“Resiliência na saúde é se preparar para catástrofes e alterações climáticas”, diz Sidney Klajner
A saúde precisa ser resiliente, ser olhada de forma holística e ter estratégias para mourejar com os efeitos da crise climática, defendeu Sidney Klajner, presidente do Einstein, durante evento do Pacto Global da ONU no Brasil, em Novidade York. Hoje, as mudanças climáticas causam aproximadamente 250 milénio mortes adicionais por ano em todo o mundo, e embora todos nós já sintamos seus efeitos, as populações mais vulneráveis são as mais afetadas. “E os sistemas de saúde também sofrem — seja com catástrofes climáticas ou outros eventos extremos”, destacou Klajner em entrevista à EXAME.
O Brasil está pegando queimada e vive um cenário de ondas de calor e seca que já afetam regiões uma vez que a Amazônia, o Pantanal e o Selado — abrangendo mais de 5 milhões de km² do território brasílico (60%) — e a fumaça e o ar insalubre proporcionados pelas queimadas chegam a diversas cidades do país, agravando problemas respiratórios e doenças crônicas.
Segundo Sidney, neste caso estamos falando de ‘eventos perenes’ e transformações que vêm acontecendo, em que pelo menos 200 municípios estão com umidade inferior de 20%. “Toda e qualquer mudança no clima vai impactar negativamente a saúde. Atualmente, os prontos-socorros e os hospitais estão cheios por demandas respiratórias em uma idade que não é originário”, disse.
O Einstein, em uniforme fala com o governo e parceiros em todas regiões brasileiras, percebe uma sobrecarga no sistema, que já impede o atendimento adequado à população, principalmente às mais vulneráveis: elas já não tinham aproximação e agora passam a ter ainda menos, pois a situação deve se exacerbar.
No caso do que estamos vivendo, o aumento das temperaturas e baixa umidade levam à maior incidência de insetos transmissores de doenças, uma vez que a dengue; as mucosas ficam ressecadas e mais suscetíveis à contaminação por bactérias e vírus, levando a maior ocorrência de pneumonia e outras viroses.
Os mais afetados são crianças, idosos e pessoas vulneráveis — uma vez que aquelas que vivem em áreas de risco, quilombolas, povos indígenas e mulheres negras. Muitas vezes, elas não têm aproximação a serviços médicos, uma vez que, por exemplo, as populações ribeirinhas, que precisam pegar um navio e demorar horas para chegar a um atendimento. Atualmente, 22% da população brasileira está no sistema privado de saúde e 78% têm aproximação exclusivamente ao SUS.
Sidney explica que há também as catástrofes agudas, uma vez que as enchentes no Rio Grande do Sul, trazendo uma série de impactos: maior incidência de doenças crônicas e transmissíveis — uma vez que leptospirose, gastrointestinais e hepatites. Aliás, o fechamento de unidades e serviços de saúde leva à sobrecarga no sistema, e há também uma série de problemas relacionados à saúde mental, pelo traumatismo vivido pela perda de suas casas e entes queridos.
“Atualmente, o que estamos vivendo não é uma catástrofe aguda, uma vez que a do RS, que também afetou a produção de vitualhas e levou a deslocamentos forçados. Mas também há uma sobrecarga devido à subida demanda. A resiliência do sistema de saúde uma vez que um todo reside na preparação para mourejar tanto com eventos agudos, uma vez que essas catástrofes, quanto com alterações climáticas mais perenes”, destacou.
Para Sidney, nossa saúde depende das decisões que tomamos hoje, e a Organização das Nações Unidas ainda não olha para a taxa de forma holística para alavancar políticas. Com o propósito do Einstein de entregar vidas mais saudáveis, a relação entre saúde e mudanças climáticas está no meio das discussões, e a instituição tem trabalhado em projetos para promover resiliência nas regiões brasileiras.
São três frentes: primeiro, capacitando profissionais para que entendam o que está acontecendo e possam fornecer um atendimento melhor. Segundo, preparando a infraestrutura, inclusive a localização de unidades de saúde que sejam menos suscetíveis aos efeitos de uma mudança climática. E, por último, no que diz reverência ao desvelo da população, tentando ao sumo oferecer uma escolha para uma pessoa que hoje frequenta uma unidade de saúde que fechou, garantindo aproximação a um tratamento, por exemplo.
O Einstein, uma vez que uma instituição de saúde que investe em inovação, ensino e pesquisa, e que faz a gestão de cinco hospitais e 29 unidades de atenção primária em São Paulo, foi convidado, em 2022, para ser uma liderança do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 3 (ODS 3) da ONU, que é o objetivo de saúde e bem-estar, dentro do Pacto Global da ONU no Brasil. Atualmente, há um comitê de sustentabilidade estratégico junto à diretoria, que dita não só uma vez que a organização vai se posicionar, mas também agir.
Desde logo, tem tido a oportunidade de sentir os efeitos do clima, antever que tipo de comportamento é preciso ter nos serviços médicos e no fluxo do paciente, para que não falte leito para internação. “Estamos falando de uma preparação de um hospital que atende um determinado segmento da população. Agora, imagine que isso é necessário para todos. Nossa preocupação é trazer para a discussão que o sistema de saúde tem que estar resiliente para aquilo que ainda vai vir de forma ainda mais intensa, sem falar em pandemias — visto que as alterações climáticas também permitem o surgimento de vetores novos de vírus e bactérias. É preciso estar pronto”, complementou.
Recentemente, um projeto em parceria com a Fiocruz está criando verticais de saúde em populações de diferentes regiões, com foco nas mais vulneráveis, uma vez que quilombolas e ribeirinhos. “Olhamos para a exigência de saúde atual, saneamento, capacidade de aproximação. E na transversalidade da coleta de dados, junto à vertical da mudança climática, temos a oportunidade de entender uma vez que atuar na prevenção”, contou Sidney. Segundo ele, a iniciativa envolve satélites para a vaticinação de crises agudas do clima, permitindo movimentar as comunidades ou gerar alternativas para promover o aproximação.
Pensando em esquentar ainda mais a taxa e trazer soluções, o Einstein também está bastante presente em discussões em Belém, junto aos organizadores e líderes da COP30, onde a cidade amazônica será a sede do evento. Neste ano, também estão na COP29 no Azerbaijão.