Exclusão e pobreza, uma moeda cada vez mais comum na Argentina

ALESSIA MACCIONI

Mulher sem-teto se aquece nas ruas de Buenos Aires, em 10 de julho de 2024

ALESSIA MACCIONI

Jonathan Gómez varre a lajedo com afinco, acomoda seu colchão e acende um braseiro para matar o indiferente em uma rua da capital argentina, onde o número de moradores de rua dobrou em um ano, enquanto mais da metade da população do país está imersa na pobreza.

“Trabalho juntando papelão em uma economia muito difícil, cada vez mais complicada”, conta Jonathan, de 30 anos, à AFP. Ele trabalhava com gastronomia e construção até o ano pretérito, mas as oportunidades ficaram escassas e sua vida entrou em colapso.

Duas latas e um isqueiro são seu fogão improvisado; uma carroça é tudo o que possui.

“Temos três cobertores e um amplexo” contra o inverno, brinca Jonathan enquanto abraça sua companheira María de los Ángeles López, de 33 anos, que se apresenta porquê “dona de lar”.

Os dois estão deitados em um colchão a metros dos luxuosos edifícios de Puerto Madero e do polo gastronômico mais individual de Buenos Aires.

Posteriormente os primeiros três meses de governo do ultraliberal Javier Milei, o instituto de estatísticas da cidade de Buenos Aires reportou que o índice de indigência atingiu um sumo desde que começou a ser medido em 2015. A taxa dobrou para 16% em confrontação com o primeiro trimestre de 2023.

– ‘Debaixo do tapete’ –

Quatro sem-teto morreram de hipotermia nas últimas semanas em Buenos Aires em meio a uma vaga de indiferente. Muitos, no entanto, se recusam a dormir em abrigos públicos por temor de agressões.

“A polícia às vezes toma o colchão, as cobertas, para que você vá para um abrigo que mais parece uma prisão e para que as pessoas com moeda não vejam a crise econômica e social, para nos esconder debaixo do tapete”, afirma Jonathan.

Em nível vernáculo, a pobreza era de 41,7% no segundo semestre de 2023, segundo o instituto vernáculo de estatística, Indec, que divulgará sua próxima mensuração em setembro.

Mas projeções da Universidade Católica Argentina (UCA) a situam em 55%, um recorde que a Argentina atingiu em 2002 em sua pior crise econômica recente.

– Estrutural –

A crise atual empurrou a tira mais pobre para a indigência e vastos setores da classe média se tornaram os novos pobres, segundo a UCA.

A vácuo entre a renda familiar e o preço da cesta básica que define as linhas de pobreza e de indigência se aprofundou vertiginosamente em uma economia em recessão, com uma inflação de mais de 270% em 12 meses em junho e 7% de desemprego.

“Há uma perda nas famílias, não exclusivamente pela capacidade de compra dos salários, mas pelo desemprego dos chefes de família”, explica Eduardo Donza, pesquisador do Observatório da Dívida Social da UCA.

Há mais de duas décadas a pobreza está supra de 20%. “Temos uma pobreza estrutural, com a terceira geração de crianças e adolescentes nascidos na exclusão”, explica Donza.

Esse é o caso de Gabriela Costas, que, com 45 anos, vive nas ruas desde os nove. Nem governos de centro-esquerda nem de direita foram capazes de retirá-la da indigência.

“Vivi toda a minha vida nas ruas. Quando descartam coisas nas latas de lixo, as recolhemos e assim comemos”, conta ela à AFP.

Seu rebento Alexandre Barrales, de 18 anos, vive e cursa o ensino médio no lar de uma instalação, onde encontrou abrigo quando tinha 13 anos.

Alexandre ajuda sua mãe enquanto procura trabalho: “Com meu porvir penso em fazer um projeto para vender comida, montar uma barraquinha nas ruas, o que for verosímil para seguir adiante”, afirma.

– ‘Sopão’ solidário –

Enquanto o governo resiste a uma ordem judicial para partilhar toneladas de vitualhas a centenas de cozinhas comunitárias que colocou sob auditoria, estudantes universitários retomam uma antiga resposta para a inópia.

Em um galpão da Universidade Pátrio de Quilmes, na periferia sul de Buenos Aires, uma fileira de pessoas espera para receber um prato de “sopão”, segmento de uma antiga iniciativa solidária de distribuição de comida.

Trata-se do relançamento desse iguaria altamente proteico desenvolvido pela UNQ durante a crise de 2002 para oferecer proteínas a ordinário dispêndio para setores vulneráveis, em um país famoso por sua pecuária, mas que consome cada vez menos músculos por culpa do aumento de preços.

Posteriormente passar três anos fechada, a vegetal foi reativada há um mês e já recebe pedidos, inclusive de países vizinhos, porquê Brasil e Chile. Um sistema de apadrinhamento a custeia junto à universidade.

Hoje “voltamos a ter uma crise econômica, estamos em emergência fomentar com quase seis de cada dez argentinos aquém da risca da pobreza, o que faz com que muro de 27 milhões durmam com inópia”, disse à AFP Anahí Cuellas, diretora da vegetal onde é feito o “sopão”.

Em uma primeira lanço, produzirão 75.000 porções ao dispêndio de 680 pesos o prato (muro de R$ 4), mas se preparam para muito mais. “A urgência infelizmente vai crescer”, prevê Cuellas.

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