Futuro de refugiados é incerto em meio a desemprego e informalidade
POR BÁRBARA VETOS
“Sua mãe está cá com a gente esta noite, Marwan, nesta praia fria e enluarada, entre os bebês que choram e as mulheres que lamentam em línguas que não falamos. Afegãos, somalis, iraquianos, eritreus e sírios. Todos nós ansiosos pelo nascer do sol, todos nós com susto desse mesmo momento. Todos nós à procura de um lar.
Ouvi manifestar que somos indesejados. Que não somos bem-vindos. Que deveríamos levar nosso infortúnio a outra secção.”
O trecho, retirado do livro A memória do mar
, de Khaled Hosseini, foi inspirado na história de Alan Kurdi. Talvez o nome não seja familiar em um primeiro momento, mas a foto de seu pequeno corpo estirado na areia da praia na Turquia com certeza é. O refugiado sírio de 3 anos que tentava encruzar o Mar Mediterrâneo com sua família se tornou um símbolo da crise migratória de 2015 e trouxe à tona discussões que permanecem atuais.
Reconstruir a vida em um novo país, com idiomas, crenças e cultura completamente diferentes, já é uma missão difícil para quem escolhe fazê-lo. Para quem não tem escolha senão desbravar o ignoto, os percalços são ainda maiores. Essa diferença, que separa imigrantes de refugiados, dita, muitas vezes, a perspectiva de horizonte de cada um – ou a falta dela.
Um dos principais desafios para quem chega ao novo orientação é a dificuldade em encontrar trabalho. De convénio com um estudo de 2023 da ONG Visão Mundial, 67,4% dos imigrantes que vivem no Brasil (incluindo refugiados e os que chegam por vontade própria) não estão inseridos no mercado. Entre os que já estão empregados, 85,3% afirmam que não estão trabalhando no mesmo setor de experiência de seu país natal. Outros 16,3% atuam de maneira informal, segundo dados da Sucursal da ONU para Refugiados (Acnur) do mesmo ano.
Secção do tropeço de inserção no mercado formal vem por secção das empresas. Um levantamento feito em 2017 pela Universidade de Brasília (UnB) com 400 profissionais de recursos humanos mostrou que 91% deles admitem não reconhecer os procedimentos para a contratação de profissionais refugiados.
Outrossim, 63% pensam que a contratação de um refugiado é mais complexa do que de um brasílio e 48% acreditam que seus colegas não contratam refugiados por susto de auditorias do Ministério do Trabalho.
O cenário reflete a desinformação e o preconceito que ainda fazem secção da mentalidade de muitos recrutadores e que impactam diretamente na adaptação e inserção de refugiados no país. A término de aprofundar o matéria, André Naddeo, diretor-executivo da ONG Planeta de Todos – organização que provê assistência social a refugiados no Brasil –, comenta sobre pontos positivos em relação a outros países, discussões e desafios que precisam ser superados, e qual deve ser o papel das empresas nesse processo. Confira alguns trechos da entrevista.
ESG Insights – Quais os principais desafios que refugiados enfrentam no país e em quais pontos o Brasil se destaca em relação aos demais?
André Naddeo –
Existem muitas questões que permeiam o processo de protecção de refugiados e imigrantes no Brasil. Na Europa, por exemplo, quando eles chegam na Grécia ou em países porquê Itália, Reino Unificado, França, eles chegam de maneira proibido e têm que se sujeitar a rotas inseguras, movimentando toda uma máfia do tráfico de pessoas. Esse matéria é pouco falado, mas eles têm um poderio semelhante ao tráfico de drogas e armas.
Muitos países também não permitem o trabalho lítico e, por não terem uma documentação, os refugiados acabam recorrendo à informalidade para ter um verba no bolso.
“O limbo social é você não saber se você pertence àquele lugar, se vai conseguir erigir raízes ou aprender o linguagem”
O Brasil, em contrapartida, tem um ponto interessante: você consegue tirar o CPF, a carteira de trabalho e você tem mais possibilidades. Ao aprender português, essas pessoas conseguem vislumbrar um horizonte. O Brasil oferece essa solidez.
O que morosidade, e é o principal entrave do país, é o reconhecimento dentro do status de refugiado. É um processo que gira em torno de dois anos, às vezes mais ou menos. A partir do momento em que você é reconhecido porquê um refugiado, você já consegue narrar o tempo de quatro anos para o processo de naturalização.
Quando você faz a solicitação, você não tem nenhuma certeza se vai ser aceito, você vai precisar reunir uma série de documentos, provar sua história, e às vezes precisa até de uma assessoria jurídica. É um processo muito moroso, que gera uma impaciência e produz o que a gente labareda de limbo social.
O limbo social é você não saber se você pertence àquele lugar, se vai conseguir erigir raízes ou aprender o linguagem. Esse processo entre ser aceito e conseguir os documentos gera muita impaciência e cria um vácuo em relação à adaptação, integração cultural e, mormente, ao mercado de trabalho. Até porque essas pessoas lidam com uma questão de estresse pós-traumático muito poderoso. Isso também gera uma impaciência por uma renda fixa.
Mas os direitos de um imigrante/refugiado no Brasil são praticamente os mesmos de um brasílio. Você consegue fazer um contrato CLT, consegue remunerar seus impostos, remunerar seu INSS… Com duas diferenças importantes: não é provável votar, nem participar de concursos públicos.
Tendo em vista que somos um país feito de imigrantes, não vejo qualquer tipo de impedimento. Por que o imigrante/refugiado não pode fazer secção da sociedade de maneira efetiva, concorrendo a cargos públicos ou mesmo sendo candidato em eleições? Nesse ponto o Brasil ainda não avançou.
ESG Insights – Uma vez que se dá a questão do mercado de trabalho no Brasil?
André Naddeo –
O Brasil, mormente em função das emergências migratórias, abriu as portas do país. Muita gente começou a chegar, mas não existia um projecto de protecção real e factível.
“Foi um negócio muito à tendência brasileira, tentando resolver o problema quando ele já está acontecendo”
Não houve um planejamento para fazer a mediação cultural, para saber onde essas pessoas seriam levadas, quais empresas tinha intenção de contratar. Foi um negócio muito à tendência brasileira, tentando resolver o problema quando ele já está acontecendo. O Brasil ainda não tem muita experiência em relação aos programas de protecção.
Já existem muitas organizações que fazem isso, mas é preciso você gerar os alicerces para que essas pessoas consigam entrar no mercado de trabalho. Tudo isso a término de vislumbrar uma inclusão plena, estabelecendo raízes e reconhecendo o Brasil porquê sua própria região.
A integração cultural, social e laboral é um processo de médio, até de longo prazo. Ninguém aprende a falar um linguagem do zero. Tendo em vista que exclusivamente 5% da população fala inglês cá, faz-se necessária a fluidez do português no mercado de trabalho.
Se não houver um planejamento, a pessoa vai completar ficando ali em cargos de, no supremo, dois salários-mínimos e vai estagnar. Vai trabalhar para caramba, não vai ter tempo de aprender a língua, e vai completar sendo até um pouco excluída.
ESG Insights – Levando em consideração que o tema de variedade e inclusão vem sendo tão discutido pelas empresas, você acredita que elas estão preparadas para mourejar com a questão dos refugiados?
André Naddeo –
As empresas ainda não estão preparadas. Não existem programas suficientes de tirocínio da língua, por exemplo. Muitos refugiados têm que buscar cursos ou professores em caráter privado. É muito mais uma questão de resiliência deles do que um projecto de protecção pré-estabelecido que oferece essas ferramentas sociais que eles tanto precisam.
“A partir do momento em que a empresa levanta a bandeira da variedade, ela tem que realmente assumir esse papel, e não colocar exclusivamente posts nas redes sociais”
O mercado de trabalho precisa se habituar, precisa gerar ferramentas e se preparar mais para poder receber os refugiados/imigrantes e fazer essa mediação. Ou seja, que as empresas tenham, pelo menos, um pessoal para receber e falar numa outra língua enquanto esses imigrantes não falam português. Também seria interessante que houvesse alguns núcleos de integração, porque é importante que essas pessoas se sintam confortáveis.
Se você as deixar de quina, em uma função aleatória, vai ser difícil trasladar as capacidades em aspectos práticos e efetivos. A partir do momento em que a empresa levanta a bandeira da variedade, ela tem que realmente assumir esse papel, e não colocar exclusivamente posts nas redes sociais. Quando você assume essa responsabilidade, você tem que ir até o término.
Por muitas vezes, também faltam iniciativas por secção das empresas de consultarem pessoas que têm mais experiência em contexto migratório. Não necessariamente ONGs, mas há vários profissionais capacitados para falar sobre o matéria.
ESG Insights – O que as empresas podem fazer alojar essas pessoas e chupar esses talentos?
André Naddeo –
Se eu sou um gerente de RH, eu vou aproveitar o indumento de que imigrantes de várias nacionalidades estão no Brasil e vou colocar os meus funcionários para aprender a falar espanhol, inglês, gaulês. Todo mundo diz: “Hoje, quem não tem inglês no currículo fica para trás no mercado de trabalho”, logo por que as empresas não aproveitam isso para capacitar sua própria mão de obra, dando oportunidade profissional para essas pessoas?
“O Brasil é um país que não entende a valia da mediação cultural”
Além dos laços culturais, você também pode estreitar os laços comerciais. Uma pessoa de outra nacionalidade pode ser uma conectora para que a empresa se torne uma multinacional e para que consiga fazer mediações culturais com empresas de outros países.
O Brasil é um país que não entende a valia da mediação cultural. Os refugiados são tão bons em fazer isso, é uma coisa tão proveniente para eles, que isso também poderia ser aproveitado pelas empresas brasileiras, para que estabelecessem outros tipos de convénio e relações.
Qualquer companhia diversa e multidisciplinar vai estar na frente de outras. Só o indumento de você trabalhar em um envolvente assim, multicultural, já resulta em um proveito pessoal para o funcionário e estrutural para a empresa.
ESG Insights – Quais benefícios você enxerga na contratação de refugiados? O que eles podem oferecer no quesito competências e experiências de vida?
André Naddeo –
São pessoas muito qualificadas, que podem trazer valores e ideias muito diferentes. O Brasil, porquê um país de DNA imigrante, poderia aproveitar isso de uma maneira mais orgânica. Essas ondas migratórias nunca vão deixar de intercorrer e é interessante aproveitar essa mão de obra.
“Uma pessoa que é refugiada já traz para a empresa dois elementos que são fundamentais em qualquer ofício: resiliência e coragem”
Povos se movimentam ao volta do mundo por diversas razões há séculos, mas algumas pessoas ainda têm isso mal-entendido, porquê se fosse uma ameaço, ou porquê se eles fossem “roubar nossos empregos”, mas isso não é verdade. É mais do que comprovado que a mão de obra imigrante é uma força motriz para qualquer economia.
Embora a recepção deles seja boa no Brasil, eles ainda são muito subaproveitados enquanto mão de obra. Uma pessoa que é refugiada já traz para a empresa dois elementos que são fundamentais em qualquer ofício: resiliência e coragem.
Para você reencetar do zero, você precisa ter uma resiliência enorme, muita coragem para chegar em um país totalmente dissemelhante. São elementos de recursos humanos muito poderosos na seleção de um candidato.
OCDE: refugiados geram mais ganhos do que gastos aos países
Um estudo feito pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostrou que, entre os 25 países analisados – sendo 22 deles europeus, além dos Estados Unidos, Canadá e Austrália – no período de 2006 a 2018, o impacto fiscal dos imigrantes foi positivo em todos eles. O valor gerado em receita foi superior aos gastos públicos destinados a esses grupos.
O retorno veio por meio do pagamento de impostos e contribuições sociais diretas, impostos indiretos, contribuições sociais do trabalhador e outros, e resultou em um acúmulo de US$ 2,5 trilhões. Já as despesas com saúde, ensino, envelhecimento, e outros serviços de proteção social e públicos gerais foram de US$ 2 trilhões.
Um levantamento
anterior a esse, intitulado Macroeconomic evidence suggests that asylum seekers are not a “burden” for Western European countries
( Evidências macroeconómicas sugerem que os requerentes de asilo não são um “fardo” para os países da Europa Ocidental
, em tradução livre), realizado pela Escola de Economia de Paris, já havia constatado isso ao longo de 30 anos – de 1985 e 2015.
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