
Governo Milei se dissocia da responsabilidade por aumento da pobreza na Argentina
Desempregada, Viviana Quevedo, 57, chega ao hotel onde dorme com a filha em Buenos Aires, no dia 25 de setembro de 2024
LUIS ROBAYO
O governo do presidente prateado, Javier Milei, se dissociou da responsabilidade pelo salto clivoso da pobreza no país, que aumentou para 52,9% da população, declarou um porta-voz presidencial nesta sexta-feira (27).
O número “é a consequência de 20 anos de populismos e devastação (…) Pegamos o sinistro e o estamos corrigindo”, avaliou o porta-voz Manuel Adorni durante uma coletiva de prensa.
A pobreza na Argentina alcançou 52,9% da população no primeiro semestre de 2024, um possante aumento de 11,2 pontos percentuais em relação ao mesmo período de 2023, informou nesta quinta-feira o estatal Instituto de Estatísticas.
A indigência também aumentou 6,2 pontos, situando-se em 18,1%.
O porta-voz assegurou que, segundo dados não divulgados do ministério do Capital Humano, a pobreza atingiu “picos máximos de quase 55% no primeiro trimestre” e, com base nesta asseveração, sustentou que o governo tinha conseguido reduzi-la no trimestre seguinte.
“Vínhamos do barranco”, disse, relativizando o impacto social das medidas de ajuste fiscal do governo.
Nos primeiros três meses do ano, a Argentina registrou um superávit fiscal de 0,4% do Resultado Interno Bruto, embora às custas de uma contração que fez o PIB tombar 1,7% no segundo trimestre em conferência com o anterior, aprofundando a recessão e o desemprego.
Consultado se os números da pobreza farão calibrar medidas futuras, Adorni ressaltou que “o grande ajuste já foi feito”.
“Hoje, esse ajuste vai ser muito cirúrgico, superfície por superfície”, explicou. No entanto, esclareceu, para o governo, “a motosserra não tem termo”.
A motosserra foi um símbolo da campanha eleitoral de Milei para promover sua política de rigor fiscal.
“Tudo o que pudermos trinchar, vamos cortando até o último dia da nossa existência no nosso governo”, ressaltou Adorni.
Milei chegou ao poder em dezembro de 2023 com uma popularidade muito subida, mas começou a tombar nos últimos tempos.
O índice de crédito no governo está em 2,16 pontos em uma graduação de 0 a 5, o nível mais reles até agora, segundo um estudo da privada Universidade Torcuato Di Tella.