FMI prevê maior contração da economia argentina (-3,5%), mas menor inflação, em 2024

Ludovic Marin

O presidente da Argentina, Javier Milei, chega para uma cúpula sobre a sossego na Ucrânia, na Suíça, em 15 de junho de 2024

Ludovic MARIN

O Fundo Monetário Internacional (FMI) piorou nesta segunda-feira (17) sua previsão de prolongamento para a Argentina, estimando uma contração de 3,5% em 2024, e melhorou a de inflação anual média para 233%, mas alertou para o risco de que a recessão se prolongue “alimentando tensões sociais”.

A instituição financeira publicou um relatório detalhado no qual se mostra satisfeita com o projecto “motosserra” do presidente ultraliberal Javier Milei para trinchar drasticamente os gastos do Estado, mas faz algumas ressalvas e pede mais reformas tributárias.

“Avanços impressionantes foram feitos para entender o estabilidade fiscal universal e agora deve-se dar prioridade a continuar melhorando a qualidade do ajuste”, afirmou Gita Gopinath, a número dois do FMI, depois que o parecer executivo do organização aprovou na quinta-feira a oitava revisão do convénio de crédito acordado com o país.

Essa aprovação permitiu um desembolso súbito de tapume de 800 milhões de dólares (4,33 bilhões de reais, na cotação atual).

“Devem seguir os esforços para reformar o imposto de renda” das pessoas físicas, “racionalizar os subsídios e os gastos tributários e fortalecer os controles de gastos” públicos, acrescenta em um transmitido publicado nesta segunda-feira, no qual estima que serão necessárias “reformas mais profundas dos sistemas tributário, de pensões e de distribuição de renda”.

Ou por outra, na sua opinião, “as políticas monetárias e cambiais devem evoluir para continuar consolidando o processo de desinflação e melhorar ainda mais a cobertura das reservas” monetárias.

Na última atualização, a previsão de prolongamento do Resultado Interno Bruto (PIB) para oriente ano piora de -2,75% previsto em abril para -3,5%. Mas espera-se uma mudança de tendência durante o segundo semestre, “à medida que os ventos contrários derivados da consolidação fiscal se atenuem, os salários reais comecem a se restabelecer e os investimentos se recuperem gradualmente”.

Em termos gerais, o Fundo está satisfeito com a evolução da economia e da inflação.

A previsão de aumento anual médio dos preços passa de quase 250% para 232,8%, de convénio com oriente último relatório.

A inflação mensal cai para 4% e diminuirá “ainda mais a médio prazo”, aponta o FMI. E prevê que as reservas se mantenham inalteradas.

– “Consenso social” –

Os riscos do programa de crédito pelo qual a Argentina recebe 44 bilhões de dólares (238,85 bilhões de reais) em 30 meses em troca de aumentar suas reservas internacionais e reduzir o déficit fiscal, “foram moderados, mas continuam elevados”, adverte o Fundo.

O FMI estima que o governo de Milei “afastou firmemente a economia de uma crise totalidade e de uma hiperinflação”, mas o quadro não está isento de riscos.

As condições externas podem se tornar menos favoráveis e “a recessão pode se prolongar, alimentando tensões sociais e complicando a implementação do programa”, alerta.

Milei conseguiu na semana passada a aprovação no Senado, por margem estreita, de um pacote de reformas polêmicas, mas ainda terá que passar pelo crivo da Câmara de Deputados.

O FMI está preocupado com possíveis novas demoras legislativas “porque podem minar os esforços de estabilização e recuperação”, mas acredita que se deve buscar o “consenso social” levando em conta “o frágil quadro social e político”.

Metade da população argentina vive na pobreza, milhares de pessoas perderam o trabalho e a inflação corrói as pensões e o poder aquisitivo das famílias.

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