O descolamento no mercado de crédito a empresas e às famílias no aperto monetário
Na pilar da semana passada, levantei a hipótese de que o consumo pode ter sido sustentado no último ciclo de subida da taxa Selic pela vagar na reação dos spreads (controlados pela inadimplência) nas concessões de crédito às pessoas físicas. Ao final do texto, lembrei que é importante verificarmos também o que aconteceu no mercado de crédito com recursos livres que é talhado às empresas. Curiosamente, nesse caso, o movimento no período 2021M3-2022M9 foi dissemelhante, uma vez que revela o gráfico inferior.
Assim uma vez que na semana passada, os dados se referem à diferença entre o spread bancário (medido com base no indicador de dispêndio de crédito e o dispêndio médio de captação em operações com recursos livres, mas na pilar de hoje, para empresas) e a taxa de inadimplência (percentual da carteira tardança superior a 90 dias). Também mantive a estrutura do gráfico: o eixo nivelado considera o número de meses do ciclo de subida da Selic e o eixo vertical representa o valor, em pontos percentuais, do aumento no spread em relação ao nível no início do ciclo.
Podemos notar que, no último ciclo de subida, os spreads bancários subiram mais do que a inadimplência, em média. Esse movimento foi semelhante ao ocorrido em 2014-2015 (embora mais intenso e prolongado) e diametralmente oposto ao ciclo de 2013-2014.
Qual informação que isso pode nos dar?
Uma vez que se trata somente de uma estudo exploratória, toda peroração deve ser avaliada com muito desvelo. Sou mais favorável à somente levantarmos hipóteses nesta lanço (que devem ser testadas utilizando o devido método científico): talvez o ruim desempenho do investimento associado no período esteja associado à essa resposta do mercado financeiro. Se isso for verdade, é verosímil que, ao registrarmos um incremento econômico um pouco supra do “pessimismo” de julho, o firmamento siga sendo o consumo. Isso tem claros impactos de limitado, médio e longo prazos, portanto é bom estarmos atentos. Por ora, são somente hipóteses. Mas revelam o curioso “descolamento” dos spreads para financiamentos às pessoas físicas e jurídicas. Dessa vez, as famílias se deram melhor. Vamos ver se isso continua.