Eles criaram um van elétrica do zero no interior do RS. Hoje já fazem R$ 35 milhões pelas ruas do BR

CAXIAS DO SUL (RS)* — Quando a empresa gaúcha Arrow apresentou sua van elétrica numa feira de transportes em São Paulo há dois anos, a pergunta que mais ouvia era: de onde importava o resultado. Os visitantes do estande queriam saber se a tecnologia e o design do veículo vinham da Ásia, da Europa ou da América do Setentrião.

“Nós importamos de Caxias do Sul”, respondiam os fundadores do negócio, em tom de pândega.

Isso porque o veículo da Arrow é totalmente brasílico. Até o motor, importado, foi desenhado em parceria com os engenheiros da Arrow. Tirando esse item e a bateria, importada da China, praticamente tudo no veículo é brasílico — e de Caxias do Sul. 

“No nosso veículo, com exceção das rodas e dos espelhos retrovisores, o resto todo é feito em Caxias do Sul”, diz Júlio Cesar Balbinot, um dos fundadores da Arrow. “Os vidros, os painéis laterais, as peças de conclusão, a iluminação, os logos. Tudo isso é de uma rede de fornecedores de Caxias do Sul”. 

A EXAME visitou a fábrica da empresa no início de novembro, na cidade serrana sobre 120 quilômetros da capital gaúcha, Porto Satisfeito. Por ali, os veículos são montados numa risca que mistura processos tecnológicos e automatizados com etapas manuais, num quê de artesanal. Tapume de 50 pessoas atuam diretamente na fabricação. 

Neste ano, a Arrow deve fabricar murado de 50 vans elétricas, cada uma vendida por um preço na morada dos 750.000 reais. Todas elas estão vendidas. A maioria é para a varejista Mercado Livre, que comprou 50 veículos ainda no ano pretérito. Algumas vão também para a To Do Green, uma startup de entregas verdes de quem principal cliente é a Amazon. 

Para o ano que vem, a risca deve praticamente inflectir de tamanho, chegando a 100 veículos produzidos em 12 meses. Neste ano, a empresa faturou 35 milhões de reais. 

Porquê a Arrow nasceu

Porquê uma empresa do interno do Rio Grande do Sul vai trespassar de zero veículos produzidos em 2022 para 100 produzidos três anos depois? 

A resposta começa na origem e na curso dos fundadores da Arrow. Júlio Balbinot, Jocelei André Salvador e Marcelo Simon, os três gaúchos por trás do projeto, vêm de uma trilha profissional parecida. Todos eles eram funcionários da Marcopolo, multinacional brasileira operário de carrocerias de ônibus.

Na pandemia, a montadora de ônibus precisou fazer demissões para reajustar os custos com a queda de demanda. Os três decidiram juntar segmento desse time para oferecer serviços de engenharia para ônibus para empresas pelo mundo. 

“Atendemos empresas em Londres, no Egito, na Espanha, na Índia e também no Brasil”, diz Júlio. “Em um determinado momento nós olhamos para dentro de morada e pensamos: ‘será que não conseguimos fazer um resultado nosso?’”. 

Eles já tinham em mente que não queriam fazer um ônibus, até para não concorrem com os clientes do serviço de engenharia. Foram ao mercado e viram uma explosão no e-commerce. Logo, mapearam a possibilidade de fazer uma van para entregas. Conversaram com gigantes do setor e identificaram, além da demanda, uma dor do setor: os veículos demoravam para serem carregados com a mercadoria, e o entregador demorava para deixar cada resultado na morada do cliente. 

“Numa van tradicional, o faceta precisa trespassar do veículo, caminhar até a porta traseira, terebrar a porta. Aí quando ele pega a caixa, ele sai pela porta traseira. Precisa colocar a caixa no pavimento para fechar a porta. Não parece, mas é um processo demorado”. 

A teoria estava desenhada: fazer uma van elétrica capaz de facilitar o processo de entrega e atender uma demanda cada vez maior do varejo, das compras em morada. Só faltava o quantia.

Porquê a Arrow financiou o projeto

“Mas a gente não tinha quantia”, brinca Júlio.

A estratégia foi montar uma apresentação e desancar na porta das grandes empresas de varejo e de logística, em procura de alguém esperançoso no projeto a ponto de comprar as vans antes delas ficarem prontas. 

“Depois de nos apresentar mais de 150 vezes, falamos com o Breno Campolina. Ele era um dos principais diretores da locadora Unidas, depois comprada pela Localiza”, diz Júlio. “Ele disse que o mercado precisava de nosso resultado e ele tinha demanda. Decidiu comprar 100 unidades num prazo de 12 meses. Aceitamos o duelo”.

Ou seja, a Arrow tinha 12 meses para tirar do papel uma van existente, até logo, nos cálculos dos engenheiros e no Power Point dos vendedores. Missão dada, missão cumprida. 

A empresa utilizou o estágio que já tinha da quadra da Marcopolo, encontrou fornecedores e mobilizou um time de engenharia seco, mas eficiente para o projeto. 

“Já tínhamos apanhado em algumas coisas, mas basicamente o que a gente fez foi mobilizar uma engenharia já pronta, um concepção desenvolvido, e desenvolver um projeto sem se preocupar com um motor enorme na segmento frontal da van”, diz Jocilei. 

“Conseguimos lançar o Arrow One em 12 meses. Finalizamos ele em setembro de 2022 e o lançamos em novembro de 2022 na Fenatran”, afirma Julio. “Hoje, dois anos depois, somos uma empresa com investidores, parecer de gestão e estruturados para crescer”.

Porquê é a van da Arrow

A Arrow projetou suas vans com três pilares: 

  • eficiência
  • sustentabilidade
  • design

A primeira inovação foi estrutural: ao contrário dos veículos tradicionais, cuja engenharia começa pelo motor, a Arrow iniciou seu projeto pensando no espaço para trouxa e na ergonomia do motorista. 

Sem um motor a esbraseamento ocupando a frente, as vans da Arrow têm um para-brisa mais inferior e uma cabine ampla, onde o motorista pode se movimentar facilmente. “Entrar no nosso veículo é uma vez que entrar numa sala”, diz Júlio.

A feitio sem componentes mecânicos supra do assoalho também criou um design mais espaçoso. A Arrow One carrega 60% mais volume do que as vans tradicionais do mesmo tamanho, com um assoalho projecto que facilita a organização das mercadorias. 

“Nosso veículo foi pensado para entregar mais rápido e lucrar eficiência”, diz. “A cada paragem, economizamos em média um minuto. Multiplique isso por 180 entregas diárias e temos três horas a mais de produtividade”. 

Esse proveito de tempo foi validado em testes: enquanto uma van geral entrega murado de 170 pacotes, a Arrow One entrega até 393 pacotes.

E cá tem outro diferencial: para pegar uma mercadoria numa van tradicional, o entregador precisa trespassar do veículo, terebrar o porta-malas e pegar a trouxa por lá. No sistema da Arrow, ele consegue acessar a trouxa internamente, uma vez que se fosse um motorista de ônibus indo para a dimensão dos passageiros. Aliás, ele nem precisa deixar a trouxa no pavimento para terebrar a porta. Uma pulseira com chip libera a porta mal ele se aproxima de um botão. 

“Qualquer van elétrica vai proporcionar redução nos custos de combustíveis”, diz. “Para sermos competitivos, tínhamos que ter outro diferencial. E foi no tamanho do baú, que permite mais trouxa, e na facilidade para ter mais entregas”.

A van da Arrow tem autonomia de até 200 quilômetros por trouxa e economia de combustível de até 80% em relação ao diesel. A manutenção, em verificação com veículos a esbraseamento, também é simplificada, com menos peças móveis e uma expectativa de vida útil de até 13 anos para as baterias, mesmo com recargas diárias.

Qual será o horizonte da Arrow 

A Arrow está em tempo de expansão acelerada e tem grandes ambições para o horizonte. Em 2024, a empresa pretende inflectir sua produção para 100 vans e já projeta aumentar esse volume nos próximos anos com a ajuda de novos investimentos e uma terceira rodada de captação em curso.

“Nosso objetivo é reduzir o tempo de entrega das vans, o que é necessário em um mercado tão competitivo”, afirma Balbinot.

A internacionalização também faz segmento dos planos, com estratégias voltadas para a América Latina. Hoje, a Arrow já tem um representante na Argentina e procura ampliar sua presença em mercados latino-americanos. 

Aliás, a Arrow explora o desenvolvimento de um padrão de van menor para variar seu portfólio.

Para sustentar o prolongamento, a empresa investe no atendimento pós-venda e planeja substanciar a assistência ao cliente. 

“O mercado demanda não só a produção, mas um bom atendimento depois a venda. Nosso time já acompanha os clientes para entender as necessidades específicas de cada operação. Esse zelo com o cliente será necessário para sustentar nossa expansão”, comenta Balbinot.

Outro ponto de inovação envolve novas tecnologias no transporte elétrico e em automação, uma vez que veículos robóticos para logística interna. A Arrow está desenvolvendo sistemas auxiliares que visam otimizar o carregamento das vans e a conferência de mercadorias, o que deve tornar as operações de entrega ainda mais eficientes.

*A reportagem viajou a invitação da Arrow

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