação feminina na força de trabalho, muito porquê a maior fertilidade.
Há alguma interdependência entre certos setores ou profissões e o nível de satisfação dessas mulheres?
Algumas profissões são particularmente exigentes, tornando principalmente difícil para as mães terem sucesso, porque elas têm mais dificuldade do que os homens em destinar as longas horas de trabalho que são exigidas. Em um estudo com formados de um importante programa de MBA nos EUA, descobrimos que as mulheres ganhavam muro de 50% a menos do que os homens, e que quase toda essa diferença se devia aos filhos.
Trabalhos em finanças, medicina, recta e consultoria exigem longas horas e aplicam grandes penalidades às pessoas que tiram até alguns meses de licença. Mulheres sem filhos e homens (com ou sem filhos) podem se destinar totalmente a essas carreiras; é muito mais difícil para mulheres com filhos fazerem o mesmo.
Você observou variações culturais significativas nos dilemas enfrentados por mulheres em diferentes partes do mundo. Porquê as expectativas sociais e os valores familiares moldam essas tensões?
Sim, não há incerteza de que algumas partes do mundo são culturalmente muito mais progressistas do que outras quando se trata de normas de gênero. A Escandinávia certamente se destaca por sua progressividade.
No outro extremo, estão lugares porquê a Índia, onde as mulheres não são esperadas no envolvente de trabalho, principalmente depois se casarem e terem filhos.
Minha percepção é que a América Latina está em qualquer lugar no meio, mais semelhante ao sul da Europa.
Oferecido o crescente número de mulheres em posições de liderança e a maior flexibilidade no trabalho, você acredita que as tensões entre curso e família diminuirão ou simplesmente assumirão novas formas no horizonte?
Mais mulheres em posições de liderança ajudam a mudar normas e crenças sobre onde as mulheres devem estar. Essas líderes também atuam porquê modelos para as gerações mais jovens e elevam suas aspirações.
Uma tensão potencial que posso prever no horizonte é uma provável reação contra as mulheres, principalmente em economias que não estão criando empregos suficientes, os homens podem se sentir ameaçados pelos avanços das mulheres. Será importante, no horizonte, observar a provável emergência desse tipo de mentalidade em graduação mais global.