Entenda como as eleições nos Estados Unidos podem afetar o Brasil

À medida que os Estados Unidos se aproximam da eleição presidencial, cresce a expectativa ao volta do mundo sobre quem ocupará o Salão Oval da Moradia Branca, o republicano Donald Trump ou a democrata Kamala Harris.

Enfim, o resultado da disputa do dia 5 de novembro deve afetar não somente os rumos da política interna americana, mas vários países que mantém relações próximas com a maior potência econômica e militar do mundo, incluindo o Brasil.

Na reta final da campanha, ainda não está simples quem serão os nomes designados para ocupar os gabinetes de um verosímil do governo de Kamala ou de Trump, inclusive para os assuntos relacionados à América Latina e ao Brasil, mas os especialistas em relações internacionais já fazem algumas projeções.

 

 

Meio envolvente

É provável que Kamala Harris herde segmento da equipe do presidente Joe Biden e também dê perenidade a algumas de suas políticas. Ao longo da campanha e de seu procuração uma vez que vice-presidente, Harris adotou uma postura pró-clima e de resguardo do meio envolvente, um dos temas em que o Brasil tem maior projeção no cenário internacional.

Bruna Santos, diretora do Brazil Institute no Wilson Center, um think tank qualificado pelo Congresso dos EUA, avalia que a agenda de transição energética e de investimentos verdes dos governos atuais deve se manter em caso de vitória do Partido Democrata. Um exemplo deste alinhamento é a Parceira para o Clima assinada em julho pelo ministro da Rancho, Fernando Haddad, e a secretária do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, com o objetivo de proceder a cooperação internacional para enfrentar a crise climática.

Já a campanha de Donald Trump prometeu na sexta-feira (30) virar muitas das iniciativas do governo Biden para o clima caso retorne à Moradia Branca, ao mesmo que aceleraria as aprovações de usinas de vontade para atender à crescente demanda de eletricidade do país.

A campanha do ex-presidente também já adiantou que, sob a presidência de Trump, os Estados Unidos poderiam deixar mais uma vez o Concórdia de Paris. “A agenda de meio envolvente deve transpor da taxa, e, com isso, o Brasil ganha ainda mais liderança regional neste tema, mormente dentro de fóruns uma vez que o G20 e a COP”, afirma Bruna.

Lula na COP28, em Dubai • Sean Gallup/Getty Images

Relação com a China

Independentemente de quem vencer as eleições, os Estados Unidos também devem se manter atentos à relação do Brasil com a China e outros adversários do governo americano. A China é o maior parceiro mercantil do Brasil, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sinalizou recentemente que pode aderir ao megaprojeto de infraestrutura chinês Belt and Road Iniciative (Inicitativa Cinturão e Rota, em português), ao qual os Estados Unidos se opõem.

O governo americano também deve observar de longe a evolução dos BRICS, conjunto formado pelo Brasil, China, Rússia, Índia, África do Sul, Egito, Etiópia, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Irã. Na última cúpula do grupo, os líderes avançaram nas discussões sobre o uso de moedas alternativas ao dólar para diminuir a obediência da moeda americana para negociações internacionais.

Reunião de cúpula do Brics em Johanesburgo, África do Sul • Presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil), Xi Jinping (China) e Cyril Ramaphosa (África do Sul), primeiro-ministro da Índia Narendra Modi e ministro do Exterior da Rússia, Sergei Lavrov posam durante reunião de cúpula do Brics em Johanesburgo, África do Sul 23/08/2023 GIANLUIGI GUERCIA/Pool via REUTERS

Mercado global

Durante a corrida presidencial, Trump ainda criticou outros mecanismos de cooperação internacional, uma vez que a Organização do Tratado do Atlântico Setentrião (Otan). O ex-presidente prometeu diminuir o investimento dos Estados Unidos na confederação de segurança, o que causou preocupação entre países europeus, principalmente em meio à guerra na Ucrânia. Caso os Estados Unidos, maiores aliados da Ucrânia, reduzissem os investimentos em segurança na Europa, os impactos em diversas cadeias globais também poderiam ressoar sobre o Brasil.

Em 2022, por exemplo, o mercado global de vitualhas foi afetado pelo confito entre Kiev e Moscou. O Brasil observou o aumento nos preços dos fertilizantes e o temor pela escassez dos insumos enviados pela Rússia, maior fornecedor do resultado para o mercado brasílio. O Brasil também depende de mais de 5 milhões de toneladas de trigo da Ucrânia.

Por isso, a ação dos Estados Unidos em relação a temas não ligados ao Brasil também pode repercutir indiretamente sobre o país.

Grãos sendo carregados em caminhão na região de Odesa, Ucrânia • . REUTERS/Igor Tkachenko/File Photo

Política externa firme

Apesar das diferentes propostas de Kamala Harris e Donald Trump para a política interna americana, especialistas em Relações Internacionais apontam que a relação entre o Estado brasílio e os Estados Unidos deve se manter firme independentemente de quem vencer a disputa pela presidência.

Depois a eleição de 2018, por exemplo, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e Donald Trump cultivaram uma relação mais próxima, que esfriou com a eleição do presidente Joe Biden em 2020, e foi retomada com a vitória de Lula em 2022.

O professor de Relações Internacionais Carlos Gustavo Poggio destaca que a política externa americana teve poucas grandes transformações nos últimos anos e, por mais que os calendários eleitorais alternados proporcionem momentos de alinhamento e distanciamento pontual entre governantes, a relação mercantil, de investimentos e até mesmo o alinhamento do Brasil aos Estados Unidos em fóruns internacionais não viram mudanças significativas.

Bruna Santos explica: “os dois países têm uma estrutura de relação bilateral que é consolidada, institucionalizada e que não necessariamente depende somente da diplomacia presidencial para viver”.

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