
Canal do Panamá aumenta trânsito de navios mas escassez de água persiste
Um navio cargueiro se prepara para entrar na eclusa de Chuva Clara em Colón, Panamá, em 14 de maio de 2024
MARTIN BERNETTI
O Ducto do Panamá aumentou nesta quinta-feira (16) o número quotidiano de navios que passam por essa via, embora persista o déficit de chuva que levou, no ano pretérito, a uma redução do número de travessias e do mudo das embarcações, informaram autoridades.
Essa via interoceânica, que movimenta 6% do transacção marítimo mundial e foi inaugurada pelos Estados Unidos em 1914, começou a empregar restrições em abril de 2023 devido à escassez de chuvas causada pelo fenômeno El Niño.
Agora, entretanto, aumentou de 27 para 31 o número quotidiano de travessias de embarcações, graças ao aumento do nível dos dois lagos artificiais que abastecem de chuva rebuçado o via de 80 km de extensão que une o Oceano Pacífico ao Atlântico.
“Podemos anunciar com visível contentamento para a comunidade marítima internacional que vamos aumentar para 31 trânsitos”, disse à AFP o vice-presidente de Operações do Ducto, Boris Trigueiro.
“É uma boa notícia para o Ducto e também para os usuários”, afirmou.
A medida foi notificada às companhias de navegação em 15 de abril, mas entrou em vigor agora. A partir de 1º de junho, serão permitidos 32 navios navegando pelo via.
Aliás, a partir de 15 de junho, a profundidade máxima permitida para os navios que passam pelas maiores eclusas, inauguradas em 2016, será de 13,71 metros, em vez dos atuais 13,41 metros.
“Anunciaremos nos próximos meses aumentos graduais de capacidade e esperamos que até o final deste ano possamos estar nos níveis normais de tráfico”, indicou Trigueiro.
– Recorde em leilão –
O via panamenho não usa chuva do mar, uma vez que o Ducto de Suez, e muro de 200 milhões de litros de chuva rebuçado são despejados no mar a cada passagem de navio, que são armazenados nos lagos Gatún (450 km²) e Alhajuela (50 km²).
Antes da crise, em média 39 navios passavam pelo via por dia. No momento mais crítico de 2023, a quantidade caiu para 22, resultando em até 160 navios aguardando para terçar. Agora, o número oscila entre 50 e 60, reportou Trigueiro.
A redução no tráfico levou algumas companhias de navegação a desembolsar mais moeda para conseguir um vez de passagem nos leilões organizados pela Mando do Ducto do Panamá (ACP). Um navio chegou a remunerar quatro milhões de dólares (20,5 milhões de reais) por uma vaga, além do pedágio.
Os principais usuários do Ducto são os Estados Unidos, China, Japão, Coreia do Sul e Chile.
– Esperando mais chuvas –
Com oito rios principais, a bacia do Ducto também fornece chuva potável para 58% dos 4,4 milhões de habitantes do país.
Dos 2.800 milímetros de chuva que caíam anualmente em média, passou-se para somente 1.800 mm em 2023, explicou o hidrólogo Ricardo Güete, durante uma inspeção às estações de monitoramento no lago Gatún.
No entanto, algumas chuvas esporádicas e as medidas restritivas adotadas pela ACP para forrar chuva permitiram que o nível dos lagos subisse, embora ainda não tenha apanhado os níveis necessários para operar normalmente.
“Estamos quatro ou cinco pés (1,2 a 1,5 metros) inferior dos níveis que deveríamos ter”, observou Güete.
A situação deve melhorar durante a temporada de chuvas, que vai de maio a novembro, pois está previsto o fenômeno La Niña, que implica mais precipitação no país, disse o hidrólogo.
“Esperamos que ainda neste mês comecem a desabar as chuvas e que a situação se normalize”, defende Güete.
Ele conta que “embora o ano pretérito não tenha sido o El Niño mais crítico, foi em termos de disponibilidade de chuva, devido à operação das novas eclusas, ao aumento da população e à maior evaporação pelo aquecimento global”.
– ‘Principal ativo do país’ –
A ACP estuda incorporar novas fontes de chuva ao Ducto para evitar futuras crises hídricas, mas são obras que exigem tempo e investimentos milionários.
“Trabalharei para seguir com esses projetos tão importantes que são necessários para prometer a confiabilidade da rota”, disse José Ramón Icaza ao ser apresentado nesta quinta-feira uma vez que o próximo ministro do Ducto pelo presidente eleito José Raúl Mulino. Icaza prometeu “continuar fortalecendo” o Ducto, que ele descreveu uma vez que o “o principal ativo do Panamá”.
A secretária-geral da Percentagem das Nações Unidas para o Transacção e Desenvolvimento (UNCTAD), Rebeca Grynspan, visitará o Panamá neste término de semana “para ver pessoalmente e comentar os desafios que o Ducto e o transacção mundial enfrentam”, informou seu escritório.
A seca levou a ACP a gerar um sistema de suplente semelhante ao das companhias aéreas, para que os navios não percam tempo esperando. “Esta crise hídrica do Ducto serviu para mudarmos nosso padrão de negócios e poder vender essa certeza, porque, para o nosso cliente, tempo é moeda”, explicou Boris Trigueiro, engenheiro eletromecânico com 41 anos de experiência no Ducto.