
Um americano normal, típico e o guarda da esquina
Donald Trump sofre atentado em comício na Pensilvânia
“Já vem o peso do mundo
Com suas fortes sentenças.
Sobre a pataratice e a verdade
Desabam as mesmas penas.
Apodrecem nas masmorras, juntas,
A culpa e a inocência.”
Poema Romance LI ou das Sentenças, Cecilia Meireles
Em um primeiro momento, foi impossível não pensar no estranho e obscuro incidente da facada em Juiz de Fora. Um ex-presidente americano,
candidato dos Republicanos à Presidência dos EUA
em 2024, exibindo-se uma vez que herói, punho fechado, rosto e peito se oferecendo uma vez que objectivo, somente 10 segundos em seguida os tiros, com a bandeira americana ao fundo e sendo segurado no basta por seguranças, parecia uma imagem montada de uma propaganda de campanha. Uma facada ianque. Mas o desenrolar das investigações indica que houve sim um atentado. O atirador,
um lobo solitário, errou o objectivo e atingiu, de relance, na ouvido, o candidato Trump. Acertou, precisamente, a Democracia.
Tudo é terrífico nesse incidente. Mas o que mais impressiona, e preocupa, até agora, é a definição do jovem terrorista que atentou contra a vida de um ex-presidente americano. A prensa o define uma vez que um jovem dócil, sem pretérito de violência, gentil com os amigos, que fez um curso médio com louvor, embora muito jovem, e sem histórico de participação em atividades extremistas. Esse jovem frequentava cursos de tiro. A arma que usou, um fuzil AR-15, foi comprada pela família em uma loja regular que vende armas indiscriminadamente. Ele mantinha em seu carruagem explosivos, também comprados legalmente, e usava uma camiseta que fazia apologia às armas. Ou seja, um americano médio, normal.
Esse atirador, que foi morto logo em seguida o atentado, era fruto de uma vaga de extrema direita que assola o mundo. O ex-presidente, alvejado por ele, sempre desprezou a Democracia. Com recorrência, incita, pública e oficialmente, a violência. Incentivou o ataque ao Capitólio, tentou derrubar a Democracia, falou, ocasião e despudoradamente, contra a legitimidade das eleições nas quais ele foi derrotado, não aceitou o resultado das urnas eainda apoiou e insuflou o golpe contra o Estado democrático de recta.
Vejam! Estou falando do ex-presidente dos EUA e não do seu seguidor tupiniquim. É nesse envolvente que florescem os “homens de muito”, frequentadores dos cultos em reverência aos deuses estranhos e que, depois, saem fortemente armados para constatar contra a vida, até de um ex-presidente da República.
Esse dramático e grave incidente me remete a outro, também da extrema direita. Em 1968, em meio à sangrenta e cruel Ditadura militar no Brasil, os generais resolveram minguar aquele que seria um dos mais terríveis golpes na Democracia: o AI-5. Conta a história que o logo vice-presidente da República, Pedro Aleixo, instado a assinar o ato, negou-se. O General que o procurou argumentou que ele poderia incumbir, pois a concentração de poder estaria nas mãos dos generais e que o vice-presidente conhecia muito todos eles. A resposta do Pedro Aleixo se adequa, ainda hoje, à sanha golpista da direita radical: “General, o que me preocupa não são os generais, mas os guardas da esquina”.
Os terroristas de 8 de janeiro,
o bolsonarista que matou o petista no dia do natalício, o jovem que atirou e acertou a ouvido de Trump, todos esses, insuflados pelo ódio e pela violência da extrema direita, são os “guardas da esquina” que atentam contra o Estado democrático de recta.
Remeto-me ao poeta Augusto dos Anjos, no poema Versos Íntimos:
“Acostuma-te à lodo que te espera!
O Varão,que, nesta terreno miserável,
Mora entre feras, sente inevitável
Premência de também ser fera.”
Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay