
Nova troca no comando expõe instabilidade na Petrobras
Ex-presidente da Petrobras Jean Paul Prates no Rio de Janeiro em 2 de março de 2023
MAURO PIMENTEL
A Petrobras mudará mais uma vez de presidente, expondo novamente a instabilidade na estatal em um momento em que o setor petroleiro tem pela frente grandes desafios com a transição energética.
Exonerado na noite de terça-feira pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Jean Paul Prates, já enfrentava um possante desgaste pela distribuição de dividendos extraordinários aos acionistas.
Ficou menos de um ano e meio no incumbência. A maior empresa brasileira terá em breve seu sexto dirigente em pouco mais de três anos.
Sua saída, aprovada na quarta-feira pelo Recomendação de Gestão da Petrobras, despertou a preocupação dos investidores: o preço das ações ordinárias caiu 6,78% na Bolsa de São Paulo, enquanto as ações preferenciais despencaram 6,04%.
“A mudança na presidência da Petrobras afeta o preço das ações devido às expectativas do mercado sobre a novidade gestão, abrindo espaço para especulações sobre políticas de preços, incertezas sobre dividendos e a influência política na empresa”, analisa Hayson Silva, da corretora Novidade Futura Investimentos.
A Petrobras, registrou em 2023 um lucro líquido de 24,8 bilhões de dólares, uma queda de 32,1% em relação a 2022, devido às baixas nos preços do petróleo.
Porém, foi o segundo ano mais lucrativo de sua história.
Pouco mais da metade do capital da sociedade de economia mista pertence ao Estado brasiliano e o restante a acionistas privados. Seu presidente é nomeado pelo Governo.
– Uma vez que um ministro –
Nomeado pouco depois de Lula retornar ao poder, em janeiro de 2023, Jean Paul Prates, ex-senador de 55 anos, deverá ser substituído por Magda Chambriard, de 66 anos, ex-diretora-geral da Escritório Pátrio do Petróleo.
Sua indicação, que ainda deve ser aprovada pelo Recomendação de Gestão, foi confirmada na quarta-feira pela empresa, que também anunciou Clarice Coppetti, membro da atual direção, uma vez que presidente interina.
Por ser controlada pelo Estado, a petroleira “está sujeita a um ciclo político”, explica à AFP Mauricio Canêdo Pinho, professor de Economia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), que compara o tempo de permanência de um presidente da Petrobras “ao de um ministro”.
“Ele é trocado com uma frequência muito maior do que companhias de porte similar do mesmo setor”, acrescenta.
O desgaste de Prates começou em março, quando o Recomendação de Gestão decidiu não remunerar a seus acionistas nenhum dividendo inédito sobre o lucro de 2023.
Os preços das ações despencaram e os analistas interpretaram a decisão uma vez que resultado de interferência estatal nos assuntos da empresa.
A Petrobras finalmente voltou detrás e aprovou o pagamento de 50% desses dividendos em abril.
– “Rotina” –
“Se ele não atende ao que o governo quer, não atende na velocidade que o governo quer, e aí ele é despedido”, indica Adriano Pires, diretor do Meio Brasílico de Infraestrutura.
Segundo ele, a prioridade do Governo é “pulverizar o investimento”.
“Um dos setores em que pretende investir é a transição energética, portanto ela está falando de óleo diesel verdejante, ela está falando de eólico off-shore, da discussão de combustíveis do porvir…”, afirma.
O petróleo é um tema quebradiço para Lula, que apresenta-se uma vez que padroeiro do meio envolvente, mas já indicou várias vezes que continua comprometido com a exploração de hidrocarbonetos, recurso importante para o país.
Canêdo Pinho não espera “uma guinada de 180 graus”, mas “uma queda de braço” dentro da empresa e inclusive em setores divergentes do Governo.
De um lado, coloca aqueles que querem partilhar dividendos e que também permitem engordar os cofres públicos e do outro os que advogam por “uma política mais agressiva nos investimentos”.
O deputado Eduardo Bolsonaro (PL_SP), fruto do ex-presidente Jair Bolsonaro (2019-2022), afirmou na quarta-feira no X que a Petrobras corre o risco de “naufragar” com as decisões de Lula.
José Guimarães (PT-CE), líder do Governo na Câmara, lembrou que as mudanças adiante da Petrobras eram “rotina” no governo Bolsonaro, que “demitiu o presidente da Petrobras três vezes em um ano”.