Entenda a estratégia da oposição para tentar provar vitória na Venezuela

Há meses, a oposição da Venezuela vinha se preparando para uma situação que já viveu diversas vezes nos últimos 20 anos: perder uma eleição sob suspeita de fraude.

Desta vez, nas eleições de 2024, posteriormente ter dois candidatos impedidos de disputar a Presidência, a oposição buscou se concentrar em uma estratégia: substanciar o número de observadores em cada seção eleitoral, para ter chegada aos resultados e fazer uma apuração paralela, se necessário.

Assim, os partidos contrários ao presidente Nicolás Maduro buscaram ter pessoas em cada uma das mesas de votação, para escoltar o processo ao longo do dia e poder denunciar irregularidades. 

Ao final do dia de votação, porquê é feito também no Brasil, cada seção faz um fechamento de mesa e emite um boletim, que indica os resultados dali. A lei eleitoral venezuelana determina que essa enumeração pode ser acompanhada pelo público. Com isso, o projecto da oposição era coletar o maior volume provável do número de atas e, assim, poder fazer uma enumeração paralela.

“Vínhamos buscando treinar, ao longo dos últimos meses, as pessoas para que fossem fiscais de mesa, para que estivessem ali e não saíssem até que tivessem o resultado final. E que pudessem, inclusive, fazer uma foto da ata para evitar a diferença dos resultados”, diz Corina Yoris, candidata que foi barrada da disputa, em conversa com a EXAME, antes da votação.

Yoris conta, no entanto, que houve entraves. “O Parecer Pátrio Eleitoral determinava que os mesários fizessem cursos de capacitação online, mas houve pessoas que não conseguiram entrar. O cadastro foi bloqueado e a senha nunca pode ser recuperada”, afirma. 

Em seguida a votação, houve muitos relatos entre oposicionistas de que policiais ou aliados de Maduro tentaram impedir a presença de membros da oposição nos fechamentos de mesas.

Na noite de segunda-feira, 29, Maria Corina Machado, uma das líderes da oposição, disse que a oposição ainda não conseguiu obter chegada a todas as atas, mas que com base nos documentos obtidos, Edmundo González teve 73% dos votos, e que o material estaria sendo disponibilizado a representantes internacionais. 

O governo Maduro restringiu a ingressão de observadores internacionais. Exclusivamente grupos pequenos da ONU e do Carter Center foram autorizados. “Com isso, a campanha de Edmundo González só podia racontar com seus próprios observadores para verificar os resultados”, disse Jason Marczak, vice-presidente do meio de América Latina do Atlantic Council.

Maduro não revelou atas de votação

Por outro lado, o governo Maduro não revelou os dados detalhados de votação, nem por estado ou seção eleitoral. Exclusivamente deu um número universal, de que o presidente teria sido reeleito com 51% dos votos.

O CNE disse que sofreu um ataque hacker, do qual acusa a oposição de ter participado, e diz que os dados detalhados ainda serão revelados, sem precisar uma data.

A falta de transparência gerou queixas de vários governos, incluindo os dos Estados Unidos e do Brasil, que cobram a revelação dos dados. Em nota na segunda, 29, o Itamaraty disse em nota que “aguarda, nesse contexto, a publicação pelo Parecer Pátrio Eleitoral de dados desagregados por mesa de votação, passo indispensável para a transparência, credibilidade e legitimidade do resultado do pleito”. 

Em seguida o CNE reconhecer a reeleição de Maduro, houve uma vaga de protestos contra o resultado no país, com centenas de pessoas presas e repressão policial dura. O governo Maduro diz que os protestos são organizados por grupos de extrrema-direita, para tentar dar um golpe e subverter a vontade popular. 

Quais os próximos passos na Venezuela?

Os próximos movimentos agora são incertos: caso o governo Maduro revele as atas e elas mostrem dados que confirmem sua vitória, haverá uma guerra de versões, com os dois lados defendendo informações divergentes. A oposição poderá tentar contrariar ata a ata, mas isso levaria tempo e esforço. 

Ao mesmo tempo, o aumento de protestos a partir de segunda-feira coloca pressão extra sobre o regime. A eventual comprovação de fraudes nas atas pode estimular ainda mais manifestantes a irem as ruas, colocando Maduro em uma situação mais difícil.

Uma mudança de veste no poder só deve ocorrer, no entanto, se os militares, líderes de partidos aliados e setores da escol econômica da Venezuela deixarem de estribar Maduro. A comprovação de uma eventual fraude poderia correr nascente processo, mas as denúncias e ações de perseguição à oposição ocorrem há anos, sem que Maduro perda esse escora. 

A pressão externa, inclusive dos EUA, Brasil e dezenas de países, já se mostrou insuficiente. Em 2018, mesmo com suspeitas de fraude e falta de reconhecimento internacional, além da imposição de sanções, Maduro seguiu no poder.

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