Taxas de juros caem com declarações de Galípolo e apetite global por risco

Os juros futuros recuaram em boa secção da curva nesta segunda-feira (19), favorecidos pelo aumento do gosto global ao risco e pela melhora da crédito na postura técnica do Banco Mediano (BC), a partir das declarações do diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo.

O recuo firme do dólar para perto de R$ 5,40 e a queda na mediana de IPCA de 2025 no Boletim Focus completam o conjunto de fatores a explicar o desempenho das taxas.

No fechamento, a taxa do contrato de Repositório Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,845%, de 10,839% no ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2026 caía de 11,65% para 11,58%.

O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 11,41% (de 11,56%) e o DI para janeiro de 2029, taxa de 11,38% (de 11,50%).

O recuo foi mais acentuado no miolo da curva, refletindo a melhora das expectativas para a política monetária a médio prazo, por sua vez, decorrente tanto da leitura da pesquisa Focus quanto do exposição de Galípolo.

A economista-chefe da CM Capital, Carla Argenta, explica que nas últimas semanas a informação do diretor já vinha se alinhando ao tom dos documentos do BC e a fala de hoje parece ter ausente de vez a possibilidade de interferências políticas nas decisões do Copom, que em 2025 será constituído majoritariamente por integrantes indicados pelo presidente Lula.

“O BC assim retoma a credibilidade que foi afetada desde o último dissenso na reunião de maio”, afirma.

Durante evento em Belo Horizonte, ele afirmou que o Copom vai com “todas as opções sobre a mesa” e reiterou a disposição de “toda a atual diretoria nomeada por Lula” de sublevar juros se for necessário. Galípolo é o nome mais cotado para suceder Roberto Campos Neto em 2025.

Ainda, reiterou o compromisso do BC de perseguir a meta de inflação de 3%, mas disse que “declarar que o balanço está irregular não é nenhum tipo de guidance”, lembrando que faltam quatro semanas para a reunião de setembro e que os dados serão fundamentais para a decisão.

Nas mesas de renda fixa, ao endossar de que não há guidance e que os dados é que definirão o jogo, Galípolo acabou provocando uma correção de excessos na precificação do orçamento de aumentos da Selic.

“Entendo que a fala está mirando uma precificação exagerada do mercado, uma vez que, por exemplo, altas de 50 pontos em todas as reuniões deste ano. Colocando em perspectiva essa frase dele (de que não há guidance) e a fala de Campos Neto na semana passada, de que o Copom não ofereceu guidance, estão deixando a portar oportunidade para manter a Selic, sim. Acho que o câmbio é que vai ditar o que vão fazer”, avalia o economista-chefe da Novidade Futura, Investimentos, Nicolas Borsoi.

Para Argenta, da CM, a precificação exagerada da curva zero tem a ver com fundamentos, mas sim com a credibilidade arranhada do BC.

“A perda de crédito foi o que fez a precificação subir e tinha ajudado a colocar o dólar em R$ 5,60”, disse. “Os fundamentos da economia não são para dólar a R$ 5,60. O que temos hoje (R$ 5,40) me parece mais justo”.

Nos documentos, o BC utilizou um câmbio de R$ 5,55 nas suas projeções de inflação. A taxa hoje fechou em R$ 5,4120. E, se mantida ao volta desse nível, a percepção é de que pode perfurar espaço para uma segurança da taxa ou para reduzir o orçamento totalidade de altas que seriam necessárias para trazer a inflação de volta à meta.

A economista da CM lembra ainda que a perda de reputação do BC vinha distorcendo também a pesquisa Focus, quando o mercado puxava a Selic para cima e, ao mesmo tempo, as expectativas de IPCA aumentavam.

“Não fazia sentido. As projeções de juros subiam e as de IPCA também pioravam, mas era alguma coisa que também tinha a ver com a questão da credibilidade”, explica.

Não por eventualidade, desde que Galípolo intensificou sua informação “hawkish” as medianas mostram um comportamento mais harmónico.

No Focus de hoje, a de IPCA 2025, ano meão do horizonte da política monetária, voltou a recuar, pela segunda semana consecutiva, de 3,97% para 3,91%, ainda longe da meta de 3%. A de Selic para 2025 subiu de 9,75% para 10%.

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