Moradores do rio Amazonas sentem os efeitos das mudanças climáticas

ESG Insights

Moradores do rio Amazonas sentem os efeitos das mudanças climáticas

POR RODRIGO PEDROSO

Da varanda de sua lar de madeira de dois andares, Aurélio Marques olha para o Rio Amazonas, que flui uma vez que um fio. O piloto de paquete calcula quanto tempo levará para que a maré do Oceano Atlântico chegue ao leito do rio, aumentando o nível da chuva e permitindo que ele navegue até uma comunidade próxima. “Parece que a natureza está revoltada, com raiva da gente”, diz ele. “Nós vivemos de ler a natureza desde que nascemos, mas não estamos mais conseguindo decifrá-la.”

As mudanças climáticas, aliadas às ações antrópicas no Arquipélago do Bailique, um grupo de ilhas na foz do Rio Amazonas, no Amapá, alteraram o ciclo da chuva e tornaram a vida cada vez mais árdua nos últimos quatro anos. Os fenômenos naturais estão se tornando mais agressivos e imprevisíveis, e os moradores do Bailique estão agora vivendo o que milhões pessoas de outras partes do mundo provavelmente enfrentarão no horizonte.

Ao sul do arquipélago, fazendas de pecuária e represas hidrelétricas desviaram gradualmente o curso de igarapés e afluentes do Rio Amazonas. O aumento da correnteza fluvial está acelerando os deslizamentos de terreno, que engolem as casas às margens. Isso também está afetando as ilhas ao setentrião, onde o rio e seus afluentes estão se tornando mais fracos, em segmento devido à terreno que está sendo arrastada do sul e deixando os moradores muitas vezes encalhados.

Uma vez que resultado, a chuva do Oceano Atlântico, que está aumentando seu nível, se infiltra nas ilhas vindo do setentrião. Um fenômeno que ocorre durante um período cada vez mais longo a cada ano, salinizando a chuva disponível.

Mudanças mais amplas na Amazônia também contribuem para isso. Nas últimas estações chuvosas da floresta tropical, as temperaturas foram mais altas do que o normal, e a Amazônia teve uma das estações secas mais severas em 2023. Foi a pior seca já registrada no Rio Amazonas, o que fez com que o oceano empurrasse o rio ainda mais para dentro do continente.

A principal atividade econômica do arquipélago, o açaí, está se tornando salso devido à chuva salobra. Enquanto isso, as palmeiras de açaí estão sendo devoradas por deslizamentos de terreno nas margens do rio, em ritmo depressa.

O governo do Amapá e o município de Macapá, do qual Bailique é região, não conseguem mitigar os efeitos das mudanças ambientais que expulsaram segmento da população do arquipélago.

No ano pretérito, as autoridades locais estimaram que murado de 13 milénio pessoas viviam nas oito ilhas do arquipélago, sobre 180 km (ou 12 horas de paquete) de Macapá. No entanto, o recenseamento de 2023 registrou não mais do que 7.300 pessoas vivendo na região.

“Há muito foco sobre a floresta amazônica em si, mas pouca coisa sobre sua costa, que se estende do estado do Maranhão até a Venezuela, sendo um dos ecossistemas mais dinâmicos do mundo em termos de sensibilidade às mudanças”, disse à Mongabay Valdenira Ferreira, pesquisadora do Instituto de Pesquisas Científicas do Estado do Amapá (Iepa), que há duas décadas pesquisa o Bailique.

“Essa é uma das regiões mais vulneráveis do continente, mas o governo está atuando no escuro. Não há medições ou dados além do superficial para elaborar planos de adaptação a essas mudanças, que estão se tornando cada vez mais comuns a cada ano”, afirma.

Ao setentrião: vespas, rios secos e águas salgadas

Aurélio Marques, o condutor do paquete que estava calculando quando a chuva do mar entraria no leito do rio em frente a Livramento, comunidade fundada por seu pai em meados do século pretérito, diz que os moradores do Bailique estão divididos sobre o que fazer nesse cenário. Seus filhos foram estudar e trabalhar em Macapá, mas seus pais idosos não querem deixar o lugar.

No final de 2023, quando a Mongabay visitou a superfície, Livramento estava isolada do mundo exterior durante algumas horas por dia. Nenhum paquete podia entrar ou trespassar do lugar por justificação da seca do Rio Amazonas, alguma coisa que nunca havia sucedido antes — não há estradas de entrada ao arquipélago.

O dilema entre permanecer ou ir embora é reforçado pelo recente declínio nas condições de vida. A comunidade de Filadélfia, mais ao setentrião de Livramento, suportou os últimos sete meses de 2023 sem chuvas “realmente fortes”, uma vez que dizem os moradores, necessárias para manter um período de rios com águas cada vez mais salgadas.

“A gente aprendeu a pegar a chuva da chuva e filtrar”, diz Francidalva Farias, moradora de Filadélfia, enquanto mostra uma mangueira improvisada que liga a calha do telhado de sua lar a uma cisterna tapada por um cobertor no quintal. Quase todas as casas do Bailique têm três tanques de chuva: um com chuva salgada, que é usada para tomar banho e lavar louça, e dois com chuva gulodice, usada para ingerir e cozinhar.

Segundo Francidalva, “a gente aprendeu a pegar a chuva da chuva e filtrar”. “Quando a sujeira assenta, a gente passa para a segunda [cisterna], que usamos para ingerir e cozinhar. A chuva está cada vez mais salgada. Se não chover, não temos chuva para ingerir.”

Caminhando pela sua comunidade, constituída por uma dúzia de casas de madeira esparsas conectadas por passarelas de madeira, Francidalva diz que nunca tinha visto tantas mudanças ao mesmo tempo na região, que agora depende muito de suprimentos externos.

Em dezembro, unicamente pequenos barcos conseguiam velejar, durante algumas horas por dia, até chegar à comunidade. Devido ao calor supra da média registrado nos últimos invernos, quando a chuva era escassa, as vespas se tornaram mais agressivas, picando os moradores com mais frequência e se multiplicando mais rapidamente, a ponto de formarem várias colônias na escola da comunidade.

“Ir para a escola está perigoso [por causa das vespas]. E temos que forrar o supremo de chuva potável que pudermos. Tomamos banho com chuva salgada, que dá comichão. Nas crianças chega a dar queimadura ligeiro. Usamos ela também para lavar louça e as roupas, que tem que secar logo senão fica com cheiro ruim. O sabão não faz espuma uma vez que na chuva gulodice, é estrambólico”, conta Francidalva.

Algumas famílias conseguem comprar chuva potável em Macapá, mas outras têm que enfrentar o período de salinização da chuva — que chega a ser de oito meses por ano no setentrião do arquipélago — exclusivamente com a chuva coletada da chuva. Quando ela acaba, eles não têm escolha a não ser ingerir a chuva salgada.

“A intrusão de chuva salgada está ocorrendo ao longo de toda a foz do Rio Amazonas, assim uma vez que a erosão costeira”, diz Valdenira Ferreira. “Ambos têm a ver com o aumento do nível do mar e com as mudanças na bacia do Rio Amazonas. Se a descarga de chuva na foz diminui, o mar avança mais. Se as cargas de sedimentos aumentam ao longo dos rios devido ao desmatamento, por exemplo, mais terreno é levada para a foz do Amazonas, o que, por sua vez, aumenta o assoreamento.”

Doenças e negligência governamental

Luiz Velázquez Tito, um médico cubano que trabalhou em sete países antes de se estabelecer no Brasil, relata que diarreia, doenças de pele e parasitas são os problemas de saúde mais comuns no arquipélago.

Tito chegou ao setentrião das ilhas em meados do ano pretérito e mora em um quarto de uma lar de madeira, sem eletrodomésticos e nem sequer uma leito. Ele afirma que o governo estadual e a prefeitura de Macapá não lhe ofereceram uma estrutura de saúde adequada ou medicamentos básicos. Tito é o primeiro médico a trabalhar na região Setentrião em oito anos.

“Me jogaram cá e foram embora. Não deram zero. Eu trabalho em uma sala que eu tive que improvisar uma cortinado uma vez que parede para separar os pacientes sendo atendidos, a triagem e aqueles que estão na espera. Já trabalhei em Angola, Venezuela, Haiti, mas cá é o lugar com mais condições adversas para trabalhar. Nunca tinha visto tantos problemas tão recorrentes assim não, sobretudo por justificação da chuva”, diz.

A salinização das águas do arquipélago já foi um fenômeno vasqueiro, restrito ao setentrião das ilhas, lembram os anciãos que falaram com a Mongabay. Segundo eles, ocorria uma vez a cada poucas décadas, resultado de alguma seca severa no Rio Amazonas.

O desmatamento da floresta, o aumento universal da temperatura na região e o aquecimento dos oceanos tornaram o ciclo de enchentes e secas do maior rio do mundo cada vez mais extremo.

Mas a Companhia de Chuva e Esgoto do Amapá (Caesa), responsável pela gestão do provimento de chuva do Bailique, começou a mourejar com a salinização periódica do arquipélago somente em 2023, quando instalou usinas de dessalinização na principal comunidade, a Vila Progresso. Desenvolvidas para um envolvente dissemelhante, elas não funcionaram devido ao nível de salinidade e sedimentos da chuva do Bailique, maior do que as máquinas eram capazes de filtrar.

De concórdia com a empresa, um estudo está sendo realizado para medir o nível atual de salinização e resíduos. Espera-se que novas vegetalidade, mais adequadas às condições locais, sejam instaladas em várias comunidades até o final do ano.

Enquanto isso, a Prefeitura de Macapá passou o segundo semestre de 2023 enviando chuva potável da capital em barcos ou em garrafas plásticas em seguida declarar estado de emergência no arquipélago — o que permite que os funcionários públicos adquiram serviços e bens com menos burocracia e controle de gastos, entre outras coisas.

Algumas famílias do Bailique receberam unicamente um pacote com seis garrafas de 1,5 litro, pois os barcos ficaram encalhados nas margens dos rios devido à seca.

O governo estadual e o prefeito de Macapá foram questionados pela Mongabay sobre o provimento de chuva, o descuramento das instalações de saúde e se eles têm planos para mitigar os efeitos das mudanças no meio envolvente do arquipélago, mas não houve resposta.

Valdenira Ferreira e outros especialistas do Iepa estão aguardando financiamento do Governo Federalista para realizar uma mensuração contínua da salinização e erosão do Bailique. O recurso foi prometido em julho de 2023 pelo Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional, liderado por Waldez Góes, que foi governador do Amapá por quatro mandatos.

“Até o momento, não recebemos nenhuma resposta [sobre quando o governo enviará os recursos]. Precisamos de financiamento para pesquisa, porque as políticas atuais para o Bailique estão sendo feitas sem medições precisas e contínuas. Tudo está sendo feito dentro de um quadro de emergência, mas o que estamos vendo é que esses fenômenos não desaparecerão nos próximos anos. Muito pelo contrário, na verdade”, diz Valdenira.

Ao sul: terras caindo, casas engolidas

Uma vez que outros moradores, Erielson Pereira dos Santos não depende da ajuda do governo para sobreviver. Ele vive com sua família em uma lar às margens do Rio Amazonas, na segmento sul do arquipélago. Há murado de uma dezena, ele começou a manusear de forma sustentável as palmeiras de açaí em suas terras.

Há quatro anos, no entanto, a margem do rio começou a tombar com frequência, mormente durante a estação chuvosa, levando consigo as palmeiras e seu sustento. Assim uma vez que Aurélio Marques olha para o rio sedento em frente à sua lar, Santos vê sua terreno sendo corroída por um rio com uma correnteza mais possante dia em seguida dia.

“Eu tinha 400 metros de açaizeiro plantados, contando da margem do rio até a ilhota”, diz ele. “Agora tenho menos de 50 restantes. No próximo ano, todas essas palmeiras de açaí terão sumido. E na safra o açaí vai dar salso ainda por cima, o que antes não acontecia nessa segmento da ilhota”, diz.

Se a chuva estiver salgada na estação da colheita, as palmeiras de açaí absorvem o sal, alterando o sabor e dificultando a venda da safra. Erielson está plantando mais açaizais o mais longe verosímil da margem do rio, na esperança de que o fenômeno dos deslizamentos de terreno diminua sua intensidade nos próximos anos. Caso contrário, ele planeja partir para Macapá com sua família.

Alguns institutos e universidades da região estão tentando monitorar o fenômeno, mas há poucos estudos sobre a graduação do que está acontecendo no Bailique. Um relatório de 2018 do Iepa calculou que, em algumas comunidades, a erosão comeu dez metros de terreno da margem do rio naquele ano. Erielson estima que o deslizamento de terreno anual em seu terreno é quatro vezes maior agora.

A Amazonbai, uma cooperativa de produtores de açaí, tem ajudado os ribeirinhos desde 2017 a gerenciar de forma sustentável a principal atividade econômica do arquipélago. Em 2022, eles abriram uma fábrica de processamento de açaí em Macapá e começaram a vender a polpa de açaí orgânica industrializada para outras partes do Brasil e para os Estados Unidos, Inglaterra e França.

“A gente está preocupado com essas mudanças”, diz Amiraldo Picanço, presidente da Amazonbai. “Sabemos que o nível do oceano vai aumentar e com certeza vai puxar um pouco mais a chuva do rio para dentro. Deve possuir mais secas e inundações no Rio Amazonas. É um pouco da particularidade do arquipélago tombar um pouco a terreno em um lugar e chegar em outro, mas agora há pressão por todos os lados para que isso aconteça, não unicamente da mudança do clima.”

Búfalos e represas, um cenário cada vez pior

Sobre 30 minutos de paquete do arquipélago, a partir da comunidade principal, um grande rio deságua no Amazonas, formando um dos muitos afluentes principais do maior rio do mundo.

É o Rio Araguari, que corre paralelamente ao Rio Amazonas, mais ao setentrião, e vem sofrendo com o assoreamento. Um boom de fazendas de búfalos que foram poupadas nas margens continentais do Amapá nos últimos anos, além da construção de barragens hidrelétricas no Araguari, prejudicou seu fluxo para o Atlântico, criando um novo curso de chuva que corre para o Rio Amazonas antes de chegar ao mar.

Há dez anos, o Rio Urucurituba era um pequeno riacho que alimentava o poderoso Amazonas. Atualmente, é um grande e profundo rio marrom que ajuda a correr a erosão da terreno no sul do arquipélago, de concórdia com especialistas e ribeirinhos.

Quanto maior a erosão, mais rapidamente as casas às margens do rio estão caindo. Erielson, por exemplo, já perdeu quatro casas na última dezena. Um morador de Vila Progresso, com mais de milénio habitantes, disse que está morando em sua sexta lar nos últimos oito anos.

À medida que a terreno cai, os moradores levam o que podem de suas casas de madeira para mais longe nas ilhas, mas muitas comunidades estão começando a ser encurraladas por fazendas de búfalos de propriedade privada. Alguns vilarejos estão desaparecendo.

“Uma vez que você pode investir em sua terreno nesta ilhota se sabe que pode perder sua lar?”, questiona o piloto de paquete Aurélio Marques, avaliando a crescente imprevisibilidade do envolvente no arquipélago das “águas dançantes”, uma vez que seus moradores às vezes o chamam. Ele dá outra olhada no rio e calcula que a maré não deve encher o leito do rio em frente a Livramento até o amanhecer. A viagem para a próxima comunidade é adiada para o dia seguinte.

“Fico pensando: Estamos cercados pelo maior rio do mundo, mas temos que trazer chuva potável da capital ou nos transmitir uma vez que nômades”, disse ele. “Vou esperar os próximos anos, mas se continuar assim, vou vender meu paquete. Não gostaria de fazê-lo, mas vou ter que partir.”

Esta reportagem foi apoiada pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), com suporte financeiro da Agence Française de Development e do Open Climate Initiative/Centre for Investigative Journalism (OCRI/CIJ), dentro do projeto Defensores Ambientais. Ressalta-se que as ideias e opiniões cá expressas são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem necessariamente as opiniões da Agence Française de Développement.

Levante texto foi republicado de  Mongabay
 sob uma licença Creative Commons.  Leia o cláusula original.

Foto: Rafa Neddermeyer/Filial Brasil

Secção da população já deixou a região, enquanto outros lutam para se harmonizar ao novo cenário

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