
Há comida nos mercados, mas ninguém tem dinheiro para comprar, diz candidata barrada na Venezuela
Corina Yoris, uma das lideranças da oposição na Venezuela, começou sua entrevista para EXAME pedindo desculpas. Tentamos fazer uma conversa por vídeo, mas falhas na internet na universidade onde ela dá aulas impediram isso. O jeito foi falar por relação de áudio no WhatsApp.
“Desculpem por estes problemas, que são típicos destes dias. Assino dois provedores de internet e vou alternando. Em uma delas, me conecto se a vigor acaba. A luz se vai no termo da tarde ou de noite. Enfrentamos estes problemas desde antes da pandemia, consequência da falta de manutenção. E havia uma era em que fornecíamos vigor para os países vizinhos. Agora estamos com um problema elétrico gravíssimo, que afeta as conexões de internet”, conta.
Professora de filosofia, Corina tentou disputar a Presidência nas eleições, marcadas para o próximo dia 28 de julho, mas teve a candidatura impedida em março. Oficialmente, o governo disse que ela não conseguiu se inscrever a tempo. Pelo calendário eleitoral do país, o partido deveria registrar a candidatura entre os dias 22 e 25 daquele mês, mas ela não conseguiu acessar o sistema do Parecer Vernáculo Eleitoral (CNE).
Na conversa, Corina fala sobre a estratégia da oposição, que concentra seu base na candidatura de Edmundo González Urrutia, e porquê está a situação no país, onde houve melhora no fornecimento de mantimentos e itens básicos, mas a população segue com pouco poder de compra.
Confira a entrevista na íntegra:
Quais são os principais motivos para a população votar na oposição?
Quando uma pessoa está dentro dos protestos, das marchas, ou das redes sociais, vê que há uma vontade firme da maioria absoluta do país por uma mudança no sistema político que impera na Venezuela nos últimos 25 anos e que levou nosso país a uma quebra totalidade.
Porquê avalia a situação da Venezuela neste momento?
Estamos vivendo uma das fases mais difíceis dos últimos anos. O poder aquisitivo não existe. Os salários não dão conta de revestir as necessidades mínimas. As pessoas precisam de dois ou três trabalhos em áreas diferentes. As pessoas não acreditam no salário que ganhamos nas universidades, onde passei a vida toda. É preciso buscar outras fontes de renda e terminar a semana totalmente esgotado, porque não dá tempo de zero.
Porquê está o entrada à comida e a serviços públicos?
Hoje se pode conseguir muitas coisas, inclusive importadas. Há grande quantidade de negócios que chamamos de ‘bodegones’, que estão nas mãos de pessoas que chamamos de “enchufados”. São pessoas que têm conexões com o regime. Ali se consegue qualquer quantidade de coisas, mas o problema está no preço. As pessoas não têm moeda para comprar. Por outro lado, estão sendo feitas umas construções incríveis, com a última vocábulo em arquitetura, mas estão vazias, o que faz pensar que possam ser lavagem de moeda. Na cidade, há zonas com as ruas em situação terrível. Há problema de coleta de lixo. Nos falta eletricidade. Terebrar uma página da internet pode levar quase meia hora. Os filhos do pessoal que trabalha na minha lar estão indo unicamente duas vezes por semana na escola, porque os professores não podem ir trabalhar mais que isso por falta de salário. Assim, quando os estudantes chegam nas universidades, estão com deficiências de formação gravíssimas.
Qual o projecto da oposição para reconstruir a economia?
Será necessário olhar para a crise humanitária e porquê conseguir recursos para a população. Hoje, os hospitais estão sem materiais e as clínicas particulares estão vazias porque ninguém tem moeda para remunerar o que elas cobram. Precisará ser feito um diagnóstico para saber o que temos. Não temos nenhum oferecido sobre as contas públicas. A Venezuela não vai se restabelecer da noite para o dia.
Acredita que o governo Maduro aceitará uma rota?
Será um pouco a ser medido no momento, sem se antecipar. Não seria adequado nem prudente [falar disso agora]. Não se revela estratégias, mas penso que o país não estaria disposto a concordar um não-reconhecimento do resultado.
Porquê a senhora e seu partido enfrentaram o impedimento da sua candidatura?
Os responsáveis pelo cadastramento dos candidatos argumentaram que não sabíamos usar o sistema eletrônico. Só que as mesmas pessoas que bloquearam minha letreiro estavam cadastrando outros candidatos. Encaramos isso e passamos a discutir a candidatura de Edmundo González Urrutia. O nome dele recebeu o base de Maria Corina Machado e de todos os outros representantes da Plataforma Unitária e conseguimos realizar o seu registro eleitoral.
Porquê a oposição tem sofrido ações de cerceamento?
As liberdades estão comprometidas. Jornalistas não têm liberdade para fazer entrevistas. Quando se aproximam de Maria Corina ou qualquer outro de nós, geralmente acabam perseguidos e presos. Uma segmento grande da equipe de Maria Corina está refugiada na embaixada da Argentina. Outros estão presos. Se nos hospedamos em um hotel no interno do país, os órgãos de governo depois fecham os negócios. Há pouco tempo, um prefeito quase foi recluso depois de ter permitido uma revelação em sua cidade. A própria população impediu sua detenção. Há casos de pessoas que foram convocadas para trabalhar porquê mesárias e que não conseguiram realizar os cursos de capacitação online, porque desde o primeiro dia foram bloqueadas do sistema do Parecer Vernáculo Eleitoral e perderam o entrada à senha.
O que os membros da oposição estão fazendo para se manter seguros?
Todos nós da Venezuela estamos sempre em risco, porque cá basta que haja uma divergência para que alguém possa ser perseguido e punido. Há muitas maneiras para isso. Por exemplo, nos seguem na rua, mesmo que depois não aconteça zero. Não temos meios para remunerar equipes de segurança. Estamos ao final protegidos pela própria população.
Para a senhora, qual pode ser a imposto do Brasil para o processo eleitoral na Venezuela?
As falas de Lula e Gustavo Petro [presidente da Colômbia] foram determinantes para ajudar a prometer que as eleições sejam confiáveis. A comunidade internacional tem muito a proferir. Não estou falando de intervenções militares, mas de reconhecer o que está acontecendo no país.
Em uma situação que gerou uma crise internacional, o governo Maduro fez uma campanha, no termo de 2023, para se apossar do território de Essequibo que hoje pertence à Guiana. Porquê a oposição lida com esse tema?
É um território que está em situação de questionamento por muitíssimos anos. Mas eles [o governo] se equivocaram e a aposta no nacionalismo não surtiu efeito, de modo que eles não voltaram a tocar no tema.
A Venezuela vive há anos um problema migratório muito grave, com milhões de pessoas deixando o país por conta da situação econômica. Porquê está esse movimento agora?
Esse é um problema muito sério e há o risco de uma novidade vaga de transmigração. Existem pessoas que estão dispostas a voltar e outras que dizem que pensam em vir à Venezuela unicamente para visitar. Tenho familiares que saíram do país e que não sabem se voltam um dia. É difícil deixar para trás a vida que se construiu em outro país. Conheço pessoas que falam sobre renovar seus passaportes para poderem voltar para a Venezuela. Mas, para isso intercorrer, é preciso uma mudança cá.