Incêndios no Pantanal ameaçam cobra-d’água, único réptil exclusiva do bioma

A serpente d’chuva Helicops boitatá, que recebeu o nome em homenagem à serpente folclórica famosa por proteger as florestas dos incêndios criminosos, pode ser extinta justamente por conta do aumento dos incêndios no Pantanal. A espécie foi reconhecida pela ciência em 2019 e é única espécie de réptil que só pode ser encontrada do bioma.

Um item publicado na revista Biodiversidade Brasileira, feito por pesquisadores do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), relata que posteriormente episódios de queimada, a espécie só foi encontrada sem vida. Depois o período de emergência, a serpente não foi mais localizada, viva ou morta .

Entre 2020 e 2023, os cientistas realizaram levantamentos de répteis e anfíbios no Mato Grosso. Ao todo, foram contabilizados 1.707 registros de 45 espécies por meio de expedições de monitoramento e emergência – quando realizadas até 72 horas posteriormente o queimada.

Durante essas campanhas de emergência, serpentes porquê a Helicops boitata foram as mais encontradas entre os animais mortos, representando 77% dos registros de répteis . Nove espécies de répteis só foram registradas durante as emergências, sendo quatro lagartos e cinco serpentes.

De consonância com os pesquisadores, as carcaças das cobras indicavam morte por queimaduras ou ebulição dos corpos d’chuva onde residiam. O biólogo Leonardo Felipe Bairos Moreira, pesquisador do INPP, conta que até o monitoramento, poucos exemplares das espécies tinham sido encontrados. “O que vemos agora é que ela ocorre em um envolvente de difícil aproximação, que está extremamente vulnerável”, conta.

Espécie ameaçada

A cobra-d’chuva vive em corpos d’chuva, mas recorre a fendas no solo em períodos de seca, o que a torna vulnerável ao queimada. “Os incêndios no Pantanal, que deveriam ocorrer na transição para a estação chuvosa, agora ocorrem no auge da seca, quando há menos oferta de chuva e recursos para os animais”, alerta o biólogo Leonardo Felipe Bairos Moreira, do INPP.

Ele explica que mesmo que os animais sobrevivam ao queimada, precisam enfrentar um envolvente sem chuvas e com menos recursos. O impacto é visto na sua reprodução e alimento.

Prenúncio de extinção

A Helicops boitata foi avaliada porquê ameaçada de extinção segundo critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) e pode ser incluída na próxima Lista Solene de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção, conforme indica Carlos Abrahão, crítico ambiental do ICMBio.

Mas, os métodos atuais são insuficientes para medir o impacto totalidade do queimada e da seca sobre a biodiversidade de répteis e anfíbios no Pantanal, segundo Alejandro Valencia-Zuleta, responsável principal do item e pós-doutorando na UFG.

Valencia-Zuleta alerta que outras espécies endêmicas podem estar ameaçadas , embora sua detecção seja complexa. “Não encontramos tantos anfíbios quanto o esperado; eles podem ter sido carbonizados, predados ou estarem muito escondidos”, afirma. Ele reforça que há premência de métodos mais precisos para compreender a verdadeira extensão das ameaças que o queimada representa para a biodiversidade do Pantanal.

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