Iniciativa de povos indígenas é exemplo de manejo sustentável na Amazônia
Para os povos indígenas, a preservação do meio envolvente não envolve exclusivamente a preocupação com a sustentabilidade, mas sim a manutenção de culturas milenares.
“A gente tem a nossa riqueza cá. E muitos lugares não tem”, diz Kamelice Paumari, coordenadora da Associação Indígena do Povo das Águas (AIPA). “Na foz não tem mais tanto peixe porquê antes. Hoje eles invadem a nossa terreno, justamente porque não preservam”, explica.
E com uma forma dissemelhante de se relacionar e conviver com a natureza, iniciativas indígenas têm contribuído significativamente com a restauração da biodiversidade da Amazônia.
Uma dessas iniciativas pode ser encontrada na terreno indígena Paumari, no Amazonas. Através do manejo sustentável do Pirarucu, um dos maiores peixes de chuva gula do mundo, símbolo da floresta amazônica, o trabalho já resultou no aumento de mais de 600% da população do pescado no território.
É um projeto de sucesso na região, um expoente dos saberes e da tecnologia indígena pro Brasil e pro mundo.
O manejo sustentável do pirarucu é uma iniciativa pioneira na Amazônia há mais de 25 anos. O primeiro padrão foi proposto em 1999, pelo Instituto Mamirauá. Foi logo sancionado pelo Ibama e, desde logo, é ampliado em outras regiões da floresta. A pesca do pirarucu chegou a ser proibida pelas autoridades diante do risco de extinção do bicho.
Na terreno indígena Paumari, o manejo é bravo pelo projeto “Raízes do Purus”, realizado pela Operação Amazônia Nativa, a OPAN. A organização atua na proteção territorial, no desenvolvimento e na geração de renda de seis terras indígenas da região. No trabalho de manejo com o povo Paumari, foram contados mais de oito milénio pirarucus no ano pretérito, em confrontação aos 448 peixes contados na primeira pesca, em 2013.
O trabalho do “Raízes do Purus” foi exibido no CNN Sustentabilidade, programa da CNN apresentado pelo âncora Márcio Gomes e pelo crítico de Meio Envolvente e Clima, Pedro Côrtes. O programa exibido neste sábado (24) discutiu as perspectivas para a maior floresta do mundo, que corre o risco de entrar em processo de “savanização” muito em breve, se zero for feito.
Com os projetos de manejo sustentável, hoje é permitido que as comunidades pesquem uma quinhão de até 30% dos peixes adultos. O resultado de uma iniciativa desenvolvida com povos indígenas e que mudou a verdade socioeconômica dessas comunidades e a biodiversidade de toda a região.
“A gente não tinha transporte para transportar o pirarucu, se a gente quisesse levar o pirarucu até a moradia onde tão fazendo o tratamento do peixe, era nas costas, numa maca, e feria o ombro dos homens”, explica Kamelice Paumari.
“Hoje a gente tem a nossa cozinha, nosso flutuante de tratamento de peixe, as nossas bases, a moradia própria, tem sustento própria, e é tudo proveniente, não é que nem antes. E a gente vem reconhecendo isso, que antes a gente não tinha e hoje a gente tem, e a gente pode proteger isso”, conclui.
CNN Sustentabilidade – Sábados, às 22h45, e domingos, às 18h45 (horário mútuo) na CNN Brasil.