Dos pagers à guerra total? Como conflito entre Israel e Hezbollah escalou em poucos dias

Quando chegou a notícia de que pagers usados por membros do Hezbollah estavam explodindo, no dia 17, o modo incomum de ataque chamou mais a atenção do que suas possíveis consequências. Dez dias depois, o mundo vive a iminência de uma guerra completa entre Israel e Hezbollah.

O passo final para que a situação se transforme em uma guerra completa é a invasão do território do Líbano por forças de Israel. O governo israelense já disse preparar tropas para tal, embora não esteja evidente se nascente passo será tomado ou não. Mas os sinais disso se acumulam.

Nesta sexta, 27, por exemplo, forças de Israel fizeram mais um ataque a Beirute, capital do Líbano, que que levou à morte do líder do HezbollahHassan Nasrallah.

A escalada do conflito é acompanhada de perto pela comunidade internacional, pelo risco de gerar uma crise mais ampla no Oriente Médio e envolver países com armamento pesado, uma vez que os Estados Unidos e o Irã. 

Origens do conflito entre Israel e Hezbollah 

A crise atual entre Israel e Hezbollah é uma consequência da guerra entre Israel e Hamas, que começou em outubro de 2023. No dia 7 daquele mês, terroristas do Hamas, grupo que controlava a Filete de Gaza, invadiram Israel, mataram tapume de 1.200 pessoas e fizeram mais de 200 reféns. Em resposta, Israel lançou uma operação militar e invadiu Gaza, com a missão de brigar o Hamas e resgatar os reféns. 

No entanto, a guerra em Gaza virou uma situação incerta. Mesmo posteriormente quase um ano de ataque, segmento dos reféns não foi resgatada e, apesar dos ataques de Israel, o Hamas não foi proferido derrotado.

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O governo da Filete de Gaza diz que mais de 41 milénio palestinos foram mortos e 95 milénio ficaram feridos desde o início da invasão. Aliás, centenas de milhares de pessoas tiveram de deixar suas casas.

O Hezbollah, que ocupa territórios ao sul do Líbano, perto da fronteira setentrião de Israel, passou a brigar o país vizinho com mísseis em 8 de outubro, quando os militares israelenses invadiram Gaza, uma vez que forma de solidariedade aos palestinos. Os ataques seguem ocorrendo desde portanto, e levaram 60 milénio israelenses a deixarem suas casas. 

As tensões entre o Hezbollha e Israel foram crescendo paulatinamente. Neste mês de setembro, Israel decidiu fazer uma operação ampla contra o Hezbollah, com o objetivo de matar os líderes do grupo e reduzir seu poder de ataque.

A explosão dos pagers e rádios de notícia foi o primeiro passo disso. Embora Israel não tenha recebido nem recusado publicamente seu envolvimento na ação, foi o principal beneficiado por ela. 

Na terça, 17 de setembro, milhares de pagers usados por líderes e combatentes do Hamas explodiram, em um ação coordenada. As investigações indicam que os aparelhos foram alterados, durante o processo de entrega ao grupo, posteriormente a compra de um novo lote, e receberam pequenos explosivos, que foram detonados à intervalo.

Ao receber uma determinada mensagem, o detonador provavelmente foi acionado e explodiu a bateria. Foram quase 40 mortos e tapume de 40 milénio feridos, muitos deles atingidos no rosto e nas mãos. Segundos antes de explodirem, muitos pagers tocaram, uma vez que se estivessem recebendo mensagens. 

Ataques de Israel

No dia seguinte, 18, houve explosões em rádios do tipo walkie-talkie, também usados pelo grupo. O Hezbollah adotou tecnologias mais antigas para evitar rastreamentos e hackeamentos por segmento de Israel.

Sem usar celulares nem pagers, a notícia entre o grupo ficou comprometida. E, em meio disso, Israel começou a brigar.

A ação de Israel, chamada de Operação Flechas do Setentrião, tem uma vez que objetivo permitir que tapume de 60 milénio israelenses possam voltar para suas casas, no setentrião do país, perto da fronteira com o Lìbano. 

Os ataques de Israel atingiram ao menos 1.300 alvos, mataram mais de 500 pessoas e feriram mais de 1.800. Em meio à chuva de bombas, dezenas de milhares de pessoas fugiram do Sul do Líbano e estão buscando abrigo em outra cidades. 

Em resposta, o Hezbollah disparou mais mísseis contra Israel, e prometeu seguir com os ataques até que o país encerre a ação na Filete de Gaza.

No entanto, analistas apontam que a capacidade do grupo de responder e se tutorar dos ataques israelenses está comprometida. Diversos comandantes foram mortos ou feridos, assim uma vez que seus possíveis substitutos, e não houve tempo para uma reorganização. Aliás, o ataque possante de Israel faz com que o grupo esteja perdendo a moral.

“Se o Hezbollah não tentar lutar de forma significativa, sua reputação na região vai tolerar um grande e potencialmente irreversível baque. Mas se escolher contra-escalar, a ruína e morte vista nos últimos dias só vai piorar”, diz Charles Lister, diretor de Contra-Terrorismo no think tank Middle East Institute, fundamentado em Washington.

Até agora, Israel não tem encontrado impedimentos junto à comunidade internacional para realizar suas ações. Seu principal parceiro militar, os Estados Unidos, disse considerar legítima a ação no Líbano.

“Israel tem o recta de se tutorar do terrorismo, mas o modo uma vez que faz isso importa”, disse o secretário de Estado Antony Blinken nesta sexta. Os EUA consideram o Hezbollah uma vez que um grupo terrorista. 

O governo americano e alguns países europeus tentaram propor um cessar-fogo de 21 dias, mas Israel rejeitou a proposta publicamente. 

O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu fala durante a Câmara Universal da ONU, em Novidade York. Na imagem, o planta da esquerda mostra países inimigos de Israel uma vez que “maldição” e os aliados uma vez que “benção”. (Charly TRIBALLEAU/AFP)

Sem saída à vista

O governo de Israel coloca o combate contra Hamas e Hezbollah uma vez que uma questão existencial: diz que os grupos pregam o término de Israel e, assim, não teria escolha a não ser lutar até o término.

“Se não houver uma mudança política no controle da Filete de Gaza ou a saída do Hezbollah do sul do Líbano, voltamos para 6 de outubro e tudo isso até agora foi em vão”, diz André Lajst,  presidente do StandWithUs Brasil, entidade ligada a Israel que combate o antissemitismo. 

“Do lado do Hamas e do Hezbollah, esta é uma guerra religiosa. E guerras religiosas não têm solução, só tréguas, que podem ser de meses ou anos. Não há perspectiva de mudança de política ou ideológica do lado de lá que permita que a guerra termine de forma definitiva” afirma Lajst.

Ao mesmo tempo, o premiê Benjamim Netanyahu depende do base de políticos nacionalistas linha-dura para se manter no poder. Eles ameaçam retirar seu base a ele em caso de acordos com Hamas e Hezbollah. Aliás, o premiê enfrentava desgastes internos, uma vez que um cansaço dos israelenses com a guerra em Gaza.  

“A série de sucessos militares, alguns realmente impressionantes, deram um tremendo impulso para a moral pátrio de Israel, que estava muito baixa. A guerra em Gaza ainda é muito impopular, e a maioria de Israel quer um harmonia para os reféns e um cessar-fogo. Esta não era a visão da maioria há alguns meses, mas a opinião vem mudando”, diz Eran Etzion, ex-diretor de planejamento do Ministério das Relações Exteriores de Israel, em um debate virtual sobre a crise atual. 

No entanto, Netanyahu, 74 anos, tem conseguido se manter no incumbência há décadas, mesmo posteriormente perder eleições e tolerar processos na Justiça.

Os partidos de oposição a ele não conseguiram maioria dos votos para formar governos estáveis nas eleições dos últimos anos, e Netanyahu soube negociar com aliados e rivais para se manter em evidência.

Ele é premiê de Israel desde 2009, com um pausa de 18 meses em que ficou na oposição, entre 2021 e 2022.  

Do lado do Hezbollah, uma das principais questões é se o Irã, que apoia o grupo desde a sua instalação, nos anos 1980, e é o principal inimigo de Israel, poderá se envolver de forma mais ampla no conflito, com o envio de mais armas e soldados. 

“Uma vez que o Irã sentir que exista uma ameaço existencial ao Hezbollah, poderá interferir de forma mais ampla”, diz Randa Slim, diretora de Solução de Conflitos do Middle East Institute e profissional em Líbano. 

O cenário de invasão de Israel ao Líbano

Caso ocorra uma invasão israelense, a principal questão é o que fazer depois.

Israel poderia tentar gerar uma zona de proteção na fronteira, com um território sob controle de suas forças militares, para impedir uma reorganização do Hezbollah e ataques ao território de Israel.

No entanto, essa ocupação poderia levar décadas, uma vez que já ocorreu no pretérito. O Hezbollah foi criado nos anos 1980 justamente com o objetivo de expulsar a ocupação israelense do sul do Líbano, que só deixaria o país em 2000.

Especialistas apontam duas datas importantes, que indicam que o conflito não deve se resolver tão cedo.

Uma delas é o natalício de um ano dos ataques do Hamas, em 7 de outubro. Os ataques ao Líbano ajudam a desviar o foco da questão de que 97 reféns levados pelo grupo palestino ainda não foram resgatados. A outra data é a eleição nos Estados Unidos, principal coligado militar de Israel. 

Para Roberto Ueber, professor de relações internacionais da ESPM, um cessar-fogo não deve ocorrer antes das eleições presidenciais dos EUA, em novembro.

“Se lucrar a Kamala Harris, há espaço para Joe Biden trazer uma proposta de cessar-fogo direto. Se lucrar o Donald Trump, Biden terá pouca legitimidade para propor isso tendo poucos meses de procuração pela frente”, afirma.

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