Por que libaneses estão buscando abrigo na Síria?

Em uma reviravolta geopolítica que poucos previam, murado de 500 milénio libaneses, incluindo uma grande parcela de refugiados xiitas, estão buscando refúgio na Síria.

O país, que ao longo da última dezena foi o epicentro de um dos maiores deslocamentos de refugiados do mundo, agora é visto uma vez que um porto seguro para aqueles que fogem da guerra e da instabilidade no Líbano. Desde setembro, muitos têm atravessado a pé a fronteira, segundo reportagem da The Economist.

Para os refugiados sírios que já residiam no Líbano, a recente crise representa uma chance de retorno ao seu país de origem. Para os libaneses, principalmente os xiitas, a Síria parece oferecer uma segurança relativa.

Secção desse fluxo migratório é incentivado pelo governo de Bashar al-Assad, que facilita a ingressão dos refugiados ao isentar libaneses da taxa de US$ 100 (R$ 575) na fronteira, enquanto mantém barreiras para os sírios exilados, considerados ameaças potenciais ao regime.

Conflitos sectários e segurança precária

O movimento de libaneses para a Síria reflete o agravamento das condições econômicas e sociais no Líbano. A desvalorização da libra libanesa e a falta de serviços básicos tornam a vida insustentável para muitos. Em contraste, na devastada Síria, mantimentos distribuídos pela ONU e aluguéis baixos, mesmo com infraestrutura limitada, proporcionam uma quesito mais conseguível para aqueles que perderam tudo.

O governo de Assad vê nessa população de refugiados uma oportunidade de reconfiguração demográfica que favoreça seu controle, substituindo a maioria sunita por minorias mais favoráveis ao regime.

Ao mesmo tempo, a presença de libaneses xiitas atrai tensões regionais. Muitos deles são suspeitos de relação com o Hezbollah, o que desperta o interesse de Israel, que vê nessa transmigração uma potencial prenúncio. O aumento da presença militar israelense na Síria, com ataques aéreos e incursões, expõe ainda mais os refugiados aos perigos da guerra. Os próprios sírios veem o fluxo libanês com preocupação, temendo que a ingressão dos vizinhos traga a guerra para dentro de suas fronteiras.

A tensão cresce entre os sírios

O ressentimento entre a população sítio também é visível. Muitos sírios lembram das ações do Hezbollah durante a guerra social do país, onde a milícia libanesa interveio diretamente, transformando cidades inteiras em campos de guerra e expandindo a produção de captagon, uma substância ilícita que se tornou a principal exportação da Síria.

Em Homs, cidade próxima à fronteira libanesa, uma moradora alertou: “Vocês não conseguem se proteger, logo não tragam o conflito para nós.”

Diante das dificuldades na Síria, uma segmento dos refugiados opta por seguir adiante para o Iraque, onde os laços sectários com a comunidade xiita são mais fortes. Em cidades uma vez que Karbala e Basra, a presença de libaneses se torna cada vez mais generalidade, e muitos encontram abrigo em imóveis adquiridos pelo Hezbollah durante o auge do mercado imobiliário iraquiano.

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