O ‘mahram’, a figura masculina obrigatória para as mulheres no Afeganistão dos talibãs

OMER ABRAR

Um varão afegão, uma mulher vestida de burca e uma rapaz caminham nas margens do rio Kokcha em Fayzabad, em 14 de fevereiro de 2024

OMER ABRAR

Sem ele não podem viajar para outra província, pegar um voo, entrar em um prédio público ou alugar um apartamento. Nascente é o “mahram”, o varão que obrigatoriamente deve seguir as mulheres no Afeganistão do Talibã.

Mariam, que uma vez que todas as mulheres consultadas pela AFP para esta reportagem se apresenta com um nome dissemelhante, tem 25 anos e trabalha em uma clínica.

Ela foi recentemente impedida de frequentar uma faculdade de medicina em Cabul, onde estudou por três anos antes de ser banida.

“Na ingresso, os talibãs nos disseram que precisávamos de um mahram. Mas meu irmão estava trabalhando, o da minha amiga não tinha idade suficiente e o pai deles morreu”, contou ela.

“Vi um menino na rua e ele concordou em nos ajudar”, se passando por seu irmão, relatou.

A regra do “mahram” já era observada no Afeganistão antes do Talibã retornar ao poder em agosto de 2021, sobretudo nas zonas rurais. Mas de opcional passou a ser obrigatória.

No islã, ‘mahram’ é um varão da família encarregado de prometer a segurança e a “honra” de uma mulher e, portanto, de seu clã.

– “Normas anacrônicas” –

“O mahram é mencionado no Alcorão, mas a tradição está em desuso”, explica Slimane Zeghidour, perito em islamismo.

No Afeganistão, entretanto, “o Alcorão e a sharia [lei islâmica] são a espinha dorsal do poder”, explica ele. O atual emirado “aplica integralmente as regras, mesmo as mais rigorosas e anacrônicas”.

O ‘mahram’ deve ser um varão da família imediata: marido, pai, tio, irmão, fruto ou avô.

No entanto, “há muitas mulheres que não têm um varão em lar”, diz Shirin, 25 anos, que depois de ter sido banida da universidade, está cursando um mestrado online.

A jovem conta quando planejou fazer um piquenique no ano pretérito. Estava em um micro-ônibus dirigido por seu primo, o único varão, quando de repente foram parados pelos talibãs, furiosos ao ver mulheres sentadas perto de um varão que não era seu “mahram”, diz Shirin.

Um talibã agarrou seu primo pela gola da camisa e as mulheres, aos prantos, foram forçadas a “voltar para suas casas”.

A exiguidade de um ‘mahram’ pode levar até mesmo à prisão.

– “Leis islâmicas” –

Em dezembro de 2021, os talibãs exigiram que as mulheres viajassem com um acompanhante masculino em qualquer viagem superior a 72 quilômetros.

Em março de 2022, foram proibidas de viajar de avião sozinhas, tanto em voos domésticos uma vez que internacionais.

Até mesmo para fazer a viagem até Meca, as afegãs precisam ir acompanhadas de um varão de sua família.

Para Spojmay, de 37 anos, o maior problema é “alugar um apartamento sem um mahram”, uma vez que seu pai morreu e os seus irmãos estão exilados.

No contrato de aluguel, ela diz que colocou a retrato de seu pai e, na sentimento do dedo, a da mana.

“O Talibã me espancaria e me colocaria na prisão se descobrisse”, conta a mulher que trabalha para agências da ONU.

As mulheres afegãs estão banidas de institutos, universidades e de muitos empregos públicos, muito uma vez que de frequentar parques e ginásios.

A política de acompanhantes masculinos “de vestuário confina as mulheres às suas casas” e é “incrivelmente vexante”, resume Sahar Fetrat, da ONG Human Rights Watch (HRW).

“Nosso país é governado pelas leis islâmicas”, responde à AFP o porta-voz do governo talibã, Zabihullah Mujahid, criticando “interpretações errôneas” do exterior, “baseadas em preconceitos”.

– Difícil ser um ‘mahram’ –

Khadija, de 25 anos e consultora de empresárias, conta que em Cabul “a situação é dissemelhante; podemos fazer compras” sem um acompanhante masculino.

A tradição também é menos rigorosa em cidades uma vez que Herat, no oeste, ou Mazar e Sharif, no setentrião, embora nas províncias mais conservadoras seja aplicada com rigor.

As ONGs e as agências da ONU são obrigadas a remunerar um valor suplementar pelo ‘mahram’ de suas funcionárias, que pode chegar a respeito de 40 dólares (quase R$ 206 na cotação atual) por dia.

Porquê a mulher é considerada menor de idade, seu acompanhante é seu responsável lítico, o que significa que se ela for acusada de descumprir alguma regra, ele poderá responder perante a Justiça.

Ahmad, 32 anos e irmão de Khadija, é o ‘mahram’ da mãe e de suas quatro irmãs. “Sou o único varão em lar”, diz ele que muitas vezes teve que seguir as irmãs para que não perdessem o serviço.

“Mas também tenho meu trabalho e preciso trespassar”, diz Ahmad, que afirma que antes do Talibã, suas irmãs “podiam ir a qualquer lugar”.

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