
IPCA + ‘Plus’: O refúgio na Bolsa para bater os juros altos, segundo o BTG
Num Brasil marcado por juros estruturalmente altos, a Selic vem superando consistentemente o desempenho da Bolsa – e as NTN-Bs, ou os títulos ‘IPCA+’ dão de lavada nos dois.
Num mercado que virou praticamente uma grande corrida das Bs, um esquina específico do mercado acionário, no entanto, é o que vem trazendo um maior conforto: o das empresas de utilities, de elétricas ou saneamento, com contratos corrigidos pela inflação e, portanto ‘bond proxies’ – e, na sua maior secção, estão com o valuation descontado.
Na sua estreia de volta na cobertura do segmento do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da Vistoria), Antonio Junqueira fez suas apostas para o que batizou de IPCA+ ‘Plus’: as empresas capazes de entregar proteção e prolongamento, gerando retorno supra das Bs.
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“O setor de utilities foi (e continua ser) um lugar onde é verosímil superar o retorno do IPCA+. Se procurarmos de maneira cautelosa, podemos encontrar histórias capazes de entregar ERP [prêmio de risco de equity] positivo”, escreveu o crítico, um dos mais respeitados e experientes do setor, com 14 anos de cobertura.
Uma de suas principais apostas é na Sabesp, mesmo posteriormente a subida de 60% nos últimos doze meses, posteriormente o processo de privatização que tornou a Equatorial sua acionista de referência.
O preço-alvo é de R$ 132 para o termo do próximo ano, um potencial de subida de 43% em relação ao patamar atual, considerando a expectativa de redução de despesas e de investimentos mais robustos que vão se transcrever numa maior base de ativos (RAB).
A grande questão, porém, são as opcionalidades que não estão sendo consideradas no preço, aponta. Entre elas, estão melhorias na regulação para permitir o reconhecimento de investimento em base de ativos mais rápido e o prolongamento para novos municípios no Estado de São Paulo.
“Apesar do quanto as ações andaram, achamos que a Sabesp é a novidade compounder no pedaço”, diz.
A segunda top pick é a própria Equatorial, com preço-alvo de R$ 48 (potencial de subida de 50%).
Oferecido o bom histórico de alocação de capital, ainda que levante ano a companhia deva digerir a compra da Sabesp, a expectativa é que, em qualquer momento, volte a encontrar novas oportunidades de prolongamento: seja em saneamento seja em concessões de distribuição que precisem de mudanças.
“Com um bom retorno implícito, porém, dá para esperar a companhia encontrar as boas oportunidades de alocação de capital”, diz Junqueira, lembrando que a Equatorial entregou um retorno anual de IPCA+20% de 2010 a 2023.
Dividendos e small caps
Nenhuma empresa é uma ‘compounder’ para sempre, reaplicando o valor que gera em outras oportunidades com retornos mais suculentos. Algumas delas se tornam grandes demais – e acabam se tornam grandes pagadoras de dividendos.
É o que Junqueira acredita que vai sobrevir com a Eletrobras, sua outra aposta no setor.
Na visão dele, questões uma vez que o contrato de governança com o governo, o horizonte de Baía 3 e, principalmente, a quantidade de força descontratada que carrega no balanço, devem ser resolvidas nos próximos três anos, convertendo a companhia numa ‘cash cow’, com boa distribuição de proventos.
Para o crítico, hoje a Eletrobras está negociando uma vez que se os preços de força fossem permanecer baixos para sempre, no nível de R$ 112 por MWh. Boas pagadoras de dividendos tendem a ser mais valorizadas pelos acionistas – uma vez que mostram os TIR das demais elétricas hoje – e a antiga estatal deve fechar esse gap.
Fechando o rol das top picks, está a Orizon, de gestão de resíduos, no espaço das small caps. Além no prolongamento no core business de aterros sanitários, o mais interessante são as opcionalidades.
“A empresa tem uma TIR subida, opera num setor fragmentado e pode verticalizar muitos de seus ecoparques para outros negócios [como biogás e biometano], acionando valor presente líquido”, diz. O preço-alvo é de R$ 59, potencial de valorização de 27%.
Numa temática que se tornou quase consensual entre os fundos locais, o BTG dá ainda outras alternativas para alocação em utilities.
Para a temática de compounders, elenca Energisa e Alupar. “Quando se trata do segmento de distribuição, só favorecemos a Equatorial por conta de seu histórico mais invasivo de alocação de capital”, diz Junqueira.
Em dividendos, Copel também é uma boa opção, com características parecidas uma vez que a Eletrobras, mas menos risco – e, portanto, também menos retorno.
No universo das small caps, a selecção à Orizon é a Serena, antiga Omega, de força renovável.
“Com um DNA invasivo de alocação de capital, a companhia tem um endividamento proeminente, o que adiciona risco, mas tem a vantagem de potencialmente transferir valor da dívida para o equity nos próximos anos, com um processo oriundo de desalavancagem”, pontua.