
Oncoclínicas reduz despesa e aumenta margem; CEO vê “ponto de inflexão”
A desenlace de um aumento de capital de R$ 1,5 bilhão liderada pelo Banco Master aliviou a alavancagem da Oncoclínicas, que passou de 3,9 vezes ao término do primeiro trimestre, beliscando o patamar que disparava vencimento antecipado de dívidas, para 2,5 vezes ao término de junho.
Mas, apesar do refrigério financeiro, o destaque do período veio do lado operacional. Com os planos de saúde um pouco menos estressados e iniciativas para melhorar o ciclo de cobranças, o percentual da receita bruta provisionado para descontos e glosas declinou, saindo dos 3,8% do primeiro trimestre para 3,1%, interrompendo um ciclo de altas que se alongava desde o terceiro trimestre do ano pretérito.
“Ainda estamos longe da nossa média histórica, de 2% a 2,5%, mas a situação está começando a melhorar”, diz o CEO Bruno Ferrari. “Oriente é um trimestre que marca um ponto de inflexão.”
O prazo médio do contas a receber cedeu, saindo de 118 dias ao término de março, de volta para os 101 dias, mesmo patamar do terceiro trimestre.
Há, no entanto um pormenor importante. A Oncoclínicas concluiu a renegociação de um saldo a receber de R$ 393 milhões em delongado da FERJ, estendendo o pagamento para 10 anos. Com isso, o valor devido passou a ser considerado um ativo não circulante e, portanto, excluída do conta. Incluindo essa renegociação, a conta passa para 121 dias.
No segundo trimestre, a Oncoclínicas registrou lucro líquido de R$ 29 milhões, queda de 17% em relação ao mesmo período do ano pretérito, pressionado ainda em grande secção pelas despesas financeiras elevadas. (Os recursos da capitalização entraram no término do mês e ainda não se traduziram em receitas financeiras e nem em mudança do perfil da dívida.)
A receita cresceu 16% na conferência anual, para R$ 1,6 bilhão – um ritmo menor que o do primeiro trimestre, quando avançou 26%, mas que reflete somente o prolongamento orgânico. No período, não foi contabilizada nenhuma novidade operação com mais de 12 meses.
O CFO Cristiano Camargo afirma que dois terços do prolongamento vieram de volume, com maior quantidade de tratamentos e vidas atendidas, enquanto restante veio de aumento de preços, em risco com a inflação média.
Controle de despesas
Num momento de mercado mais difícil nos últimos meses, com as operadoras de saúde com custos pressionados se financiando em grande secção com o balanço das prestadoras de serviço, a Oncoclínicas decidiu arrumar a morada.
Fez uma reorganização corporativa e nos seus centros de atendimento, eliminando áreas com sobreposições, resultando numa queda expressiva das despesas uma vez que percentual da receita, de 16,8% para 14,7%.
“É o início de um movimento que deve continuar acontecendo ao longo dos próximos trimestres”, diz Camargo, sinalizando há mais economias para serem capturadas.
Com isso, o EBITDA ajustado, desconsiderando efeitos do projecto de opção de ações, avançou 12% na conferência anual, para R$ 300 milhões. A margem EBITDA saiu de 19,7% para 19,2% – mas muito supra dos 16,5% do primeiro trimestre.
Uma mudança no núcleo de serviços compartilhados, que faz atividades uma vez que a cobrança dos atendimentos prestados, e passou a ser pilotado pela Accenture, com redesenho de processos e mais automatização, também ajudou a dar refrigério no fluxo de caixa.
Segundo a Camargo, a companhia saiu de queima de caixa operacional de R$ 55 milhões no primeiro trimestre para uma geração de caixa de R$ 35 milhões no segundo trimestre.
“Viemos de um período difícil, que nos deu muitas oportunidades de melhorar internamente e a mensagem é clara: estamos num trabalho contínuo de buscar mais eficiência e melhorar nossa alavancagem operacional”, diz Ferrari. “Melhoramos da porta para dentro e o mercado parece um pouco mais saudável da porta para fora.”
Pé no freio
Com o balanço um pouco mais folgado pós follow-on, a Oncoclínicas segue com o pé no freio: a meta é levar o endividamento das atuais 2,5 vezes para 2 vezes ao término do ano, considerando o EBITDA do quarto trimestre anualizado.
Isso envolve uma postura mais conservadora em parcerias e expansões. No segundo trimestre, a Oncoclínicas desembolsou R$ 76 milhões em capex de manutenção e expansão, refletindo ainda projetos que já vinham sido fechados e devem ser entregues até o término do ano.
“A partir de portanto, será praticamente o capex de manutenção”, afirma Camargo, sem espetar qual é o patamar de investimento para manter as operações rodando muito.
No segundo trimestre, pesou sobre o balanço também um pagamento inacreditável de R$ 94 milhões feito à construtora Cedro, que está fazendo um projeto de built to suit para um cancer center da companhia.
De convenção com Camargo, trata-se do avanço de aluguéis já previstos no contrato de longo prazo. “A premissa foi conseguir melhores preços de aluguel pelos avanço e fazer o pagamento antes da ingressão em operação do cancer center, quando ele precisa ‘rampar’ [ganhar tração]”, afirma.
O pagamento inacreditável a Cedro já tinha aparecido no primeiro trimestre – quando a queima de caixa surpreendeu negativamente o mercado –, chamando atenção de alguns investidores, que acreditavam que todo o capex na frente seria feito pela construtora, com início do pagamento da Oncoclínicas somente seis meses antes da entrega, prevista para 2026.
De convenção com o CFO, o grosso dos pagamentos previstos em contrato já foi feito e pode possuir somente alguma parcela mais residual para o terceiro trimestre.
Entre abril e junho, houve ainda desembolsos de R$ 149 milhões para pagamento de aquisições e parcerias. Considerando a variação da dívida líquida, o consumo de caixa totalidade do período foi de R$ 380 milhões.