Com alta dos preços, setor do azeite busca soluções para crise climática

THOMAS COEX

Garrafas de óleo de diversas marcas e preços expostas em um supermercado de Madri

Thomas COEX

Diante ao aquecimento global, que afeta as colheitas e provoca a disparada dos preços, os profissionais do setor do óleo querem redobrar os esforços para encontrar soluções, trabalhando em conjunto com a ciência.

“A mudança climática já é uma verdade à qual devemos nos harmonizar”, afirmou Jaime Lillo, diretor executivo do Parecer Oleícola Internacional (COI), na quarta-feira, durante o primeiro Congresso Mundial do Óleo, que reúne 300 participantes até sexta-feira em Madri.

Uma “verdade” dolorosa para todo o setor, que enfrenta há dois anos uma queda de produção sem precedentes, em um contexto de ondas de calor e de seca extrema nos principais países produtores, porquê Espanha, Grécia e Itália.

Segundo o COI, a produção global caiu de 3,42 milhões de toneladas em 2021-2022 para 2,57 milhões de toneladas em 2022-2023. E segundo dados transmitidos pelos 37 Estados-membros da organização, deverá diminuir novamente em 2023-2024, para 2,41 milhões de toneladas.

Uma situação que resultou na disparada dos preços no último ano, oscilando entre um aumento de 50% e 70% dependendo das variedades. Na Espanha, que produz metade do óleo mundial, os preços chegaram a triplicar desde o início de 2021, para desespero dos consumidores.

– Cenários “mais complexos” –

“A tensão nos mercados e a escalada dos preços têm sido um teste de estresse particularmente exigente para o nosso setor. Nunca vivemos zero semelhante antes”, disse Pedro Barato, presidente da organização interprofissional do óleo espanhol.

“Temos que nos preparar para cenários cada vez mais complexos que nos permitam enfrentar a crise climática”, afirmou, traçando um paralelo entre a situação dos olivicultores e as “turbulências” vividas pelo setor bancário durante a crise financeira de 2008.

As perspectivas não são muito animadoras.

Hoje, mais de 90% da produção mundial de óleo vem da bacia mediterrânea. No entanto, de consonância com o Quadro Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), a região – descrita porquê um “ponto quente” da mudança climática – aquece 20% mais rápido do que a média.

Uma situação que pode afetar a produção global no longo prazo.

“Estamos perante uma situação complexa” que envolve “mudar a forma porquê tratamos as árvores e o solo”, resumiu Georgios Koubouris, pesquisador do Instituto Helênico da Oliveira.

“A oliveira é uma das vegetação mais adaptadas ao clima sequioso, mas em caso de seca extrema, ativa mecanismos para se proteger e não produz zero. Para termos produção é necessária uma quantidade mínima de chuva”, explicou Lillo.

– Genética e rega –

Entre as soluções propostas está a pesquisa genética. Durante vários anos, centenas de variedades de oliveiras foram testadas para identificar as espécies mais adaptáveis à mudança climática, com base principalmente na data de floração.

O objetivo é encontrar “variedades que tenham menos urgência de horas frias no inverno e que resistam melhor aos estresses que encontram devido à subtracção das chuvas em momentos muito específicos”, porquê a primavera, explicou Juan Antonio Polo, superintendente de assuntos tecnológicos no COI.

A outra grande dimensão em que os cientistas trabalham é a rega, que procura melhorar graças ao armazenamento de águas pluviais, à reciclagem de águas residuais e à dessalinização da chuva do mar, além de aumentar a sua eficiência.

Isso implica desistir a “rega superficial tradicional” e generalizar os “sistemas de gotejamento”, que levam a chuva “diretamente às raízes das árvores” e evitam perdas, contribuiu Kostas Chartzoulakis, também do instituto helênico.

Outra proposta, mais radical, é desistir a produção em determinados territórios que se tornam muito desertos e levá-la para outros mais favoráveis.

Um fenômeno que “já começou”, embora em pequena graduação, com “novas plantações” em regiões até logo não relacionadas com a oliveira, afirmou Lillo, que se disse “otimista” apesar dos desafios que o setor enfrenta.

“Com a comunidade científica, com a cooperação internacional, vamos aos poucos encontrar soluções”, acrescentou.

Mostrar mais

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo
Fechar

Adblock detectado

Por favor, considere apoiar-nos, desativando o seu bloqueador de anúncios