
Gol Show, Copa do Brasil e patrocínio no Vasco: Silvio Santos teve papel importante no esporte
Silvio Santos, que morreu neste sábado, 17, em São Paulo, não foi somente um empresário e apresentador de sucesso. No campo do marketing e publicidade, ele foi pioneiro em um período em que pouco se falava do tópico no Brasil, nos mais diferentes segmentos.
No esporte, Silvio Santos nunca foi um fã voraz. No período em que esteve no comando do SBT, foram raras as vezes em que o via esteve em concorrências de grandes competições ou que tenha priorizado programas, apesar de algumas tentativas.
Na dezena de 90, por exemplo, ele até tentou comprar os direitos de transmissão do Campeonato Brasiliano, mas não obteve sucesso. Decidiu, portanto, partir para cima da Despensa do Brasil, e conseguiu, com sucesso, em 1995, naquele que representou a primeira taça da história do Corinthians na competição.
Foi uma das guinadas de chave para que o SBT abrisse as portas para um novo tipo de mercado publicitário, visto que a audiência superou todas as expectativas, com médias que chegavam a 40 pontos, e com picos de 50 no Ibope.
Neste período, quem dominava as transmissões esportivas, em próprio no futebol, era a TV Orbe, seguida pela programação dominical da TV Bandeirantes, comandada por Luciano do Valle. Sem youtube e os agora famosos canais de streaming, os domingos na TV ensejo eram recheados pelo esporte e o entretenimento, com médias estrondosas de audiência.
Para Joaquim Lo Prete, Country Manager da Absolut Sport, dependência de experiências em esportes, marketing e entretenimento, isso fez um sentido oposto em relação às concorrentes. “O domingo do futebol só tem o tamanho de hoje porque o Silvio Santos ajudou a produzir o domingo das famílias brasileiras”, afirma. “Ele foi pioneiro ao entender a real dimensão do Brasil e a resolver dialogar com a variação da nossa população. Foi um comunicante e empreendedor que abriu mercados, unindo as pessoas na frente da TV”, complementa.
Por incrível que pareça, um dos primeiros programas esportivos com auditório na televisão brasileira foi obra de Silvio Santos, com a geração do Gol Show. A inspiração veio de um programa que já acontecia na França, em 1996.
A dinâmica do Gol Show era um jogo que simulava cobranças de pênalti. Um goleiro profissional, por vezes até espargido dos chamados grandes clubes, era chamado para tutorar os chutes, feitos por uma máquina tipo ‘canhão’. O primeiro programa foi ao ar no final de 1997, a plateia fazia o papel da torcida no auditório.
“Palato de lembrar do Gol Show. Um misto de programa de auditório, loteria e futebol, que durou pouco tempo, mas que mostrava essa tentativa do Silvio de trazer nascente esporte pra o trinômio em que ele trabalhava”, diz Bruno Maia, CEO da Feel The Match, diretor da série ‘Romário, o Rostro’, e técnico em inovação e inovação e tecnologia no esporte.
Para Bruno Maia, Silvio Santos desenvolveu sua notícia na teoria de que o que o brasílico quer de verdade: namorar, dar risada e lucrar qualquer verba. “Ele recombinou isso ao infinito, criando formatos que nunca se preocuparam com cultura erudita. Eu acho que é por isso que o futebol não foi uma prioridade pra ele. Talvez fosse um quarto elemento na lista dele e, de vez em quando, ele até tentava, comprava alguns direitos, mas nunca foi o sege dirigente. Afora o roupa de que custava dispendioso e era um território sempre escravizado pela Orbe”, acrescenta.
Ainda de tratado com o executivo da Feel The Match, um dos grandes pecados do cenário atual foi não ter Silvio Santos no auge de sua capacidade de negócios. “Nesse momento em que o futebol se redistribui, seria importante ter um Silvio Santos no auge da sua capacidade de negócios. Ele não teve um momento tão favorável pra entrar neste mercado porquê há agora. Hoje faltam pessoas com a visão e capacidade executiva e de negócios de notícia no nível da dele – e isso não fala mal dos executivos atuais, somente dá a dimensão de porquê ele era fora da curva e extraordinário”, analisa.
Apesar deste distanciamento do futebol, uma das maiores polêmicas envolvendo o apresentador teve a ver com o esporte. Na final da Despensa João Havelange de 2000, que levava o nome do Campeonato Brasiliano, o Vasco entrou em campo com o logotipo do SBT na camisa diante do São Caetano, causando espanto ao Grupo Orbe, detentor dos direitos de transmissão do futebol naquele período. Executivos do SBT garantem até hoje que Silvio Santos não ficou sabendo do ocorrido, apesar de empresários de outras emissoras também afirmarem que seria impossível ele não permanecer sabendo de um projecto dessas proporções.
“Uma das grandes polêmicas envolvendo o SBT, apesar que a emissora nega qualquer participação no incidente, foi o patrocínio pontual ao Vasco na final da Despensa João Havelange. Final transmitida pela Rede Orbe acabou gerando muita polêmica, pois a legislação na quadra não permitia o patrocínio de equipes de futebol por segmento de veículos de notícia”, relembra Fábio Wolff, sócio-diretor da Wolff Sports e técnico em marketing.
“Quem é da extensão de marketing esportivo ou até mesmo qualquer amante do esporte vai se lembrar da marca SBT na camisa do Vasco nos 2000, em plena transmissão da Orbe. Dizem que a cúpula da emissora não sabia de zero, mas ao longo dos anos a incerteza ficou, e sabendo da genialidade do Silvio, a incerteza ficará e sempre será tópico por muitos anos. Ele foi um grande inspirador para todos nós, um gigante, uma lição de empreendedorismo, de marketing, de inovação e de notícia”, salienta Renê Salviano, CEO da Heatmap e técnico em marketing.
“Com perfil pessoal reservado, lendas e histórias reais podem ser confundidas a ponto de ser aventuroso declarar se Silvio Santos sabia ou não da fatídica traquinagem de Eurico Miranda pra reptar a Orbe”, ratifica Ivan Martinho, professor de marketing pela ESPM.