Agropecuária causa 90% do desmatamento na Mata Atlântica

ESG Insights

Agropecuária desculpa 90% do desmatamento na Mata Atlântica

O desmatamento da Mata Atlântica teve redução na secção contínua do bioma, mas registrou aumento em fragmentos isolados e áreas de transição, na conferência entre 2022 e 2023. Os dados foram divulgados na última terça-feira (21) pela Instalação SOS Mata Atlântica, com base no Atlas da Mata Atlântica e no Sistema de Alertas de Desmatamento (SAD) Mata Atlântica, que são ferramentas complementares de mensuração.

Embora em algumas circunstâncias específicas a retirada da cobertura vegetal possa ser autorizada, os níveis de derrubada atuais – mais de 80 milénio hectares em um ano, pelos números do SAD – não estão ligados a esse veste, mas sim à pressão do agronegócio.

“Segundo a lei, só pode ter desmatamento em situações de interesse social e utilidade pública. E a gente observa que a maior secção do desmatamento, mais de 90%, vem da expansão agropecuária, que não justifica interesse social ou utilidade pública”, afirma o diretor executivo da SOS Mata Atlântica e engenheiro agrônomo Luís Fernando Guedes Pinto.

“O desmatamento caiu nessa região contínua da Mata Atlântica, que vai do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Setentrião, onde há as florestas maduras. E aumentou nos encraves e nas transições com os outros biomas, onde há essas transições com o Denso e com a Caatinga, e também onde existem florestas jovens”, relata Guedes Pinto.

Ele ressalta que, embora os números pareçam conflitantes, ambos revelam a mesma tendência de redução de desmatamento na superfície contínua e aumento nos encraves. “Isso também tem a ver com a emprego da Lei da Mata Atlântica, que protege toda a vegetação nativa desse bioma, mas que tem sido contestada, atacada e não aplicada de maneira rigorosa nas regiões de transição e de encraves.”

Além da grande superfície contínua entre o Rio Grande do Setentrião e o Rio Grande do Sul, a Mata Atlântica é composta por regiões de transição e encraves nos estados do Ceará, do Piauí, de Goiás, da Bahia, de Minas Gerais e do Mato Grosso do Sul.

A instalação avalia que a redução no desmatamento na superfície contínua é sinal de que as políticas de conservação e o monitoramento intenso estão produzindo resultados positivos.

Mais de 80 milénio hectares de Mata Atlântica perdidos em um ano

De conciliação com o Atlas da Mata Atlântica, coordenado pela SOS Mata Atlântica e pelo Instituto Vernáculo de Pesquisas Espaciais (Inpe), o desmatamento no bioma caiu de 20.075 hectares em 2022 para 14.697 em 2023, uma queda de 27%. A entidade ressalta que esses dados, entretanto, oferecem visão parcial do cenário. Isso porque o Atlas monitora áreas superiores a três hectares de florestas maduras, o que corresponde a 12,4% da superfície original do bioma.

O Atlas mostrou subtracção do desmatamento em grande secção dos 17 estados da Mata Atlântica, com exceção de Piauí, Ceará, Mato Grosso do Sul e Pernambuco. Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina se destacaram de forma positiva, com queda de 57%, 78% e 86%, respectivamente. A mesma tendência foi apontada pelo SAD, segundo avaliação da SOS Mata Atlântica, em relação à floresta contínua.

A Mata Atlântica inclui ainda regiões em recuperação ou em estágios iniciais de desenvolvimento, além dos encraves, o que amplia a cobertura vegetal para 24% da superfície do bioma. Além de ser capaz de monitorar toda essa parcela de vegetação existente, o SAD consegue detectar desmatamentos a partir de 0,3 hectare.

Segundo o SAD, parceria entre a SOS Mata Atlântica e o MapBiomas, o desmatamento totalidade aumentou de 74.556 para 81.356 hectares de 2022 para 2023. A superfície é o equivalente a mais de 200 campos de futebol desmatados por dia e os números são preocupantes.

Segundo o engenheiro agrônomo, a diferença entre os números se dá sobretudo pelo aumento das derrubadas em encraves no Denso e na Caatinga, principalmente na Bahia, no Piauí e em Mato Grosso do Sul, identificadas pelo SAD. Essa perda se deu majoritariamente onde há expansão agrícola. Ele questiona o sentido de possuir tanta superfície agrícola se o país não consegue manter a saúde dos ecossistemas que sustentam a produção.

“Menos floresta, mais desastres naturais”

“Menos floresta representa mais desastres naturais, epidemias e desigualdade. Para a lavradio, significa também quebras de safra recorrentes”, disse. Ele avalia que, enquanto não houver um olhar integrado para todos os biomas, tanto no que se refere a zerar o desmatamento quanto à priorização da restauração florestal, as crises do clima e da biodiversidade continuarão a se intensificar.

Com a queda do desmatamento, cai também a emissão de gases de efeito estufa. Já a restauração retira gás carbônico da atmosfera. A recuperação do bioma também tem papel importante para a adaptação às novas condições climáticas. “O clima do planeta já está mudando, e, para isso, quanto mais floresta, mais estaremos preparados para nos adequar aos eventos extremos, evitar as ondas de calor. Ter floresta aumenta o conforto térmico e o estabilidade das cidades.”

Rio Grande do Sul: só 10% da mata original

Perto do Pampa, na Região Sul, Guedes Pinto diz que a situação também é preocupante. “Metade do Rio Grande do Sul é Mata Atlântica, a secção do meio para o setentrião. Os desastres e as enchentes aconteceram nos dois biomas. Toda essa chuva que chega em Porto Feliz vem dos morros e das regiões serranas do Rio Grande do Sul, que são totalmente Mata Atlântica”, lembrou Luís Fernando Guedes Pinto.

Dados do Atlas mostram que restam somente 10% da Mata Atlântica original no Rio Grande do Sul. “Se tivesse floresta protegendo os rios, as nascentes, as beiras de rio e os morros, a tragédia poderia ter tido impactos muito menores. O desmatamento amplifica o efeito dessa chuva, o potencial dessa tragédia e diminui a resiliência [das cidades]. Quanto mais natureza e floresta, maior a capacidade de resistir aos impactos, de minimizá-los e também de ter mais resiliência para se restaurar em seguida o evento”, afirmou.

Com informações da Sucursal Brasil

Foto: Renato Augusto Martins/Wikimedia Commons

Vista aérea da vegetação da Mata Atlântica em Serra Formosa, na Bahia

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