Por que o Brasil convive há tanto tempo com as consequências dos juros altos?

A definição do rumo da Selic, nossa taxa básica de juros, pelo Comitê de Política Monetária (Copom) nesta semana deverá pautar análises de agentes econômicos e especialistas do mercado nos próximos dias. A previsão é que seja mantido o patamar de 10,5%, repetindo a decisão da reunião de 19 de junho, quando o colegiado optou por interromper o ciclo de cortes de juros.

Nos últimos meses, as decisões envolvendo a política monetária se tornaram branco de sucessivas críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de alas do governo, que enxergam na redução dos juros a possibilidade de maior atração de investimentos, que, por sua vez, pode ser determinante para um incremento mais significativo nos próximos anos. Por outro lado, a cautela por secção do Banco Médio se justifica pelo risco de uma subida da pressão inflacionária, que poderia desgastar o poder de compra dos brasileiros no médio prazo.

Para o economista Ricardo Barboza, pesquisador associado da FGV Ibre, professor do IBMEC e rabi pela PUC-Rio, os juros brasileiros historicamente altos são um preço para anos de firmeza da inflação. Ele lembrou que o Brasil é sistematicamente vencedor mundial de taxa de juros, mas ponderou que não é verosímil identificar um único fator que influencie a trajetória dos juros.

“O lucro cume é a forma porquê nós brasileiros, enquanto sociedade, conseguimos conviver com uma taxa de inflação tolerável. É o preço que a gente paga para viver em um envolvente de firmeza”, afirmou Barboza durante evento realizado na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na última semana. “Você tem uma política que está sistematicamente apertando no acelerador da demanda agregada. A despesa primária no Brasil subiu, no início da dez de 1990, de tapume de 10% do PIB para quase 20%”, complementou.

Na percepção dele, é urgente uma agenda de reformas, ainda que ele não veja qualquer movimento de mudança certeiro que possa mudar o quadro. Questionado sobre possíveis experiências internacionais que o Brasil poderia se espelhar para uma modificação nesse cenário a médio e longo prazo, ele ponderou que o País tem circunstâncias muito próprias, o que dificulta a emprego de medidas bem-sucedidas em outras partes do planeta. Segmento do problema pode estar na existência de títulos pós-fixados que compõem a dívida pública.

“A nossa política monetária opera em um contexto em que seus mecanismos de transmissão são, digamos, parcialmente obstruídos. Funcionam de uma forma dissemelhante do que funcionam em outros lugares”, atestou. “Quando o Banco Médio mexe com a taxa de juros, ele está movimentando uma parcela pequena da demanda agregada. Isso é dissemelhante de outros países, que você mexe com um caminhão enorme da demanda agregada”, explicou.

“Letras Financeiras do Tesouro [LFTs] trazem uma particularidade, um ‘efeito renda’, que comprometem a eficiência da política monetária. Todo movimento de política monetária contracionista no Brasil é ao mesmo tempo um movimento de política fiscal expansiva. Se você aumentar o pagamento de juros, você transfere renda para detentores de LFTs involuntariamente, e isso contrapõe uma secção daquilo que o BC gostaria de fazer, que é contrair a demanda agregada.”

Mostrar mais

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo
Fechar

Adblock detectado

Por favor, considere apoiar-nos, desativando o seu bloqueador de anúncios