Senado acelera projeto que altera Lei da Ficha Limpa e reduz prazo de inelegibilidade de políticos

O Senado aprovou nesta quarta-feira um requerimento de urgência para o projeto de lei que reduz o prazo de inelegibilidade definido pela Lei da Ficha Limpa. Com a medida, o texto pode ser disposto diretamente em plenário. A previsão é que o préstimo do projeto seja votado na semana que vem, quando haverá esforço concentrado na Moradia Legislativa, com sessões presenciais.

A urgência foi aprovada pelo plenário de maneira simbólica, sem registro nominal dos votantes. Somente o senador Eduardo Girão (Novo-CE) se manifestou conta a iniciativa durante a votação.

O texto é relatado pelo senador Weverton Rocha (PDT-MA), que deu parecer favorável. A medida foi aprovada pela Percentagem de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado na semana passada e recebeu, na percentagem, o endosso de parlamentares que vão do PL ao PT.

De convénio com a iniciativa, o período de inelegibilidade continua sendo de oito anos, mas começa a ser narrado a partir da pena, e não mais depois o cumprimento da pena, o que diminuiria o período longe das urnas.

O projeto foi revalidado pela Câmara no ano pretérito e, sem mudanças no texto chancelado pelos deputados, a iniciativa vai para sanção ou veto presidencial.

O préstimo do projeto estava previsto para ser votado hoje, mas a votação foi adiada a pedido do relator, que temia suportar críticas caso o Senado aprovasse a iniciativa durante uma sessão semipresencial, com segmento dos senadores participando de forma remota. O vice-presidente do Senado, Veneziano Vital do Rego (MDB-PB), que conduzia o plenário, atendeu ao pedido.

“Gostaria de pedir à Vossa Vantagem [Veneziano] que deixasse para hoje somente a urgência desse PL. Em saudação aos colegas que não estão cá em Brasília, para que nós pudéssemos tratar esse projeto na sessão presencial da semana que vem. Faço isso com muita tranquilidade para não ter especulação maldosa de muitos setores que depois possam colocar que o Senado, sem ninguém cá no plenário, o que não é verdade, estamos de forma remota com quórum inclusive bom, aprovou um projeto de interesse somente dos políticos”, disse Weverton.

O relator Weverton Rocha manteve o texto revalidado pela Câmara e só fez ajustes de redação, sem modificar o préstimo. A estudo acontece duas semanas depois de o Senado autenticar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Anistia, que também beneficia políticos durante as eleições.

“A legislação de vigência enseja, portanto, períodos diferentes de inelegibilidade, a depender do momento da perda do procuração. Pode ocorrer de um parlamentar cassado pela respectiva Moradia Legislativa tornar-se por isso inelegível durante o prazo de oito anos ou até mesmo por 15 anos, a depender do caso”, justifica Weverton em seu relatório.

As organizações Não Aceito Devassidão, Transparência Internacional Brasil, Associação Fiquem Sabendo, Movimento de Combate à Devassidão Eleitoral , Transparência Partidária e Pacto pela Democracia divulgaram uma nota em que criticam o projeto e dizem ele não foi discutido de forma suficiente.

“Em sentido diametralmente oposto à aprovação da Lei da Ficha Limpa, a sociedade social foi absoluta e indevidamente alijada do processo de construção do PLP 191/23, não tendo havido debate público em relação a tema de tamanha relevância e que implica prostração do projeto originalmente apresentado por iniciativa popular”, diz a nota.

Veja os principais pontos:

  • O projeto reduz a duração de inelegibilidade ao antecipar a resenha. Esse prazo continua sendo de oito anos, mas passaria a ser narrado a partir do momento da pena e não depois do cumprimento da pena.
  • A iniciativa também estabelece um teto de 12 anos para o período de inelegibilidade.
  • A iniciativa ainda determina que é preciso justificar o dolo quando o político comete atos de improbidade.
  • O texto também amplia de quatro para seis meses o período de desincompatibilização de candidatos que são integrantes do Ministério Público, da Defensoria Pública, militares e policiais.

Porquê mostrou O Mundo, as mudanças têm o potencial de beneficiar o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, que é pai da deputada Dani Cunha (União-RJ), autora do projeto. Também seriam afetados os ex-governadores Anthony Garotinho (RJ) e José Roberto Arruda (DF).

Cunha disse que vai participar das eleições de 2026, mas negou que o projeto o beneficie. Arruda não comentou, mas interlocutores declararam que ele não pretende mais disputar eleições.

A resguardo de Garotinho diz que “a mudança traz justiça para os novos marcos prescricionais, pois os réus que tiveram interesse recursal, ou seja, vontade de lutar por seus direitos, foram prejudicados por um maior prazo prescricional”.

No caso de Garotinho, ele é candidato a vereador nas eleições deste ano e já teve a elegibilidade de volta depois decisão liminar do ministro do Supremo Tribunal Federalista Cristiano Zanin.

Hoje, políticos enquadrados por crimes comuns ficam inelegíveis durante o cumprimento da pena e por mais oito anos seguintes. Além de mandar a antecipação da resenha desse prazo, o projeto limita a 12 anos o prazo supremo que a sanção pode ser aplicada, mesmo nos casos em que houver mais de uma pena.

O projeto é criticado por setores da sociedade. A Associação Brasileira de Eleitoralistas, que tem entre seus membros o jurista Marlon Reis, um dos idealizadores da Lei da Ficha Limpa, divulgou nota em que avalia que o texto “atenta contra a soberania popular, contraria o interesse público e serve somente para dar livre chegada à candidatura a cargos eletivos a indivíduos que deveriam estar fora do processo político”.

“A inelegibilidade por oito anos incidiria somente depois a pena por órgão colegiado. Dessa forma, o projeto reduz drasticamente o prazo de inelegibilidade de condenados por crimes gravíssimos – uma vez que homicídios, estupros, tráfico de drogas, organização criminosa, entre outros crimes hediondos. Em alguns casos, indivíduos condenados por tais crimes nem mesmo ficariam inelegíveis, pois ao racontar o prazo de 8 anos da pena por órgão colegiado, e não do término da pena, esses indivíduos, ao término da pena, já teriam cumprido o prazo de inelegibilidade”, se queixa a associação.

A iniciativa também aumenta de quatro para seis meses antes das eleições o período de desincompatibilização, ou seja, o isolamento do função, para candidatos que sejam “membros do Ministério Público, da Defensoria Pública, das autoridades policiais, civis e militares e daqueles que tenham ocupado função ou função de direção, governo ou representação em entidades representativas de classe”.

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