
Contra queimadas, Votorantim aposta em créditos de carbono no Pantanal
No mesmo ano em que o Brasil teve recorde de queimadas, escândalos envolvendo projetos de conservação levaram os créditos de carbono de ‘desmatamento evitado’ (ou REDD+) a uma crise de reputação que se traduziu numa menor procura e em preços deprimidos.
Mas um dos maiores conglomerados empresariais do Brasil segue apostando possante neste tipo de solução para incentivar os esforços conservacionistas.
Pioneira em REDD fora da Amazônia, com créditos de desmatamento evitado no Denso e na Mata Atlântica, o grupo Votorantim agora está desenvolvendo um projeto semelhante também para uma rancho do grupo no Pantanal.
“Vai ser uma grande oportunidade para poder aumentar a geração de recursos para conservação do bioma e que pode ajudar principalmente na resguardo contra o queimada”, afirma David Canassa, diretor da Reservas Votorantim, braço do grupo criado ha três anos para reunir e desenvolver seus ativos ambientais.
O palco do novo projeto é a Bodoquena, uma propriedade icônica no Mato Grosso do Sul, próximo às divisas com a Bolívia e o Paraguai. Trata-se de uma das principais e mais respeitadas fazendas de manada no país, pioneira na emprego do melhoramento genético desenvolvido pela Embrapa.
Com 70 milénio hectares, dos quais a metade preservada ela fica na fronteira entre o Denso e o Pantanal e já atraiu até celebridades porquê os Rolling Stones na dezena de 60, encantados pela paisagem pantaneira (neste bioma, a rancho é praticamente toda preservada).
A iniciativa nasce porquê uma referência pátrio ao mostrar a geração de crédito de carbono porquê uma oportunidade para fazendas que possuem áreas florestais conservadas, sendo uma escolha de receita que pode ser conciliada com atividades convencionais.
“Entendemos que o agronegócio é uma das principais atividades econômicas do país e, justamente por isso, ações de conservação e atividades produtivas podem e devem ser complementares”, diz Canassa.
Desbravando
Até pouco tempo detrás, os projetos de REDD+ do Brasil eram exclusividade da Amazônia – não só pela pressão de desmatamento no bioma, mas também porque eles só se viabilizavam economicamente em áreas amplas de floresta tropical, com muita vegetação em cima do solo e, consequentemente muito carbono.
A Votorantim já tinha desbravado o Denso, conseguindo enquadrar o bioma – pleno de particularidades, porquê muita biomassa aquém do solo – na metodologia da Verra, principal certificadora.
Na Bodoquena, 8,9 milénio hectares de preservação no Denso irão gerar mais de 45 milénio crédito de carbono referentes ao período de 2021 a 2023.
O Pantanal também tem seus próprios próprios. Há vários anos trabalhando na metodologia, a Reservas Votorantim, em parceria com a consultoria ambiental Eccon, está submetendo a metodologia a Verra e aguarda aprovação.
“A primeira questão é que um lugar em que secção do ano fica inundado. E tem uma questão que são os solos turfosos, com muita material orgânica e não temos muita pesquisa sobre isso”, diz Marcelo Stable, gerente da Eccon.
(Não à toa, os incêndios no Pantanal são difíceis de extinguir, porque é solo, rico em material orgânica, que pega queimada.)
Os mais de 36 milénio hectares em processo de certificação devem gerar, na primeira emissão, murado de 133 milénio créditos de carbono referentes ao período de 2021 a 2023.
A título de ilustração, se cada crédito for vendido a US$ 5, preço pelo qual tem rodado alguns projetos de REDD+, trata-se uma receita potencial de R$ 3 milhões.
Nem tudo, no entanto, são complicações. A regularização fundiária do Denso e do Pantanal é muito mais pacificada. “Pode ter questões a serem pontualmente resolvidas, mas é muito dissemelhante da situação do caos fundiário amazônico que nós temos no Brasil”, pontua Canassa.
Os resultados de conservação
As práticas adotadas na Bodoquena serão protótipo para as empresas que desejarem gerar créditos de carbono no Pantanal. A rancho monitora o queimada de maneira automática, por meio de um sistema de satélite que sobrevoa a espaço da propriedade e adjacências.
Quando um foco de queimada é identificado, o sistema gera um alerta e identifica o proprietário.
“Estamos monitorando isso há qualquer tempo e mais de 95% dos alertas que geramos até hoje são em áreas próximas a nossa propriedade e não na propriedade em si” diz Canassa.
“Conseguimos mostrar o resultado dos esforços de conservação. Se eu tenho, reincidentemente, queimada perto da propriedade e dentro da propriedade não tem zero, alguma coisa certa estamos fazendo.”
Além da secção ambiental, há preocupação também com a questão social – um fator crucial para os compradores de créditos de carbono.
“No Pantanal, vimos que tinha um paisagem importante que é a valorização das mulheres e a geração de cadeias produtivas inclusivas”, diz Canassa. No Pantanal, as famílias costumam morar nos chamados retiros, pequenos bairros dentro da rancho.
Há ainda a preocupação com a melhoria na ensino nas cidades. A Reservas já começou um programa importante em Miranda, na secção do Denso, em parceria com o Instituto Votorantim, que ajuda os gestores públicos a melhorar a qualidade do ensino.
Vencendo a resistência
Apesar de toda a crise do REDD+, a Reservas tem conseguido vencer a resistência.
Neste ano, vendeu todos os créditos de carbono do Denso, gerados no Legado Verdejante, em Niquelandia, num território da Companhia Brasileira de Alumínio, e também o PSA Carbonfloor, criado por ela e pela Eccon para remunerar a preservação na Mata Atlântica.
A empresa não abre preços, mas admite que os valores ainda ficaram aquém do necessário para competir, de vestimenta, com outras atividades econômicas.
As vendas foram feitas em secção para brokers e em secção diretamente para empresas, mormente de serviços.
Com “capital paciente”, o grupo deve continuar fomentando e levantando primeiro essa agenda.
“Na agenda climática, o que ouvimos sempre é que precisamos de atitude, projetos, engajamento, desejo, financiamento. E esse projeto entrega isso”, diz, Yuri Rogai, sócio fundador da Eccon.
“Colocar a conservação no protótipo de negócio é um duelo altíssimo. E, com mídia negativa, morosidade da Verra, duelo metodológico, muitas das empresas acabam quebrando no meio do caminho”, acrescenta. “Precisa de alguém com esforço, paciência e credibilidade, porquê a Reservas Votorantim. Não vamos parar.”