
a lei da selva no país da energia barata
Trabalhador da fábrica de criptomineração Hernandarias em 2 de agosto de 2024
DANIEL DUARTE
A robustez barata do Paraguai atrai dezenas de ‘criptomineradoras’ legítimas, mas também seduz bandidos que exploram moedas digitais ilegalmente e em grande graduação, em um mercado repleto de denúncias de prevaricação.
Na cidade de Hernandarias, a dois quilômetros da colossal barragem de Itaipu, no rio Paraná, foi instalada a paraguaia Penguin, onde centenas de computadores estão alinhados em uma dimensão do tamanho de um campo de futebol.
A Penguin oferece “hospedagem para todos os dispositivos de computação, seja criptomineração, centros de dados de lucidez sintético ou serviços na nuvem”, disse Ricardo Galeano, vice-presidente deste núcleo de computação de cocuruto desempenho, à AFP.
A localização desta enorme fábrica de criptomineração não é aleatória: Itaipu, co-propriedade em partes iguais do Brasil e do Paraguai, é uma das barragens mais potentes do mundo, com capacidade de gerar 14.000 megawatts por hora.
O Paraguai possui outras duas hidrelétricas: Yacyretá com a Argentina (4 milénio megawatts) e Acaray (400).
A eletricidade limpa e alcançável do Paraguai é um ímã para a indústria da tecnologia: a criptomineração, essa longa série de cálculos que produz uma unidade de moeda do dedo, requer uma infraestrutura computacional significativa e, consequentemente, um grande consumo de robustez.
Mas nem tudo que reluz é ouro.
Evidenciado pelo FMI por sua “economia virente”, o Paraguai elétrico não está isento de curtos-circuitos que expõem suas desigualdades: apesar da eletricidade que exporta em riqueza, mais de 23% das famílias ainda cozinham com lenha ou carvão, número que atinge até 48% nas áreas rurais.
– Apreensões –
Nos últimos três anos, mais de 60 locais de criptomineração foram estabelecidos no país endossados pelas autoridades, representando mais de US$ 1,1 bilhão (R$ 6 bilhões na cotação atual) em investimentos, segundo Bruno Vacotti, porta-voz da Penguin e membro da Câmara de Mineração de Ativos Digitais do Paraguai (Capamad).
A empresa americana Marathon Do dedo, sócia da Penguin, é o peso pesado do setor, que já investiu US$ 30 milhões (R$ 165 milhões) na fábrica de Hernandarias.
Além dessas empresas, prosperam dezenas de criptomineradoras ilegais que vampirizam a robustez paraguaia e contra as quais, segundo Penguin, as autoridades lutam fracamente.
No final de maio, policiais e agentes da Governo Pátrio de Vigor Elétrica (Ande) apreenderam, em uma dessas fazendas clandestinas de criptomoedas em Saltos de Guaira (sul), mais de 2.700 computadores e cinco transformadores, a maior consumição até hoje.
Na semana passada, quase 700 computadores e um transformador foram apreendidos em uma quinta em Hernandarias que consumia o equivalente a US$ 60 milénio (R$ 331 milénio) por mês em eletricidade.
A Ande admite uma perda de 28% da eletricidade que gera, por diversas causas, incluindo a mineração ilícito.
– Ladrões protegidos? –
Salyn Buzarkis, deputado do Partido Liberal, da oposição, está convicto: “As criptomineradoras ilegais são protegidas pelos funcionários”, acusa, referindo-se explicitamente aos “subornos” que os trabalhadores estatais estariam recebendo.
“Por que não encontram as ilegais? É fácil detectá-las pelo consumo de Internet”, diz Buzarkis, denunciando também que as fazendas de criptomineração exigem eletricidade “equivalente ao consumo de uma cidade inteira”.
O resultado é o paradoxo de um Paraguai que exporta a sua eletricidade, mas cujos habitantes ficam muitas vezes no escuro, com cortes de robustez frequentes e maciços, uma vez que o que ocorreu em março.
Félix Sosa, diretor da Ande, se defende: “Somos os primeiros a querer desmascarar os responsáveis” pelo roubo de eletricidade.
Em conversa com a AFP, Sosa recorda os mais de 71 processos abertos pela entidade perante o Ministério Público por roubo de robustez, e os quase 10 milénio computadores apreendidos, além de murado de 50 transformadores.
“É uma luta frontal e séria”, insiste o vice-ministro de Minas e Vigor, Mauricio Bejarano, embora Buzarkis garanta que as máquinas apreendidas são obsoletas e “não servem nem para torrar pão”.
O Senado aprovou uma lei em julho que aumenta as penas para uso ilícito de robustez para criptomineração para um sumo de 10 anos de prisão.
Enquanto isso, os empresários começam a perder a paciência, não unicamente pela criptomineração ilícito, mas também por razão de um país “que não tem previsibilidade”.
“O Paraguai não é o paraíso energético que os estrangeiros imaginam”, denuncia Vacotti, da Penguin, acusando os aumentos de preços da Ande de até 16% por “consumo intenso”.
A indústria contribui com US$ 12 milhões (R$ 66,3 milhões) por mês para a Ande, mas “nossas empresas olham para o Brasil”, alerta Jimmy Kim, da Capamad, que destaca que a criptomineração no Paraguai paga 54% supra da tarifa convencional de robustez elétrica.