Plano Real, 30 anos: Carlos Vieira e o efeito desigual da hiperinflação no povo
Poucos bancos sentiram no seu dia a dia, e no de seus clientes, os efeitos da hiperinflação dos anos 80 e do início dos anos 90 uma vez que a Caixa Econômica Federalista. A instituição financeira tem 151 milhões de clientes, a maior secção deles das classes C, D e E. Enquanto a população bancarizada tinha chegada a aplicações financeiras, uma vez que o overnight, para combater a perda de valor do numerário, os mais pobres, naquela estação muito mais desbancarizados, tinham muita dificuldade de proteger seu poder de compra.
“O período inflacionário foi terrível para a gente”, diz Carlos Vieira, presidente da Caixa. “Eu me lembro de ter tido chegada à nossa tesouraria, e naquela estação a Caixa precisava recorrer a bancos de segunda traço para, em nome dela, fazer gestões no mercado de capitais para poder fechar sua tesouraria. Você imagina isso hoje em dia? É impossível pensar nisso.”
Vieira, que está na Caixa desde 1982, falou com a EXAME para a série próprio sobre os 30 anos do Projecto Real. Ele viveu na prática uma vez que o descontrole monetário afetava a operação do banco público. “Vivenciei dentro de uma mesa de operações da Caixa um momento em que a Caixa recorria a bancos de segunda traço para fechar suas posições. Hoje, a população de baixa renda tem na Caixa uma grande parceira. Nós estamos criando uma série de modelos de incentivo para trazer esse povo ainda mais para o mercado bancário”, afirma.
“Qual o grande papel da moeda? É instrumento de troca, de suplente e de valor. Com as moedas antes do Real, ninguém queria mais elas uma vez que instrumento de troca, porque instrumento de troca tem valor quando eu tenho ele comigo e não tenho pressa em trocá-lo. E todo mundo queria se desfazer da moeda. Você perdia a referência. E o valor da moeda é quando você quer entesourar, manter ela sob seu domínio. Portanto, sobre esses aspectos, eu acho que o Real trouxe de volta esse libido de você não querer rapidamente fazer as coisas. ‘Ah, eu quero trocar um coche.’ Formosura, vou esperar cá um ano, não tem problema. Antes do Real, você dizia assim: ‘Tenho que trocar meu coche hoje, senão minha moeda não vai permitir que eu troque o coche daqui a um ano. Tenho que fazer alguma coisa imediatamente.’ Era um processo de impaciência em relação a se desfazer da moeda. O Real teve um papel fundamental para chegar ao Brasil na forma uma vez que a gente tem hoje”
Segurança econômica
Para Vieira, o padrão de negócios do banco estatal, uma vez que tantos outros, naturalmente se beneficiou da firmeza econômica. “A Caixa é um banco que, do ponto de vista da duration das operações, você cria operações de longo prazo. Se você tem uma economia estabilizada, isso ajuda a manter a relação do ponto de vista de retorno dessas operações. A Caixa essencialmente trabalha com operações de prazos mais alongados”, diz.
Segundo ele, essa maior certeza econômica ajuda a precificar produtos para, ao longo do tempo, fazer o seu papel da Caixa e também ter o retorno necessário à sobrevivência da instituição. “Com operações de longo prazo num padrão econômico e monetário instável, criou-se um descompasso muito grande. Hoje, a Caixa tem um universo muito mais tranquilo do ponto de vista das suas relações do que no pretérito. Nós tivemos uma situação muito delicada quando, no ano do fechamento do BNH, poderia ter sido a Caixa a instituição a ser fechada naquela estação”, diz, referindo ao Banco Vernáculo de Habitação, idoso gestor do FGTS e extinto em 1986.
Projecto Real
O presidente da Caixa lembra que, à estação, era proveniente possuir alguma descrença com o projecto econômico, sobretudo por justificação do fracasso dos planos econômicos lançados até portanto.
“As tentativas de natureza heterodoxa não surtiram efeito. Elas surtiram um efeito de pequeno prazo, eram um voo de penosa. Na veras, todas essas medidas estancavam a inflação, mas uma vez que a inflação estava assentada por uma série de elementos estruturais da economia, ela voltava no ciclo seguinte. Era uma vez que se represasse o momento e depois ela estourava, usando um termo mais popular. E aí gerou uma descrença”, afirma Vieira.
Segundo ele, uma das lições do real foi adotar “toda uma tecnologia monetária”. “Houve uma construção feita a partir de uma compreensão de que o primeiro momento que teria de ser feito era desindexar da mente da população o efeito da chamada inflação inercial”, diz. “Ou seja, eu já criava uma expectativa de inflação, e ao haurir dentro do coletivo essa teoria, todo mundo já tinha uma expectativa: hoje eu pago por um cafezinho R$ 1, amanhã eu vou remunerar R$1,30 porque é mal se dá. Era uma lógica coletiva. Porquê quebrá-la?”
Nesse ponto, ele destaca a geração da URV, entre outras medidas, que serviram para ancorar e dar previsibilidade sobre a novidade veras monetária. “Um exemplo gritante disso: você comprava um traste, um muito de consumo, um eletrodoméstico, e você tinha uma tábua que era deflacionada. Ou seja, ela tirava já da expectativa que estava no preço um valor horizonte de ajuste”, diz Vieira.
Para Vieira, o Real faz secção de uma série de transformações positivas que a economia pátrio sofreu nos últimos 30 anos. “Ele trouxe firmeza monetária trouxe ao Brasil até hoje”, diz. Dentre essas transformações, avalia, está a consciência sobre a valimento da política fiscal uma vez que um todo e da responsabilidade fiscal dos estados e municípios, um processo de reformas que também foi iniciado no final dos anos 90 — e segue uma vez que tema até hoje. “Isso é uma questão pétrea do ponto de vista de gestão pública”, afirma Vieira. “O terceiro vista são as reformas que aconteceram e a última reforma, que é a reforma tributária, que tem um papel importantíssimo nesse contexto de firmeza e prolongamento do país. A reforma tributária, que era uma expectativa gerada naquela estação, só se concretiza com o governo atual, com uma relação entre o Parlamento e o governo para que ela se dê. Portanto, você imagina o ciclo que foi durante esses 30 anos para isso intercorrer.”
Vieira também refletiu sobre o horizonte da moeda, com a chegada do Real Do dedo (DREX) e a transformação do dedo do setor bancário e da Caixa. “Estamos na quarta vaga bancária. Tem um jornalista, o Brett King, que escreveu o livro ‘Bank 4.0’, onde ele define o que é esse universo de banco. Ele tem uma frase que diz assim: ‘Banking is everywhere, not a bank.'”, afirma Vieira. “Na Caixa, iniciamos um processo biométrico de reconhecimento facial e de biometria que está fazendo e já está fazendo com que milhões de brasileiros não precisem mais fazer o deslocamento para receber o mercê social pelo cartão físico.”
Para ele, o horizonte da moeda e do mercado de crédito está diretamente ligado à inovação tecnológica. “O mundo está sempre em evolução, em mudança e em progresso. A tecnologia vem uma vez que um grande solucionador de problemas,” afirma. Ele acredita que as transformações tecnológicas serão essenciais para resolver problemas ecológicos e econômicos atuais, destacando o potencial de prolongamento do crédito imobiliário no Brasil.
Projecto Real, 30 anos — série documental
Loyola foi entrevistado para a série documental “Projecto Real, 30 anos”, um projeto audiovisual da EXAME que ouviu alguns dos principais economistas, executivos e banqueiros do Brasil.
Entre os entrevistados estão:
- Armínio Rochedo, ex-presidente do Banco Mediano e fundador e chairman da Gávea Investimentos
- Carlos Vieira, presidente da Caixa
- Carolina Barros, diretora de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta do Banco Mediano
- Edmar Bacha, economista e sócio-fundador e diretor da Vivenda das Garças
- Elena Landau, ex-diretora do Banco Vernáculo de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e ex-presidente do Parecer de Governo da Eletrobras
- Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Mediano e sócio-fundador da Rio Invencível
- Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Mediano e sócio da Tendências Consultoria
- Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Mediano e mentor do Banco Master
- Jorge Gerdau, empresário e presidente do Parecer Superior do Movimento Brasil Competitivo (MBC)
- Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do Parecer de Governo do Bradesco
- Marcelo Noronha, CEO do Bradesco
- Pedro Malan, ex-ministro da Herdade
- Pedro Parente, ex-ministro da Vivenda Social e sócio da eB Capital
- Persio Arida, ex-presidente do Banco Mediano e do BNDES
- Orly Machado, fundador e presidente da C&M Software
- Roberto Campos Neto, presidente do Banco Mediano
- Roberto Sallouti, CEO do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME)
Assista às entrevistas já publicadas:
- Projecto Real, 30 anos: Jorge Gerdau e o ‘divisor de águas’ no desenvolvimento do país
- Projecto Real, 30 anos: Persio Arida e a falta de visão de horizonte para o Brasil
- Projecto Real, 30 anos: Luiz Carlos Trabuco Cappi e a moeda uma vez que um símbolo pátrio
- Projecto Real, 30 anos: Roberto Campos Neto e a luta por uma âncora fiscal de longo prazo
- Projecto Real, 30 anos: Roberto Sallouti e novo desenvolvimento econômico com foco em produtividade
- Projecto Real, 30 anos: Gustavo Franco e o combate à doença da hiperinflação
- Projecto Real, 30 anos: uma vez que a inflação pode derrubar o governo brasílico?
- Projecto Real, 30 anos: Carolina Barros, do BC, e a jornada do Real ao Pix
- Projecto Real, 30 anos: Edmar Bacha e o papelzinho azul que deu origem à novidade moeda