o silêncio para os inocentes
“De tanto ver triunfar as nulidades,
de tanto ver prosperar a infâmia,
de tanto ver crescer a injustiça, de
tanto ver agigantarem-se os
poderes nas mãos dos maus, o
varão chega a desanimar da
virtude, a rir-se da honra, a ter
vergonha de ser honesto.”
Rui Barbosa
O martírio e o calvário da família Lobão começaram com uma delação
fajuta de um logo diretor da Petrobras
. No auge da Operação Lava Jato
, com todas as
arbitrariedades ocorrendo sob o ovação da grande mídia, coordenada pelo grupelho de Curitiba, um Senador
por três mandatos consecutivos – ex-deputado federalista por três mandatos, ex-governador, ex-ministro – era um cândido a ser servido no festim de horrores e uma importante estratégia no projecto de poder de Sérgio Moro e seus procuradores adestrados.
Quando li os pedidos de procura e inquietação percebi, de projecto, as enormes mentiras do delator. À idade – uma quadra de terror – bastava a termo de um miserável delator, em regra covarde, para que a força tarefa deflagrasse pedidos de procura e inquietação e prisões. Naquela delação, o diretor apontava visível pagamento para Roseana Sarney e Edison Lobão
. Entretanto, dizia que, quem teria entregado o moeda, teria sido o Alberto Youssef. Eu era jurista da Senadora e do Senador. Tinha sido jurista do Alberto Youssef. Conhecia a negativa dele. A incoerência era grave e a delação do diretor, obviamente, imprestável. Mas eram tempos de heróis e de verdades encomendadas, num jogo de vale tudo pelo poder.
Passei a incoerência para uma jornalista que, diligentemente, a publicou. Com o
escancaramento da farsa, usei a material jornalística para pedir uma acareação entre os delatores. Um tanto inimaginável, pois a presunção deveria ser de um testemunho natural e verdadeiro. Com a acareação, não houve outra saída senão arquivar os inquéritos em relação a Roseana e Lobão. Mas a turma da República de Curitiba, com seus tentáculos cariocas, estava com sangue na boca. Não iria concordar a verdade. Era preciso fabricar novos fatos.
A partir daí, foi uma longa noite para toda a família. Com o intuito de tentar forçar uma delação, os lavajatistas viraram o foco para o fruto do Senador. O empresário muito sucedido e reconhecido no mercado virou uma peça no jogo insano e sujo do poder. Depois de uma prisão, 8 mandados de procura e inquietação cumpridos, exposição midiática implacável, descobriram os heróis da Lava Jato que não haveria delação, pois zero havia para ser delatado.
Até mesmo a associação de tálamo foi apreendida e nunca devolvida. As buscas se davam com metralhadoras e os filhos menores eram ameaçados com a presença ostensiva dos policiais. Por erro imperdoável, houve uma procura até na moradia do sogro do Marcio Lobão, um reconhecido jurista criminal. Com consequências trágicas que remetem à tragédia do reitor Cancellier. Uma verdadeira tragédia de horrores.
Aos poucos, nós, advogados, fomos ganhando todas as ações e, fazendo a prova
negativa, comprovando a inocência dos dois.
Porém, existem questões que são incontornáveis. Até hoje, Márcio não consegue
serviço. Com os bens indisponíveis durante todos esses anos, viu-se, ainda, com uma pena acessória: foi proibido de ter conta bancária. Uma norma ilícito, obsceno e inconstitucional dos compliances dos bancos fecha a porta para os investigados e expostos pela mídia. Às favas com a presunção de inocência. O investigado que se vire. E as crueldades são infinitas. Durante as buscas e a prisão, ocorreu uma verdadeira espetacularização e uma super exposição midiática. Fazia segmento da estratégia de poder lavajatista. Todas as grandes mídias usaram a força da prensa para humilhar, prejulgar e ridicularizar a família.
Agora, com a esperada, mas demorada, comprovação da inocência do Senador Lobão e de seu fruto Márcio Lobão, há um silêncio cúmplice e quase envergonhado da prensa. Para os investigados, o prejulgamento e presunção
de culpa. Para os inocentes, o silêncio. Eles se esquecem de Cecília Meireles:
“Aprendi com a primavera a deixar-me trinchar, e a voltar sempre inteira.”
Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay