A vida sem praia de um bairro de trabalhadores em Cancún

CARL DE SOUZA

Um varão descansa em uma praia em Cancún, México, em abril de 2024

CARL DE SOUZA

Em Cancún, o coração do Caribe mexicano, onde milhões desfrutam do mar azul-turquesa e dos luxuosos serviços turísticos, Yazmin e Rosalina trabalham duro para que, com sorte, suas famílias possam visitar a praia algumas vezes por ano.

Ambas moram em Villas Otoch Paraíso, um condomínio localizado sobre 30 quilômetros do Boulevard Kukulkán, a luxuosa zona hoteleira que move esta cidade fundada há 53 anos.

No ano pretérito, o aeroporto de Cancún recebeu 32,7 milhões de visitantes – 63% estrangeiros, segundo dados oficiais -, para visitar levante ou outros resorts vizinhos, uma vez que Playa del Carmen ou Tulum.

Dificilmente os turistas se animam a visitar Villas Otoch, o condomínio fundado em 2007, com tapume de 40.000 habitantes. Múltiplas notas de prelo na internet reforçam o estigma que carrega uma vez que “o bairro mais perigoso de Cancún”.

Yazmin Terán lembra o exaltação com que ela e sua família chegaram há 15 anos, vindos de Oaxaca (sul), animados por um trabalho “melhor remunerado” no próspero setor turístico para seu marido.

“Você vê na televisão as praias, os lugares turísticos, a zona hoteleira e diz ‘uau!’, mas você chega cá em Cancún e descobre que nem tudo é assim. O bonito está lá na zona hoteleira”, diz Terán, uma professora de 41 anos.

“Nós que vivemos cá e que trabalhamos quase não temos tempo para ir à praia, ao mar, para usufruir”, acrescenta ela, cujas escapadas para a praia ocorrem “umas cinco vezes por ano”.

Outras famílias trabalhadoras precisam se organizar para coincidir com seus descansos e, se não possuem carruagem, se virar com a escassa oferta de transporte.

Aliás, embora as praias sejam públicas, na prática o aproximação é restrito aos hóspedes dos hotéis.

– Passeio custoso –

“Ir à praia também gera gastos (…), é preciso comprar lá ou levar um pouco para manducar”, aponta Terán, líder comunitária que organiza atividades solidárias para concordar crianças e idosos.

Num operação rápido, ela estima que uma família precisa de tapume de 500 pesos (154 reais) para passar um dia na praia na zona hoteleira. Um valor elevado considerando a renda média de Quintana Roo – estado onde está Cancún – de 8.000 pesos (2.433 milénio reais) por mês, segundo o portal especializado Talent.com.

Na subida temporada, uma única noite em um hotel cinco estrelas do Boulevard Kukulkán pode custar 2.000 dólares (10.291 milénio reais).

Os preços baixos das casas em Villas Otoch foram um ímã para trabalhadores do empobrecido sul mexicano – vindos de estados uma vez que Chiapas ou Tabasco – e de países uma vez que Guatemala ou Cuba, que se empregaram na construção ou em serviços ligados ao turismo.

Vistos do elevado, os blocos simétricos que somam 14.000 moradias, idênticas e de somente 35 metros quadrados, projetam ordem.

Mas ao nível do solo, os espaços estreitos e a deterioração urbana saltam à vista, em meio a um calor sufocante.

Problemas uma vez que a violência doméstica, mas sobretudo a presença de traficantes de drogas, que atendem à demanda da zona turística, não demoraram a brotar.

Segundo autoridades e meios de informação locais, a violência aumentou desde 2018 devido ao aumento do fluxo ilícito de armas e disputas entre os cartéis Jalisco Novidade Geração e Sinaloa, os mais poderosos do país.

– “A última fronteira” –

Enquanto os pais saem para trabalhar, muitas crianças ficam sozinhas em mansão ou brincando nas ruas. Murado de 40% não frequentam a escola, comenta Sofia Ochoa, gestora cultural que trabalha no bairro desde 2022.

Alguns são atraídos por gangues da dimensão. Experiências uma vez que tiroteios ou agravo sexual são comuns entre os menores, aponta Ochoa.

“Muitíssimas [crianças] não conhecem a praia”, disse ela, “e a avenida próxima López Portillo, que conecta com o resto da cidade, lhes parece a última fronteira”.

Ochoa e suas vizinhas, uma vez que Terán, se organizam para resgatar espaços públicos de Villas Otoch, uma vez que parques abandonados, frequentemente dominados pela criminalidade.

Para Rosalina Gómez, de 36 anos, que migrou de Chiapas fugindo da pobreza e de um pai violento, o principal contato com o esplendor turístico de Cancún é seu trabalho uma vez que funcionária de limpeza do aeroporto.

“Às vezes os turistas te dão gorjeta, te presenteiam com roupas, refrigerante ou te agradecem porque o banheiro está limpo. Isso é o que mais palato”, afirmou.

Mãe de Perla del Mar, uma rapariga de 15 anos com paralisia cerebral, ela visitou a praia pela última vez há quatro anos. “Não me sinto à vontade em ir me divertir na praia sabendo que tenho uma filha deitada em uma leito”, desabafou.

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